Pesquisador defendeu união da comunidade científica como ação política Entrevistas

segunda-feira, 16 abril 2018

Para o vice-diretor da ICE-UFRN, Sidarta Ribeiro, SBPC deve pressionar candidatos à presidência a assumirem compromissos com a ciência

“A gente ainda está em construção e já começou a virar ruína”, afirmou o neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN) e diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), referindo-se à situação brasileira no tocante à ciência, mas também ao momento político que o país atravessa. O ICe-UFRN tem alcançado excelentes resultados com a publicação de artigos em importantes periódicos científicos internacionais, mas vem tendo reduzida sua capacidade de manter a demanda de pesquisadores que lhe procura.

A apresentação ocorreu durante o seminário “Ciência, Tecnologia e Inovação”, realizado pela SBPC nesta sexta (13), no auditório da Fiocruz, dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A equipe do Nossa Ciência esteve em Recife e acompanhou o evento.

O nosso papel, da SBPC, é dizer com todas as letras que o que estão fazendo com o país é um crime de lesa-pátria – Sidarta Ribeiro, ICe-UFRN/SBPC

O pesquisador classificou como uma “infâmia” o fato do ex-presidente Lula estar preso. Ele defendeu enfaticamente que a comunidade científica, tendo a SBPC na vanguarda, assuma a posição de que o país está passando por um momento de tragédia nacional. “O nosso papel, da SBPC, é dizer com todas as letras que o que estão fazendo com o país é um crime de lesa-pátria.”

Por uma comunidade científica unida e forte

Foto: Luana França

Ao mesmo tempo em que defendeu que o investimento de recursos equivalentes a 1,5% do PIB brasileiro em ciência, tecnologia e inovação deve ser uma bandeira apresentada a todos os candidatos ao governo nas eleições de outubro próximo, Ribeiro declarou que a comunidade científica tem o dever se esclarecer a população sobre a perda para o país com a redução dos investimentos efetivados pelo governo Michel Temer. “Depois de 15 anos trazendo grandes pesquisadores para fazermos uma ciência de alto nível, estamos perdendo a batalha para o futuro por falta de bolsas”. Segundo o diretor, a situação do ICe-UFRN não é diferente de outros centros de pesquisa do país.

Ao encerrar o primeiro painel, que teve como tema “Inovação e Ciência”, Sidarta Ribeiro conclamou a comunidade científica a se unir, se organizar e tomar uma posição clara. “Precisamos nos mexer antes que seja tarde. O papel da SBPC é dizer isso para a sociedade e em julho na reunião anual será o momento de pressionar os candidatos. O projeto de construção do país foi interrompido. A hora é de estarmos unidos, para não ficarmos fracos”, declarou.

Esse encontro em Recife faz parte da série “Políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação para o Brasil que queremos”, num total de oito seminários programados pela SBPC. A partir das demandas e resultados do encontro, será elaborado um documento intitulado “Carta de Pernambuco”. De acordo com a direção da entidade, este documento será norteador para o fortalecimento da luta em favor da ciência brasileira e será encaminhado aos candidatos à presidência da república.

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Mônica Costa e Edna Ferreira

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