Mônica Guimarães, secretária-adjunta de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte faz uma análise sobre o ensino de ciências no estado e avalia a MP 746
A professora Mônica Maria Guimarães, secretária-adjunta da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC-RN) acredita no investimento em estratégias de formação de professores para favorecer a prática de metodologias inovadoras nas aulas. Para ela, o ensino de ciências deve promover a inquietação nos estudantes para que eles experimentem os conteúdos aprendidos nas salas de aulas.
Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nessa entrevista ao Nossa Ciência, a secretária faz uma análise sobre o ensino de ciências no estado e avalia prós e contra da Medida Provisória 746 que propõe mudanças no Ensino Médio. Com pós-graduação em Políticas Públicas e Estratégicas pela Escola Superior de Guerra e duas especializações: em Gestão de Recursos Naturais (FACEX) e em Atendimento Educacional Especializado pela Universidade Federal do Ceará, a professora Mônica afirma que é necessário que se pense na formação integral dos estudantes, respeitando a sua identidade.
Nossa Ciência:Há estratégias para promover o ensino de Ciências nas escolas do RN?
Mônica Guimarães: A SEEC-RN, por meio da Subcoordenadoria de Ensino Médio promove sistematicamente formações com professores a fim de favorecer a prática de metodologias inovadoras nas aulas, que possam provocar os estudantes a refletir sobre os conteúdos ministrados através de estratégias investigativas, da inserção do método científico na busca por soluções de problemas. Ou seja, há a necessidade de se promover contínua formação em serviço, no tocante as teorias de aprendizagem e diferentes estratégias didático-pedagógicas como vias para propiciar aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.
Diante disso foi organizado e realizado uma formação continuada no ano de 2013 com esses profissionais (Forum), cujos conteúdos discutidos foram: as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 2012); estratégias didático-pedagógicas, com foco na resolução de problemas e projetos de iniciação científica e pesquisa para todas as áreas de conhecimento; leitura e letramento; integração curricular e cultura digital; as dimensões: trabalho, cultura, ciência e tecnologia dentre outros conteúdos.
NC: O que mudou a partir disso?
MG: Assim, a escolas públicas do Estado passaram a ter como objetivo fomentar nos jovens a inquietação para experimentar os conteúdos aprendidos nas salas de aulas passeando em outros espaços da instituição, desenvolvendo projetos que envolvam os alunos e os levem a construir seus próprios conhecimentos. Nesse sentido, existe o incentivo a elaboração de projetos pedagógicos, a produção científica oriundas de discussão de temas de relevância social, inovação de metodologias com usos de recursos didáticos variadas, com auxílio de tecnologias e ferramentas que facilitem a manipulação dos alunos, aulas em laboratórios de ciências ou de informática, viagens e parcerias com empresas e universidades parceiras nessa proposta de ensino-aprendizagem significativa e de qualidade. Percebe-se ainda que essa preocupação vem transformado a Educação pública no RN, descobrindo alunos premiados em eventos científicos por apresentações de projetos inovadores que se destacam no Brasil e no mundo.
NC: Quanto o estado investe nesta área?
MG: Em relação a investimentos nessa área, o estado tem realizado, por intermédio de recursos mobilizados para o estabelecimento e desenvolvimento do Programa de Capacitação, Monitoramento e Orientação dos Profissionais de Educação das Escolas Públicas, Programa Ensino Médio Inovador, Projeto de Inovação Pedagógica – PIP, articulado pelo Projeto do RN Sustentável financiado pelo Banco Mundial. Bem como, na reestruturação dos laboratórios dessa área de conhecimento, quando técnicos especialistas adentram as escolas para montagem e reorganização dos referidos laboratórios de algumas escolas. Sendo estendidas a outras no decurso do nosso trabalho. São também destinados R$400 mil para realização de Feiras de Ciências, Tecnologia e Cultura nas escolas de Ensino Médio, nas Diretorias Regionais de Educação e Cultura (DIREC) distribuídas em todas as regiões do Estado e na Feira Estadual – FECITEC, como oportunidade de culminância dos projetos de caráter investigativo desenvolvidos nas instituições constituindo um momento de troca de saberes.
NC: Quais os principais entraves enfrentados?
Os principais entraves enfrentados perpassam pelo formato de formação continuada, que não alcançam todos os professores da rede. Pois, são eles que estão diretamente em sala de aula; a sua formação inicial que ainda não atende às necessidades de sala de aula; a não socialização da formação por aqueles que participam dela; a falta de uma política de estado, o que termina por não haver continuidade do trabalho pedagógico de um governo para outro. E, também, a jornada de trabalho dos professores que atuam em diferentes escolas, o que inviabiliza a formação continuada em serviço dentre outros fatores.
NC: Quais são as estratégias de enfrentamento dessas dificuldades?
MG: As estratégias de enfrentamento adotadas e que estão sendo executas são: Monitoramento das escolas; elaboração e execução de um plano de ação junto a empresa contratada para esse fim e a materialização do Projeto Governança Inovadora.
NC: Como avaliam o novo plano proposto pelo governo federal, a Medida Provisória 746 que vai reformular o Ensino Médio?
MG: A partir dos resultados obtidos, compreende-se que a reforma no Ensino Médio é necessária. Estamos diante de um século, cujos dilemas são cada vez mais complexos, exigindo dos cidadãos proficiência na resolução de problemas nas esferas individual e social. Embora, a maioria tenha acesso à tecnologia e a diversidade de informações, ainda não consegue transformar tais informações em conhecimento e utilizá-lo para enfrentar desafios do seu cotidiano. A escola de ontem não atende mais as necessidades desses indivíduos, ela deve centrar-se no desenvolvimento integral da sua personalidade, não se pode ainda ter o pensamento que ela deve preparar para a vida, pois a escola é a própria vida.
NC: A senhora acredita que a reforma promoverá esse desenvolvimento integral dos jovens?
MG: É necessário que se pense na formação integral dos estudantes, de modo a percebê-lo de maneira total – cognitiva, afetiva, emocional, bem como respeitar a sua identidade, seu contexto de vivência. Que sejam preparados para saber identificar situações problema de qualquer contexto de modo proficiente. A nova proposta caminha para esse fim. Mas, para ela acontecer de forma exitosa, se fazem necessárias condições, como em qualquer outra atividade, condições essas que estão sendo analisadas para colocar em ação.
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