As florestas regenerantes e a recuperação de espécies Meio Ambiente

quarta-feira, 20 março 2019
Foto: Rodrigo Solon Souza-Eco.org

Estudo, que conta com professores da UFPE, mostra que as florestas recuperam rapidamente a riqueza de espécies, mas lentamente a composição de espécies

Poderiam as florestas secundárias ajudar a reverter a perda de espécies e trazer as espécies nativas de volta? Essa é a pergunta que o estudo “Biodiversity recovery of Neotropical secondary forests” (“Recuperação da biodiversidade de florestas secundárias neotropicais”) busca responder. O trabalho, que conta com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi publicado no dia 6 de março na revista Science Advances.

De acordo com o estudo, as florestas tropicais abrigam mais de 53 mil espécies de árvores, o que representa 96% da diversidade de árvores do mundo. Estas florestas hiperdiversas estão ameaçadas pelas altas taxas de desmatamento causadas principalmente pela expansão agropecuária. Quando um pasto ou um cultivo agrícola é abandonado, ele pode ser rapidamente colonizado pela floresta que regenera naturalmente, as chamadas florestas secundárias.

“O artigo é produto de uma rede de pesquisadores de diversas instituições nacionais e internacionais. O nosso grupo de pesquisa investiga a caatinga (floresta tropical sazonalmente seca)”, explica a professora Jarcilene Silva de Almeida Cortez, do Departamento de Botânica, que fez parte da equipe juntamente com o mestre em Biologia Vegetal pela UFPE George Cabral e o professor Everardo Sampaio, aposentado do Departamento de Energia Nuclear.

Florestas secundárias são aquelas que regeneram naturalmente após a remoção da floresta original para uso pelo homem (normalmente cultivos agrícolas, pastagens e agricultura de corte e queima). Atualmente mais da metade das florestas tropicais do mundo não são florestas maduras bem conservadas, mas são florestas secundárias em processo de regeneração. Na América Latina, tais florestas cobrem 28% da zona tropical.

A caatinga é uma floresta tropical que sazonalmente fica seca, explica a professora Jarcilene Cortez, da UFPE. Foto: Embrapa.

Cooperação internacional

A pesquisa foi feita por uma rede internacional de ecólogos da América Latina, Estados Unidos e Europa, liderada por pesquisadores da Universidade de Wageningen. Essa rede inventariou as árvores de 1.800 parcelas em florestas tropicais localizadas em 56 áreas de estudo de 10 países da América Latina. Eles compararam os dados de campo das florestas secundárias de diferentes idades com o de florestas maduras bem conservadas adjacentes. O estudo mostrou que o número de espécies (riqueza) nos fragmentos de florestas regenerantes se recupera em poucas décadas, mas que a composição de espécies pode demorar séculos para se assemelhar às florestas maduras originais ou nunca se recuperar. “Ficamos impressionados ao descobrir que pode levar apenas cinco décadas para se recuperar a riqueza de espécies que normalmente é encontrada em florestas maduras bem preservadas, e que em apenas 20 anos de regeneração 80% do número de espécies já está presente”, afirmou a líder do estudo, Danaë Rozendaal. De acordo com a pesquisadora, “este resultado enfatiza a importância das florestas secundárias para a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.”

Apesar da rápida recuperação do número de espécies, o estudo também mostra que as espécies de árvores encontradas nas florestas regenerantes é normalmente diferente daquelas encontradas nas florestas maduras adjacentes. Após 20 anos de regeneração, apenas 34% das espécies são as mesmas encontradas nas florestas maduras. Portanto, pode demorar séculos até que as florestas secundárias recuperem as mesmas espécies da floresta original, se isso realmente chegar a acontecer. O professor Lourens Poorter, líder da rede 2ndFOR, diz que “ainda que as florestas secundárias jovens tenham papel importante na conservação de espécies em paisagens modificadas pelo homem, elas não abrigam muitas das espécies encontradas nas florestas maduras bem conservadas.” Portanto, ele recomenda fortemente que “ambas as florestas, secundárias e maduras, devem ser preservadas para garantir a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem”.

Este estudo singular tem implicações diretas para políticas públicas e para a prática da restauração florestal. A regeneração natural tem sido vista como uma forma ecologicamente eficiente de se recuperar grandes extensões de florestas com menor custo do que plantios de mudas. Realmente a regeneração natural pode ser o método ideal para se atingir as metas de restaurar 350 milhões de hectares de florestas até 2030, como definido no acordo internacional Bonn Challenge. “É uma ótima notícia que a regeneração natural pode restaurar a biodiversidade de árvores relativamente rápido. No entanto, é fundamental que aconteçam também ações de restauração focadas em espécies típicas de florestas maduras junto à conservação dos remanescentes florestais para garantir a conservação das espécies de árvores tropicais no longo prazo”, explica a professora Jarcilene Silva de Almeida Cortez.

2ndFOR

Este estudo é um produto da rede colaborativa em florestas secundárias chamado 2ndFOR. A rede envolve 85 pesquisadores de 16 países, e tem como foco estudar a ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias tropicais e compreender os serviços ambientais que elas provêem em paisagens modificadas pelo homem. A rede 2ndFOR é coordenada pelos professores LourensPoorter, FransBongers e DanaëRozendaal, da Universidade de Wageningen, na Holanda.

Leia o artigo na revista Science Advances

Fonte: Ascom da UFPE

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