Seremos capazes de acabar com a imensidão do mar? Entrevistas

segunda-feira, 21 setembro 2020
Foto: Natália Roos

Guilherme Longo enfatiza que o mar e o cotidiano das pessoas estão muito mais próximos do que se imagina

A relação da população em geral com o ambiente marinho é bem limitada. Isso pode dificultar o entendimento da importância desse ecossistema. Na entrevista desta semana (17), o Nossa Ciência conversou sobre ecologia marinha e ecologia e conservação de ambientes recifais com Guilherme Longo, professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

(Foto Nossa Ciência)

Guilherme explicou que o mar e o cotidiano das pessoas estão muito mais próximos do que se imagina, desde a influência em processos climáticos, como mudança nos ventos e umidade, até na mesa com alimentos como peixes, polvo, camarão e outros frutos do mar. Guilherme é biólogo, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado e doutorado em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná, além de doutorado sanduíche e pós-doutorado pelo Georgia Institute of Technology, em Atlanta – EUA.

Branqueamento de Corais

Um grave problema ecológico vem sendo observado nos oceanos desde março de 2020 e tem ligação direta com a saúde dos corais localizados no Nordeste. O fenômeno do branqueamento de corais, ocasionado especialmente por ondas de calor mais elevadas, está ocorrendo de maneira acentuada na referida região, especialmente nos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas. Segundo o especialista, o habitat ideal para os corais deve ter em média 28°C e a partir desse limiar de temperatura eles começam a sofrer e serem afetados em sua resiliência.

Embora ondas de calor sejam fenômenos naturais, cerca de 90% das ondas de calor ligadas ao aquecimento do planeta têm interferência humana que resultam em mudanças globais ameaçadoras para esses e outros organismos marinhos. Para se ter uma ideia, o aquecimento global acontece de forma acelerada desde a década de 1950 e hoje há muito mais gases na atmosfera, deixando todo o planeta mais quente, inclusive os oceanos.

A alta temperatura, excesso de luz ou poluição faz com que os corais expulsem algas residentes em seu interior que fornecem cerca de 50% do alimento do coral, o que afeta de forma potente a sua sobrevivência, podendo os levar à morte. Além disso, essa alga confere cor ao coral que, uma vez perdendo-a, perde também sua coloração.

O professor lembra que os corais compõem os recifes e esses têm uma função parecida com a de casas e prédios em uma cidade. “Se você de repente demole todos os prédios e edificações de uma cidade você perde muitos benefícios que essa cidade dá, como por exemplo, você não vai ter mais onde dormir, onde comer. Então quando a gente fala em perda de corais, não é só os corais, mas de toda essa fauna que vive associada à complexidade gerada por esses animais”, enfatiza Guilherme.

A população em geral não tem ideia da dimensão exata que o extermínio dos corais pode acarretar em seu cotidiano. No Nordeste, por exemplo, essa relação suplanta a do uso desses organismos para produção de cosméticos e medicamentos, e se sobressai fortemente na economia tanto relacionada à sobrevivência pela pesca, quanto à fomentada pelo turismo que usa da beleza cênica dos corais conservados para chamar atenção dos visitantes que vêm de fora. “Se não tivermos os corais ali conservados, toda essa economia é colapsada, de estados e municípios que dependem quase que exclusivamente do turismo e da pesca. Cerca de 90% dos empregos de pesca no mundo inteiro estão associados à pesca em pequena escala, que é a pesca que depende dos recifes e dos corais”, revela Guilherme.

(Foto; Nossa Ciência)

Mas as pesquisas do professor Guilherme não se encerram nos corais. Localmente há uma outra investigação igualmente importante sendo encaminhada: a que se dedica ao estudo dos budiões-azuis, conhecidos também como peixes-papagaio, espécie exclusiva do Brasil e que ocorre no Rio Grande do Norte. Desde o fim de 2014, o peixe figura na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção e sua população caiu cerca de 50% ao longo das últimas três décadas. Segundo informações da matéria veiculada na Revista Piaui deste mês, só em uma comunidade estudada mais de nove toneladas de budiões-azuis são retiradas do oceano no Rio Grande do Norte.

Quer saber mais sobre esse assunto? Confere na entrevista veiculada pelo Instagram do Nossa Ciência. Sigam @NossaCiência e confiram nossa IGTV.

Programação de entrevistas:

Setembro

Dia 23 – Professor Lutiane Almeida (UFRN) – “Compreensão geográfica dos riscos de desastre”

Dia 30 – Professor Nildo Dias (Ufersa) – “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável: o mundo que queremos!”

Livia Cavalcanti

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