Adesão dos brasileiros à vacinação cresceu, mas ainda não atingiu o patamar de 2011 Saúde

quarta-feira, 9 outubro 2024
Neste ano, a gotinha contra a pólio será substituída por uma vacina injetável (Foto Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Falta de informações sobre a importância da vacinação e fortalecimento dos movimentos antivacinas contribuem para diminuir os índices de imunização

Há 34 anos o Brasil está livre da poliomielite, também chamada de paralisia infantil. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS) tem alcançado êxito no uso da vacina oral poliomielite bivalente (VOPb) no combate à poliomielite desde que essa vacina foi introduzida de forma oficial em 1977.

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Porém, a adesão dos brasileiros à vacinação contra a pólio, que já foi de mais de 100% em quase metade do país em 2011, caiu para 77,2% em 2022, segundo dados do MS.

Um artigo elaborado por pesquisadores de várias universidades públicas brasileiras, publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva, aponta algumas possíveis causas para essa queda. Entre os fatores que podem estar associados à redução da vacinação encontram-se a redução do orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS), problemas de gestão dos serviços, organização das salas de vacinação e da comunicação em saúde, além do aumento de vacinas do calendário, resultando em maior complexidade do programa, desde a gestão até a administração.

“Além disso”, enumera o artigo, “contribuem para o contexto de queda da cobertura vacinal a mudança do sistema de informação de dados de doses aplicadas para dados individuais, o desconhecimento da importância da vacinação, o fortalecimento dos movimentos antivacinas, a disseminação de fake news, que reforçam a hesitação em vacinar.”

Vacinação no RN

Uma busca no site do Ministério da Saúde indica que o Rio Grande do Norte (RN) alcançou sua melhor cobertura vacinal com a VOPb, em 2015, com 97,64% numa tendência que vinha crescendo desde 2012, com 93,98%. Nos anos de 2016 e 2017, as quedas foram muito acentuadas, ficando abaixo de 70%.

No primeiro ano do Governo Fátima, a cobertura foi de 80,7%. Em 2020, o ano da pandemia de Covid-19, houve queda significativa, chegando a 70,58%. Mas já a partir de 2021, a cobertura vacinal voltou a crescer no RN até alcançar os 84,24% neste ano de 2024.

Já a análise da cobertura vacinal em Natal indica que historicamente os números são inferiores aos alcançados pelo conjunto das cidades potiguares (veja tabela). Nos anos de 2022 e 2023, a capital ficou mais de 20% abaixo na vacinação de crianças contra a poliomielite, em relação ao Rio Grande do Norte. Mas nem sempre foi assim. Nos anos de 2016, 2018 e 2019, os indicadores de vacinação em Natal foram melhores do que os das outras cidades do RN em conjunto.

Natal e outras capitais do Nordeste

Quando comparada a outras capitais de estados nordestinos, Natal mostra desempenho mediano (veja tabela). Desde 2018, a capital potiguar apresenta cobertura vacinal melhor do que João Pessoa (PB).

Já na comparação com números de Recife (PE), entre 2015 e 2024, Natal não apresenta bom rendimento. Somente nos anos de 2019, 2020 e 2021 a cobertura vacinal natalense é superior à recifense.

Na comparação com Fortaleza (CE), a capital cearense tem indicadores bem superiores aos de Natal. Em 2017, Fortaleza vacinou, percentualmente, praticamente o dobro de crianças contra a pólio em relação a Natal. Em 2024, no entanto, Natal apresenta superioridade nos números.

Mudança na vacina

Neste ano, haverá uma mudança na vacinação contra a poliomielite em todo o país. O Ministério da Saúde anunciou que vai substituir as duas doses de reforço da VOPb, conhecida como gotinha, por uma dose de vacina inativada poliomielite (VIP) que é injetável, de modo que o esquema vacinal contra a doença será exclusivo com VIP. 

De acordo com o Ministério, a decisão foi baseada em critérios epidemiológicos, evidências científicas sobre a vacina e recomendações internacionais para deixar o esquema vacinal ainda mais seguro. Países como os Estados Unidos e nações europeias já utilizam esquemas vacinais exclusivos com a VIP. A mudança ocorrerá até 4 de novembro.

O esquema vacinal será:

  • 2 meses – 1ª dose
  • 4 meses – 2ª dose
  • 6 meses – 3ª dose
  • 15 meses – dose de reforço

COBERTURA VACINAL CONTRA POLIOMIELITE (VOPb) (percentual)

ANORNNATAL
201393,8678,38
201495,6372,74
201597,6482,57
201670,2572,48
201769,5244,39
201890,3296,53
201980,7485,02
202070,5868,36
202171,6769,79
202274,9660,37
202378,1861,71
202484,2479,32
Dados do Ministério da Saúde

COBERTURA VACINAL CONTRA POLIOMIELITE (VOPb) EM ALGUMAS CAPITAIS DE ESTADOS NORDESTINOS (PERCENTUAL)

ANONATAL (RN)JOÃO PESSOA (PB)RECIFE (PE)FORTALEZA (CE)
201582,5791,16105,71118,37
201672,4875,0787,47127,87
201744,3964,1087,2785,96
201896,5380,5786,84129,96
201985,0281,5568,8195,87
202068,3657,9165,5195,70
202169,7944,2161,4073,21
202260,3742,9763,3571,59
202361,7138,5263,0578,46
202479,3250,4988,2277,37
Dados do Ministério da Saúde

Mônica Costa

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