Pesquisadores da UFPE finalizaram primeira etapa do estudo que envolve a diversidade genômica do novo coronavírus
O grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) envolvidos no sequenciamento genômico do novo coronavírus (Sars-CoV-2) finalizou, em dezembro de 2020, a primeira fase do projeto “Diversidade genômica de cepas de Sars-CoV-2 circulantes no estado de Pernambuco”. Nessa primeira etapa, foram sequenciados os genomas completos de 138 cepas procedentes de 39 municípios de todas as mesorregiões de Pernambuco, associadas à “primeira onda” da Covid-19 no estado. Com a conclusão dessa primeira etapa do projeto, Pernambuco passa a contar com 164 genomas completos depositados no Global Initiative on Sharing All Influenza Data (Gisaid), principal repositório de sequências de Sars-CoV-2 no mundo, tornando-se o quarto estado brasileiro mais bem representado nessa base de dados.
Na segunda etapa do projeto, que terá início na primeira semana de fevereiro, serão sequenciadas mais 600 cepas pernambucanas de Sars-CoV-2, sendo que 200 serão geradas a partir de recursos concedidos pelo Ministério Público do Trabalho de Pernambuco, Ministério da Educação e UFPE e 400 resultarão da participação da instituição em um projeto financiado pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), coordenado pelo pesquisador Guilherme Oliveira. O projeto conta ainda com a participação de várias outras instituições de ensino e pesquisa brasileiras. O objetivo principal dessa fase será investigar se linhagens potencialmente mais agressivas (P.1, B.1.1.7 e B.1.351, inicialmente identificadas no Brasil (Amazonas) Reino Unido e África do Sul, respectivamente, já circulam em Pernambuco.
Foto: Divulgação
O estudo conduzido pela UFPE representa uma importante contribuição para o conhecimento da variabilidade genética do Sars-CoV-2 no Brasil, tendo em vista o número ainda limitado de sequências genômicas completas de cepas brasileiras depositadas nos bancos de dados públicos mundiais. Segundo o coordenador do projeto e professor do Departamento de Genética, Valdir Balbino, o Brasil, apesar do elevado número de casos (8.871.393) e de óbitos (217.664) decorrentes da Covid-19, pouco tem contribuído com o esforço mundial para o sequenciamento genômico de cepas do novo coronavírus.
Quando se aplicam os critérios de qualidade recomendáveis em estudos de detecção de mutações no novo coronavírus, o número de genomas completos de cepas brasileiras depositados no (Gisaid) é de apenas 1.309 (ou 14,8 genomas para cada 100.000 casos). Ainda segundo Balbino, a distribuição dos dados genômicos no Brasil é notadamente assimétrica, uma vez que a imensa maioria das sequências disponíveis (81,7%) correspondem a cepas isoladas em apenas três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).
Na primeira etapa do projeto, foram identificadas 20 variantes distintas, destacando-se pela frequência as linhagens B.1.1.119, B.1.1.28 e B.1.1.33. Dentre as demais, chamou a atenção dos pesquisadores a identificação da linhagem P.2 em três municípios do Agreste pernambucano. Essa variante, assim como a P.1 recentemente identificada em Manaus e que vem sendo fonte de preocupação dos órgãos de saúde internacionais, é derivada da linhagem B.1.1.28. A variante P.2, inicialmente identificada no Rio de Janeiro e posteriormente associada a casos independentes de reinfecção pelo Sars-CoV-2 no Brasil, já é a quarta linhagem mais comum no país.
Análises realizadas com as cepas pernambucanas revelaram a presença de um total de 506 mutações, sendo que 54 (aproximadamente, 10,7%) das variações foram observadas no gene Spike. Estas mutações resultam em 29 substituições de aminoácidos, destacando pela importância as mutações E484K e V1176F, que estão associadas a cepas que muito provavelmente apresentam maior capacidade de disseminação e de escape do sistema imunológico.
“Com a continuidade deste projeto, a UFPE cumprirá a sua missão institucional de produzir dados relevantes e de alta qualidade científica, contribuindo de maneira efetiva para a ampliação do conhecimento acerca da variabilidade genética do agente etiológico da Covid-19”, explica Balbino.
Fonte: Ascom da UFPE
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