A fórmula do desenvolvimento Geral

terça-feira, 5 dezembro 2017

Economistas explicam o papel da dívida pública e as implicações no orçamento da ciência, tecnologia e inovação

As análises e os cálculos usados pelos especialistas em Economia para explicar o cenário desfavorável do Brasil muitas vezes seguem diferentes teorias, mas num ponto eles parecem concordar: gasto em ciência, tecnologia e inovação é investimento. O desafio, segundo eles, é fazer o país voltar a crescer apesar dos sucessivos cortes que o setor vem sofrendo.

Presentes ao 35º Encontro Nacional do Confies – Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica realizado em Maceió entre os dias 29/11 e 01/12, pesquisadores da área econômica debateram sobre “O papel da dívida pública e as implicações no orçamento da CT&I”. O Nossa Ciência participou do encontro a convite da organização do evento e conversou com os professores Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o tema.

Para reduzir a burocracia na ciência

Para Fernando Sarti educação e ciência devem ser encaradas como investimento.

Para Fernando Sarti, que é pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT-IE-Unicamp), o país tem hoje uma política equivocada de gastos. “É uma política creio equivocada de reduzir alguns gastos e na eleição desses gastos a prioridade não tem sido em áreas fundamentais, que é o caso da educação, da pesquisa, da ciência e tecnologia. Essas áreas deveriam por definição serem poupadas. Por que? Porque elas são, elas mesmas, vetores de transformação que vão fazer essa economia crescer de uma forma mais sustentável, de uma forma com qualidade, gerando bons empregos, gerando competitividade. Então, o nosso receio é que ao cortar gastos importantes tanto na educação quanto na pesquisa, isso comprometa ainda mais uma possível retomada ou mesmo que ela venha vai ser tímida e não vai ser com a qualidade que seria com mais educação, com mais inovação”, analisa.

Sarti, que se dedica a estudos nas áreas da Economia Industrial e Internacional, alerta que enquanto essas despesas com educação e pesquisa forem encaradas como gastos e não como investimentos fica difícil mudar. “Realmente usamos a terminologia gasto, mas falar em educação, em ciência e tecnologia é falar na verdade em investimento. Eles são a nossa ponte para o futuro, é o que vai nos permitir promover mudanças estruturais importantes para o crescimento que almejamos com qualidade, com desenvolvimento social. Então, é a necessidade de tratar essas áreas como prioritárias e o começo seria esse entender como investimento e não como despesas”, opina.

“É preciso colocar as finanças públicas a favor do país” – Esther Dweck, professora da UFRJ.

Mudança de lógica

A professora Esther Dweck, da UFRJ, explica que o crescimento econômico se baseia na arrecadação de impostos, nas despesas primárias – com saúde, educação, C&T – e no pagamento de juros. “No Brasil todos os cortes estão sendo feitos em cima das despesas primárias o que piora o crescimento econômico e a arrecadação. Esse é o pior dos mundos, os cortes são exatamente no que nos possibilita crescer”, avalia. Ela argumenta ainda que é preciso colocar as finanças públicas a favor do país. “O governo tem que ser o oposto do setor privado para não acentuar ainda mais o ciclo da crise”.

Segundo a especialista, para as universidades os recursos públicos diretos vão minguar muito, com esse cenário e as fundações de apoio tem um papel fundamental. “As fundações podem viabilizar ainda mais parcerias para que as universidades consigam fazer frente a esse cenário extremamente restrito que vão ter nos próximos anos. O que precisamos é mudar a lógica do país para que sejam possíveis essas parcerias. Acho que cabe também às fundações o papel de conscientizar a sociedade disso, junto com os professores universitários, os pesquisadores e com todos que fazem parte desse amplo sistema de ciência e tecnologia, mostrar o que está acontecendo”.

 

Edna Ferreira

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