Bem ou mal na foto? Geral

quarta-feira, 15 janeiro 2025
Com melhor distribuição de recursos, instituições nordestinas podem ter melhores índices (Imagem: Agência Fapesp)

Apesar dos poucos recursos, instituições nordestinas respondem por 20% entre as 10 mais produtivas em ciência e tecnologia quântica no Brasil

Relatório sobre A produção científica mundial em ciência e tecnologia quânticas e a participação brasileira – 2014/2023, da Agência Bori e da Elsevier analisou os dados dos 24 países que mais publicaram estudos em ciência e tecnologia quânticas no mundo, entre eles o Brasil. Foram considerados todos os tipos de publicações científicas, incluindo artigos, editoriais, revisões e outros.

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No topo das pesquisas na área quântica, estão China e Estados Unidos. Juntos, os dois países concentram metade da produção de conhecimento nessa área em 2023. China e EUA também lideram a ciência mundial em todas as áreas do conhecimento.

O Brasil ocupa a 21ª posição no mundo em 2023. Ao todo, 121 instituições brasileiras tiveram publicações na área no período de 2014 a 2023. Instituições do Sudeste como USP, Unicamp e UFRJ têm a maior produção. Do Nordeste, cinco instituições aparecem entre as 20 com maior produtividade: UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), UFC (Universidade Federal do Ceará), UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e UFAL (Universidade Federal de Alagoas).

O portal Nossa Ciência procurou cientistas que trabalham em ciência e tecnologia quânticas em instituições nordestinas para ouvir sua avaliação sobre os dados do relatório, especificamente acerca da situação das instituições do Nordeste. A eles foi enviada a pergunta a seguir:

Nossa Ciência: Das 20 instituições brasileiras mais produtivas na área de ciência e tecnologia quânticas, cinco estão no Nordeste. Nossas instituições nordestinas estão bem ou mal na foto quando o assunto é ciência quântica?

Acompanhe as respostas dos quatro cientistas entrevistados por Nossa Ciência.

“É notável o destaque que nossas universidades estão conquistando”

(Foto: Guilherme Bezerra/Cedida)

“Quando comparamos os investimentos, o número de pesquisadores e a infraestrutura do Nordeste com os do Sudeste, é notável o destaque que nossas universidades estão conquistando. Tudo indica que a participação do Nordeste nessa área continuará a crescer significativamente. Recentemente, o Senai Cimatec, em Salvador, recebeu um aporte de R$ 60 milhões para a criação de um Centro de Competências em Tecnologias Quânticas. A UFPE anunciou a inauguração do Instituto Quanta, com um financiamento da Finep no valor de R$ 15 milhões. O estado da Paraíba está planejando a inauguração de um novo centro de computação quântica, e, em dezembro de 2024, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação anunciou um investimento de R$ 8 milhões em parceria com a FAPERN para o Instituto Internacional de Física (IIF) da UFRN. Esse investimento certamente impulsionará ainda mais o desenvolvimento da área em nosso estado.

Com essa visão estratégica do Governo Federal e das agências de fomento para o crescimento do Nordeste, estou convencido de que nossa contribuição para as tecnologias quânticas decolará nos próximos anos.”

(Rafael Chaves Souto Araújo, Líder do grupo de pesquisa em Informação Quântica do Instituto Internacional de Física, da UFRN)

Disparidades e concentração regional

(Foto: Cedida)

“Antes de responder, vale a pena olhar as disparidades e a clara concentração regional. Das 10 instituições citadas, oito estão no Sudeste (SP-RJ-MG) e as outras duas no Nordeste. Se fizermos um pouco de numerologia, e se 20% da produção cientifica no tema está no Nordeste, considerando que os investimentos em recursos humanos e financeiro são bem menores no Nordeste do que no eixo SP-RJ-MG, diria que estamos bem. Mas, poderíamos (não só o Nordeste, mas o País) estar bem melhor se houver uma desconcentração regional de recursos humanos e financeiros para investimento em CT&I, bem como outros investimentos.”

(Anderson Stevens Leônidas Gomes, presidente da Academia Pernambucana de Ciências e membro titular da Academia Brasileira de Ciências)

“Estão bem para o contexto”

“Estão bem, para um contexto de dependência quase total de recursos federais. O financiamento em São Paulo é bem melhor estrutura e também tem bem maior volume. O Rio também passou por uma boa fase com suas instituições estaduais nos últimos dez anos.”

(Daniel Felinto Pires Barbosa, coordenador dos projetos Instituto de Tecnologias Quânticas da UFPE)

Indicativo de relevância

(Foto: Cedida)

“Eu diria que as instituições do Nordeste estão “bem na foto”, considerando o cenário geral da pesquisa em ciência e tecnologia quânticas no Brasil. Estar entre as 20 instituições mais produtivas em uma área de alta especialização como essa já é um indicativo de relevância científica e competitividade. Mesmo diante das desigualdades históricas no financiamento e na infraestrutura de pesquisa que afetam o Nordeste em comparação com outras regiões, como Sudeste e Sul, temos duas instituições do Nordeste entre as 10 mais produtivas e cinco entre as 20 principais do Brasil demonstra que a região tem grupos de pesquisa de excelência.

No geral, o Nordeste está bem posicionado no contexto da produção científica em ciência quântica no Brasil. No entanto, é bom reforçar que, com políticas públicas mais direcionadas, investimentos regionais mais robustos e estratégias de desenvolvimento, essas instituições poderiam alcançar ainda mais relevância e protagonismo, tanto no cenário nacional quanto internacional.”

(Roner Ferreira da Costa, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da UFERSA)

O tema da ciência e tecnologia quântica deve ser central na área acadêmica em 2025, com a proclamação, pela ONU, do Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica (IYQ). No ano que vem completam-se 100 anos do estabelecimento da mecânica quântica como área de conhecimento científico.

Leia também: Ciência e tecnologia quânticas têm que estar nas prioridades estratégicas do Brasil

Mônica Costa

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