Ameaça de pandemia: a gripe aviária H5N1 e seu potencial de transmissão entre mamíferos Geral

sexta-feira, 24 janeiro 2025
Quase cinco anos depois da pandemia de Sars-Cov-2, o vírus que causa a gripe aviária causa alertas (Foto: Agência Brasil)

Especialistas afirmam que o RN estaria bem preparado para um possível surto ou até epidemia da gripe aviária em humanos

(Karen Oliveira – Especial para Nossa Ciência)

Pandemia. Uma palavra que evoca memórias de isolamento, solidão, incerteza, morte. O mundo foi pego de surpresa em 2020, quando o Sars-Cov-2 matou milhões. Agora, quase cinco anos depois, outro vírus causa alertas: o H5N1, que causa a gripe aviária. Especialistas temem uma nova pandemia.

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Em dezembro de 2024, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, declarou um estado de emergência após um incidente raro: a gripe aviária sendo transmitida entre mamíferos. Centenas de manadas de vacas leiteiras foram contaminadas apenas dentro do estado, e o país teve seu primeiro caso de infecção grave num humano. No mesmo mês, dois gatos morreram no estado após consumirem leite cru contaminado. O país também enfrenta uma escassez de ovos após milhões de galinhas serem mortas pela H5N1.

Estudos recentes do Instituto de Pesquisa Biomédica do Texas mostram que a gripe aviária desenvolveu mutações que facilitam sua replicação em células humanas. A transmissão de pessoa para pessoa, porém, nunca foi detectada, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) já tenha registrado mais de mil casos da gripe aviária em humanos. Para que isso aconteça, é necessário que o vírus passe por outras modificações.

Potencial de disseminação entre mamíferos

Mônica Bay ensina que a prevenção é a mesma seguida em casos de outras doenças infecciosas, como lavar as mãos com frequência, especialmente após tocar em objetos como corrimãos e maçanetas, e evitar aglomerações. (Foto: Cedida)

Para Mônica Baumgardt Bay, médica infectologista, professora assistente do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, a situação é alarmante, já que o alto número de transmissões entre vacas mostra que o H5N1 tem o potencial de se disseminar entre mamíferos. Segundo João Ciro Fagundes Neto, médico veterinário da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) de Natal e pesquisador em Biologia Parasitária, o vírus é facilmente mutável. “Quando começa a circular em animais domésticos, tem que elevar mais ainda a preocupação. Pode infectar os humanos que estão relacionados com esses animais, cuidando desses animais, e existe a possibilidade de uma mutação”, explica.

O H5N1 é um vírus de propagação alta devido aos padrões de migração das aves, podendo ser transportado pelo mundo inteiro. No Brasil, a influenza aviária foi detectada pela primeira vez em maio de 2023. Até agora, nenhum caso humano foi identificado, mas entre 2023 e 2024 foram registrados cerca de 166 focos de influenza aviária, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os animais infectados foram todos aves, sendo 163 silvestres. As outras três eram aves de subsistência, ou seja, aquelas criadas para produzir carne e ovos para consumo pessoal.

Fagundes alerta que o Rio Grande do Norte é rota de migração para esses animais, elevando o perigo de aves infectadas passarem pelo estado. O veterinário destaca a importância de uma vigilância epizoótica ativa por parte do governo, já que o RN tem aves migratórias que ocupam espaços públicos como praias.

Uma pandemia está iminente?

Para Ciro Fagundes Neto, a humanidade estaria melhor preparada para uma pandemia de gripe aviária comparada à de Covid-19 (Foto: Instagram)

A ameaça da gripe aviária tem intensificado o temor de uma nova pandemia, e tanto cidadãos quanto cientistas estão preocupados com as transmissões entre mamíferos. Segundo Bay, o perigo existe mas é difícil de prever se será concretizado, já que o vírus ainda não é transmitido de humano para humano. Fagundes alerta, porém, que a alta taxa de letalidade entre pessoas é preocupante. “Diferente do Sars-CoV, que não dava 1% de letalidade, muito baixa letalidade. Esse, a gente tá falando de um vírus de até 60% de letalidade”, explica.

Além do risco à saúde pública, o veterinário destaca que uma pandemia de gripe aviária poderia comprometer a economia nacional, que é altamente dependente na exportação de carnes e outros produtos animais. “Se acontecer, é um prejuízo muito grande para o Brasil. O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do mundo”, afirma.

Por outro lado, a humanidade estaria melhor preparada para uma pandemia de gripe aviária comparada à de covid-19. Enquanto o Sars-Cov-2 era um vírus novo, o H5N1 já é conhecido pela comunidade científica e já infectou humanos no passado. Algumas instituições ao redor do mundo, incluindo o Instituto Butantan no Brasil, já iniciaram pesquisas para a produção de vacinas. Assim, uma possível pandemia da gripe aviária provavelmente seria combatida com mais velocidade e eficácia. “Diferente do que aconteceu com a covid-19, o humano já foi desafiado, então vai ser de menor impacto”, declara Fagundes.

Transmissão

O vírus influenza tem sido amplamente estudado pela comunidade científica nos últimos 100 anos (Foto: Google)

Um fator que pode complicar a detecção do vírus é os sintomas, que são parecidos com aqueles de gripes comuns. Especialistas alertam, porém, que a taxa de mortalidade para a gripe aviária é muito maior: cerca de metade das pessoas infectadas pela H5N1 morrem, segundo a OMS. Assim como outros tipos de influenza, idosos e pessoas com comorbidades são o grupo de risco para casos graves, mas a infecção é mais comum entre jovens.

A transmissão de animais para humanos é mais comum em comunidades rurais e fazendas, que têm contato direto com aves silvestres, vacas e outros animais com risco de infecção. Para essas populações, segundo Bay, a chave para se prevenir é utilizar equipamentos de proteção, como luvas e óculos, enquanto lidando com animais, além de sempre lavar as mãos.

Já Fagundes Neto aconselha buscar a Secretaria de Saúde ou a vigilância sanitária municipal ao encontrar uma ave doente ou morta, e não chegar perto do animal. “A influenza aviária passa tanto por gotícula quanto aerosol, aí a pessoa quer pegar, depois coça um olho, coça o nariz, passa a mão na boca, e pode se infectar. É muito provável que se infecte, porque ela tem uma taxa de infecção alta”, explica o pesquisador sobre o perigo de se aproximar de animais contaminados.

Prevenção

Se o vírus se mutar ao ponto de ser disseminado de pessoa para pessoa, a infecção se dará de forma semelhante a outros patógenos da família influenza, ou seja, por meio de gotículas da saliva e das mucosas, principalmente. De acordo com Bay, a prevenção é a mesma seguida em casos de outras doenças infecciosas, como lavar as mãos com frequência, especialmente após tocar em objetos como corrimãos e maçanetas, e evitar aglomerações. Além disso, tomar a vacina da gripe todos os anos é fundamental para proteger o corpo contra outras cepas da influenza.

Os especialistas concordam que o Rio Grande do Norte estaria bem preparado para um possível surto ou até epidemia da gripe aviária em humanos. “O RN é um estado, apesar de ser pequeno, que tem uma expertise boa para isso, para essas vigilâncias”, afirma Fagundes Neto. Já Bay destaca que os hospitais do estado tiveram uma boa resposta mesmo durante a pandemia inesperada de covid-19, então a situação provavelmente seria melhor no caso da gripe aviária.

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Karen Oliveira - Especial para Nossa Ciência

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