O secretário Inácio Arruda fala sobre o Plano Estadual de Ciência e Tecnologia do estado, conhecido como Ceará 2050
O Plano Estadual de Ciência e Tecnologia do Ceará está a caminho. O secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do estado (Secitece), Inácio Arruda, acredita que esse planejamento é importante para alavancar a produção de inovação e o desenvolvimento de tecnologias locais. Nesse cenário favorável à CT&I, ele também celebra a decisão da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos em instalar um escritório regional no Ceará. Nessa entrevista Arruda fala ao Nossa Ciência sobre o plano estadual chamado Ceará 2050.
Nossa Ciência: O Governo do Ceará está trabalhando no Plano Estadual de Ciência e Tecnologia. De que maneira isso vai afetar a relação entre as três hélices que movimentam a ciência – indústria, academia e governo?
Inácio Arruda: Esse já é o segundo Plano de Ciência e Tecnologia. Nós fizemos um plano que foi concluído em 2010, passou a ser executado em 2011 e vai até 2020. Estamos iniciando o segundo plano com uma expectativa de tempo mais larga. O Estado vai fazer um plano de desenvolvimento estadual chamado Ceará 2050. Para imaginar o Ceará 30 anos adiante, é necessário raciocinar a curto, médio e longo prazo. Isso tem sido feito por grandes companhias, por alguns países…Lembro de uma famosa reunião na China, entre o exército do povo, o governo, e a academia, em que fizeram um plano de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico da China para 50 anos. E, mesmo com todo o tumulto que o mundo vivia e vive atualmente, o País foi pondo em prática esse projeto. Medellín, mais próximo de nós, na Colômbia, fez um plano de 30 anos. Dentro daquele estado, em que a cidade está inserida, perceberam que Medellín era a cidade mais limpa e mais educada da Colômbia e insistiram nesse objetivo, que tem sido exitoso. Eles têm conseguido estabelecer uma cultura de urbanidade, de defesa do meio ambiente, de sustentabilidade muito adequada, um programa vasto de mobilidade urbana… A cidade se tornou um grande centro universitário, com elevados índices de alfabetização, de inovação e de desenvolvimento científico e tecnológico. Então, planejar áreas estratégicas para a cidade e para o Estado tem um significado muito grande.
NC: Qual o ponto de partida para o Plano Estadual de C,T&I?
IA: Para esse segundo plano, nós partimos de uma palestra do governador Camilo Santana, em que ele elencou as expressões “ciência, tecnologia e inovação” e “Ceará do conhecimento”. Há um pensamento de que nós precisamos dar um salto no Estado. Temos muitas carências, temos uma escassez hídrica muito grande, temos terras boas, mas que precisam de muita ciência e tecnologia para serem aproveitadas, uma faixa litorânea com um potencial muito grande de riquezas do mar, mas o aproveitamento adequado só é possível com o conhecimento e isso só é viável com investimentos na área científica, tecnológica e de inovação. O Estado não pode desenvolver um projeto como esse sozinho. Embora ele seja o principal indutor, ele tem que ter uma base material pronta e, digamos que isso nós conseguimos alcançar.
Temos, hoje, seis universidades públicas – três federais e três estaduais, três universidades privadas razoáveis, além de muitas outras unidades no setor privado. No território cearense, temos duas Embrapas – a Embrapa Caprinos e Ovinos em Sobral, na Zona Norte, e a Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza. Temos uma unidade da Embrapa que atua no Ceará, mas que está na Paraíba, a Embrapa Algodão, que faz muitas experiências no Estado. Temos o Instituto Federal que se expandiu dentro da política desenvolvida por Lula e por Dilma – atualmente são 31 unidades no interior e mais uma em Fortaleza, contamos com 116 escolas técnicas profissionais estaduais, o que proporcionalmente à população, nos possibilita dizer que temos a maior rede de escolas técnicas profissionais estaduais do País. Isso nos dá uma base que inclui uma participação grande do setor público e uma participação grande do setor privado. Com essa estrutura, você se liga com as indústrias e com as empresas para informar que aquilo que o Mestre Bernardo fazia há 50 anos nas oficinas da Escola Técnica Federal, quando quebrava um navio no Porto do Mucuripe e para substituir uma peça era necessário esperar um ano com um prejuízo enorme – nós levávamos a peça e fazíamos essa substituição lá. Ele era um mecânico autodidata que conseguia fazer a peça sem precisar esperar esse prazo de um ano. Esse setor industrial incipiente há cinquenta anos não tinha muita alternativa a não ser se valer dos mestres que tinham o conhecimento prático acumulado e serviam de solução para os problemas objetivos das empresas. Hoje, com as facilidades que nós temos de comunicação em alta velocidade e com a base material concreta de universidade e laboratórios, você tem tudo para que a gente possa produzir inovação em nosso estado. E isso só acontece se essa base concreta se juntar ao setor produtivo, que tem, no Ceará e no Nordeste, um grande número de empresas com condições de desenvolver tecnologias e não apenas de importá-las – você pode desenvolver tecnologia aqui.
NC: O papel de investir em ciência é do governo?
IA: Não, é do Estado e nenhum estado soberano vai sair disso. Só um estado subordinado completamente é que acha que isso não tem importância. Um estado soberano vai investir pesadamente em ciência e tecnologia.
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