Tecnologia da Ufal faz parte de uma pesquisa sobre biossegurança alimentar
Já pensou em poder avaliar sua alimentação dos últimos seis meses a partir de um pedaço de unha? A tecnologia inovadora, desenvolvida pelo professor Rodrigo de Jesus Silva, da Universidade Federal do Acre (Ufac), está sendo utilizada em uma pesquisa na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para analisar a situação nutricional das famílias de seis assentamentos da mesorregião alagoana. Um dos objetivos do projeto é difundir o método para área da saúde, capacitando profissionais para reproduzir a técnica no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo é feito a partir da metodologia de isótopos estáveis, que já vem sendo utilizada para avaliar aspectos de transição alimentar e é realizada com coleta de partes de unhas cortadas pelo próprio entrevistado durante a pesquisa. “As diferenças na proporção entre os isótopos de carbono e nitrogênio ocorre naturalmente e permite inferir quais tipos de alimento foram consumidos nos últimos seis meses”, explica a coordenadora do projeto, professora Wanda Hirai.
A análise da coleta vai complementar outros dados da pesquisa interdisciplinar intitulada Saúde ambiental e biossegurança em comunidades rurais nas mesorregiões do estado de Alagoas, que visa verificar a segurança alimentar e nutricional e sua relação com as formas de uso e ocupação do solo em famílias de assentamentos rurais. “Os índices de insegurança alimentar no Brasil são contraditórios. Eles são mais altos na zona rural do que na zona urbana porque não é o acesso à terra que garante a produção. Vários fatores são determinantes para essa condição e é nesse sentido que nossos diálogos se juntam”, afirma a coordenadora. A coleta de unhas será encaminhada para o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Usp) para análise.
Levantamento
Os dados são coletados com as 150 famílias do Assentamento Zumbi dos Palmares, localizado no município de Branquinha, por meio de um extenso questionário com 18 páginas. Esse levantamento integra outra pesquisa, coordenada pela professora Maria Alice, da Faculdade de Nutrição (Fanut) e complementa o trabalho sobre biossegurança. Os estudantes de Nutrição e de Agroecologia, orientados pelos coordenadores dos dois projetos, visitam os lotes e entrevistam as famílias sobre questões relacionadas à saúde e produção agrícola.
O professor Rafael Navas, do Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal, coordena os estudos sobre a forma de uso e ocupação do solo. O levantamento é feito nos lotes do assentamento, onde são verificados o tipo de produção, como é produzido, em que época e se fazem uso de agrotóxicos. “Primeiro entendemos como eles produzem, depois relacionamos com a questão alimentar. Queremos saber se cultivar um maior número de itens contribui para a segurança alimentar da família”, explica. O trabalho é feito junto ao projeto de extensão Colhendo Bons Frutos: nutrição e agroecologia, que auxilia apresentando alternativas agroecológicas para controle de pragas e manejo.
Para coleta de dados e imagens das comunidades estudadas, o estudo conta com mapeamento aéreo com uso da metodologia VANT (veículo aéreo não tripulado), executado pelo professor Gabriel Paes Marangon, do curso de Engenharia Florestal da Ufal.
Pesquisa multidisciplinar
A professora Maria Alice, à frente da pesquisa Saúde, nutrição e condições socioeconômicas dos agricultores dos assentamentos do município de Branquinha, Alagoas e do projeto de extensão Colhendo Bons Frutos, identifica os problemas relacionados à saúde das famílias, como anemia e sobrepeso, que são os mais recorrentes. “Fazemos a dosagem de hemoglobina e a partir do resultado orientamos que a pessoa procure o posto de saúde e solicite a suplementação garantida pelo SUS”, afirma. Ao final da coleta, os dados vão ser entregues nas unidades de saúde para reforçar o acompanhamento.
Além dos cursos de Nutrição, Agroecologia e Engenharia Florestal, a pesquisa envolve o de Serviço Social, que se preocupa com o acesso dos agricultores às políticas públicas. “Eles produzem, mas não conseguem escoar a produção, quando na verdade existem programas do governo destinados a essa compra. Nosso papel é ver quais são as dificuldades, quem está habilitado, ver como o agricultor está sendo atendido por esses programas ou porque não está sendo atendido”, conta Hirai, professora da Faculdade de Serviço Social (FSSO).
O projeto Saúde ambiental e biossegurança em comunidades rurais nas mesorregiões do estado de Alagoas tem origem de um edital do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Alagoas (Fapeal) e envolve instituições do Sudeste e Norte do país. Depois do levantamento no AZP, a pesquisa segue para outros cinco assentamentos, analisando 30 famílias em cada, são eles: Dom Helder, na Zona da Mata; Unidos pela Terra e Papagaio, em Igaci; e Santa Maria e Pau Santo, em Cacimbinhas.
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