A decisão do voto é algo complexo e diferentes fatores levam à escolha de um candidato
Em entrevista à revista Época, o professor Homero de Oliveira Costa, titular em Ciência Política, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) respondeu a seguinte questão: as convicções religiosas podem interferir no voto?
Ele afirma que a decisão do voto é algo bem complexo. “São diversos fatores que levam alguém a votar em determinado candidato e a religião é uma delas”. O professor cita particularmente o caso dos evangélicos, que têm uma tendência a apoiar candidatos conservadores e isso, segundo ele, pode representar um grande retrocesso em relação a direitos já conquistados.
Veja a resposta completa:
“Sim, claro. Há hoje um esforço de muitos pesquisadores para compreender com maior alcance a influência da religião no comportamento eleitoral. No caso dos evangélicos, uma projeção para as eleições deste ano – baseada no crescimento demográfico do IBGE – é que o país tem aproximadamente 55 milhões de evangélicos, dos quais, 38,6 milhões são eleitores.
De acordo com o último Censo do IBGE de 2010, eram em torno de 42 milhões, que representava 22% da população; mas não tinha uma representação proporcional no parlamento. No entanto a decisão do voto é bem mais complexa. São diversos fatores que levam alguém a votar em determinado candidato e a religião é uma delas. O sistema eleitoral, por exemplo, também tem um papel importante porque contribui para o predomínio do voto personalista.
No caso dos evangélicos fala-se em “voto de cajado”, termo utilizado para se referir à manipulação do voto, numa referência ao “voto de cabresto” amplamente utilizado especialmente durante a Primeira República (1889-1930). No caso especifico das eleições presidenciais deste ano, os votos dos evangélicos não se dividem apenas entre os três que se declaram como tais. Mas é fato que as igrejas evangélicas têm líderes carismáticos, capazes de mobilizar muitos fiéis em favor de um candidato e a possibilidade de manipulação, ou seja, os eleitores evangélicos estão sujeitos a influências na escolha de candidatos.
E não depende de filiação partidária. Como está amplamente demonstrado, o voto em partido é um percentual inexpressivo. Vota-se em pessoas e há outros determinantes como recursos para as campanhas, marketing etc. O baixo nível de escolaridade e a baixa renda não nos parece ser suficientes para explicar o voto dos evangélicos, mas há claramente uma tendência a apoiar candidatos com pautas conservadoras e o crescimento de políticos evangélicos expressa também o crescimento das pautas conservadoras na sociedade, e obviamente vão defender estas pautas no parlamento que, a meu ver, representam um grande retrocesso em relação a direitos já conquistados, como é o caso do aborto em caso de estupros, risco de vida da mãe e anencefalia, por exemplo. Mas há outras, como a redução da maioridade penal, contra a discussão de gênero, a favor do ensino religioso, a favor da escola sem partido, proibição de casamento de pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças para casais homoafetivos etc.”
Homero de Oliveira Costa é Professor Titular (Ciência Política) do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Redação
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