A opinião é do professor Rui Macedo, da coordenação da Rede Norte e Nordeste de Fitoprodutos, um dos INCTs aprovados, que tem sede na Paraíba
O nordeste foi contemplado com 14 projetos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para compor a rede brasileira de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Bahia é o estado com mais institutos (6), seguido de Pernambuco com quatro e Piauí, Sergipe, Paraíba e Maranhão com um cada. Ao todo no país foram selecionados 101 projetos, que formam uma rede envolvendo 8.738 pesquisadores de 410 laboratórios, localizados nas 27 unidades da federação. O programa INCTs consolida e forma redes de pesquisa com impacto em áreas estratégicas e na fronteira do conhecimento.
O Governo Federal vai repassar investimentos na ordem de R$ 328 milhões para os 101 projetos aprovados nesta última chamada. Esse aporte será complementado por recursos destinados pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). Ao todo, serão R$ 654,3 milhões investidos nos projetos. Os recursos federais são oriundos do orçamento dos órgãos parceiros: CNPq, FINEP e CAPES.
Para o professor Osvaldo Ronald Saavedra Mendez, coordenador do INCT maranhense de Energias Oceânicas e Fluviais (INEOF), ter sido contemplado é um reconhecimento ao caráter inovador e estratégico do tema alvo do projeto. “A sede ficou no nordeste como reconhecimento aos esforços dos pesquisadores desta região para colocar as energias do mar na pauta da CT&I nacional e também pelo fato da região apresentar altos índices de aproveitamentos energéticos oceânicos”, ressalta.
Criar expertise, produtos e empregos em um novo segmento da geração de energia, aproveitando sinergias com empresas portuárias e exploradoras de petróleo off-shore. Esses são os benefícios que o projeto do professor Mendez pretende levar à sociedade. De acordo com o coordenador, o objetivo do INEOF é contribuir para o desenvolvimento técnico-científico em uso de energias oceânicas e fluviais, atendendo às demandas da geração de energia renovável para o país, por meio da estratégia de formação de rede capaz de conferir sinergia à produção do conhecimento, desenvolvimento e inovação técnico e científica, formação de recursos humanos, divulgação do conhecimento técnico científico e sua transferência para o setor produtivo, sociedade e o Governo.
Papel crucial
Professor titular da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), fundador do Núcleo de Energias Alternativas dessa universidade e co-fundador do programa de Pós-Graduação de Engenharia de Eletricidade da UFMA, Mendez avalia de forma muito positiva a iniciativa de pesquisa em rede. “No estágio atual de desenvolvimento das energias oceânicas, as redes tem um papel crucial para a disseminação de conhecimento, o fomento para novos centros de pesquisa e a atração de empresas inovadoras. Precisamos de massa crítica em maior escala que permeie toda a cadeia produtiva das energias oceânicas, e que permita a criação de fóruns que alavanque políticas consistentes de desenvolvimentos industrial na área de energias renováveis”, destaca.
Quanto à importância do projeto para o nordeste, no que se refere ao desenvolvimento científico, Mendez olha para o futuro. “Conduzir e concentrar durante os próximos anos a pesquisa e desenvolvimento em energias oceânicas e fluviais, reunindo em uma rede a pelo menos seis universidades brasileiras, colaboradores internacionais e empresas. Devido à flexibilidade do modelo do INCT, novas instituições, empresas e grupos de pesquisa poderão aderir, dentro de planos de trabalho colaborativo específicos”, analisa o coordenador.
Cabeças pensantes da Paraíba
Estreando no grupo dos INCTs, a Rede Norte e Nordeste de Fitoprodutos (INCT–Rennofito) teve o orçamento de 7 milhões de reais aprovado e tem sua coordenação no Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De acordo com o professor Rui Oliveira Macedo, que é um dos coordenadores e diretor presidente do instituto, este é o único no Brasil que se propõe a trabalhar na transformação de plantas medicinais em produtos. Para atuar na rede foram contatados laboratórios credenciados do Acre até a Bahia.
A rede vai agrupar pesquisadores do bioma da Amazônia, Mata Atlântica e da Caatinga e o objetivo é transformar espécies vegetais com ativos terapêuticos em fitoprodutos – fitomedicamentos, fitonutracêuticos (alimentícios com propriedades de saúde) e fitocosméticos. “Dentro desse escopo isso significa que o nosso instituto vai se preocupar desde a parte agronômica até o produto no mercado, passando da pesquisa química, pela farmacológica e toxicológica não clínica, pesquisa tecnológica (transformação da planta em produto), passando pela pesquisa clínica”, explica Macedo.
Riqueza na biodiversidade
Com mestrado em Farmácia pela Universidade do Rio Grande do Sul e doutorado em Química pela USP, o professor Macedo é o diretor presidente do Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos da UFPB. Ele avalia a estratégia de pesquisa em rede proposta pelos INCTs como uma tendência global de agrupar competências. “A tendência mundial é que se junte competências para dar respostas às demandas da sociedade. Quando se tem o agrupamento de pesquisadores por área, significa que você pode dar respostas de forma mais rápida. Quanto mais se discute com cabeças pensantes, mais se responde às inquietudes da sociedade”, revela.
Para Macedo o objetivo do INCT–Rennofito é juntar os esforços de quem trabalha com plantas. “Queremos transformar a nossa riqueza, a maior biodiversidade do planeta em produtos que a sociedade tenha acesso. Essa foi nossa motivação”, resume o professor.
Renovação em Pernambuco
Em Pernambuco quatro projetos foram contemplados e receberão, ao todo, R$ 24 milhões (R$ 12 mi recursos do Governo Federal e R$ 12 mil da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco – Facepe, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação). O INCT para Engenharia de Software foi renovado e receberá cerca de 6 milhões para a continuação de suas pesquisas.
O coordenador desse INCT pernambucano é Augusto Cezar Alves Sampaio, professor Titular do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que possui graduação e mestrado em Ciência da Computação pela UFPE e doutorado pela Oxford University. Ele atua como Coordenador de Cooperação com a Indústria e chefia o Departamento de Ciência da Computação da federal de Pernambuco.
De acordo com ele o programa dos INCTs é muito importante para a continuidade das pesquisas brasileiras. “No Brasil o financiamento das pesquisas é muito pulverizado, com recursos pequenos o que torna impossível um núcleo competente de pesquisa pensar em resultados de médio prazo. Essa renovação é algo inédito para mim dentro do país”, afirma Sampaio.
Vocação para Ciência da Computação
Diferente da primeira fase como INCT, Sampaio revela que agora o grupo tem uma temática unificadora que é a Engenharia de software para cidades inteligentes. “Estudamos vários aspectos da engenharia de software dentro dessa temática. São problemas reais das metrópoles como, por exemplo, mobilidade urbana e energia”, revela.
Para o professor Sampaio ao longo dos anos, Pernambuco tem demonstrado uma vocação na área da Ciência da Computação, portanto, ter um INCT nessa área no estado parece ser “natural”. “Esse trabalho é importante para consolidar essa expertise do nosso estado, essa liderança na área. Um projeto dessa natureza permite a formalização de parcerias, como as que temos com a grande maioria dos estados do nordeste”, aponta.
INCTs
Criado em 2008, este é o segundo ciclo dos INCTs, programa que reúne centros de pesquisa, laboratórios e pesquisadores de ponta, das mais diversas áreas do conhecimento, em busca de soluções para os grandes problemas nacionais. Dos 126 INCTs criados no primeiro ciclo, 57 foram renovados nessa última chamada. Outros 44 são novos institutos.
Os 101 projetos estão assim localizados nas UFs, 18 estados abrigam as sedes dos Institutos: São Paulo (33 sedes), Rio de Janeiro (19), Minas Gerais (10), Amazonas (2), Bahia (6), Distrito Federal (4), Goiás (1), Maranhão (1), Mato Grosso (1), Mato Grosso do Sul (1), Paraíba (1), Pernambuco (4), Piauí (1), Paraná (2), Rondônia (1), Rio Grande do Sul (9), Santa Catarina (4) e Sergipe (1).
Conheça os representantes do nordeste.
Veja os demais Institutos contemplados.
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