Fábio Guedes, vice-presidente do Confap e presidente da Fapeal fala do enfrentamento da crise e dos efeitos dos cortes de recursos nos estados
Os cortes e contingenciamentos do governo federal na educação e no sistema de ciência, tecnologia e inovação do país já são uma realidade. E diante dessas medidas que atingiram em cheio as universidades, Agências de Fomento e Fundações de Amparo à Pesquisa qual o entendimento do Conselho Nacional de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) para o cenário científico do Brasil? Em entrevista ao Nossa Ciência, o vice-presidente do Confap e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), Fábio Guedes falou sobre enfrentamento da crise, relações com o governo federal e a valorização da ciência no nordeste.
O encontro com a equipe do NC foi durante o Fórum Nacional do Confap, realizado em João Pessoa (PB), nos dias 6 e 7 de junho. Durante o evento representantes de 26 fundações, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), agências nacionais de fomento, organismos internacionais e autoridades estaduais discutiram Como avançar e continuar a fazer ciência no Brasil.
Nossa Ciência: Como os estados estão enfrentando os cortes e contingenciamentos do governo federal?
Fábio Guedes: Alguns estado têm enfrentado com certo conforto, outros não, como somos 26 fundações estaduais de amparo à pesquisa, então são 26 realidades diferentes. Alguns estados tem condições melhores de enfrentar a crise, outros tem dificuldades e há também alguns presidentes que são novos e ainda estão pegando a filosofia das fundações e conhecendo um pouco do sistema. O corte realmente é muito duro para o sistema de ciência, tecnologia e inovação do país, precisamos avançar um pouco para ver as consequências desse corte no nosso sistema estadual de ciência, tecnologia e inovação principalmente nas universidades porque elas são as que estão sendo mais duramente atingidas.
NC: Por que esse impacto é maior nas universidades?
FG: Porque apesar das fundações fazerem parceria com as agências federais, o impacto chega primeiro na universidade. São cortes de bolsas que comprometem por exemplo mestrados e doutorados. A gente sente isso de forma indireta, porque alguns acordos, por exemplo com a Capes, eles não vão ser cumpridos este ano, mas quando chega na universidade há a retirada do recurso diretamente. No CNPq, a situação é um pouco mais confortável e apesar de não termos esse ano nenhuma política nova, teremos a continuidade daquilo que foi contratado. Isso é ótimo, a gente passa um ano difícil, mas os contratos serão respeitados. Em relação a Finep o problema é maior porque ela faz a gestão do Fundo Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico e esse fundo está completamente contingenciado pelo governo. Então você tem 80% do fundo contingenciado, o que deixa as fundações do país sem rodar programas de inovação tecnológica através da subvenção econômica.
NC: Os governadores do Nordeste estão conversando sobre ciência?
FG: Os governadores, boa parte deles foi reeleita, então eles já tem um diálogo mais próximo sobre ciência por conta dos mandatos anteriores. No Confap houve uma mudança muito grande em termos de arranjo das fundações do nordeste. Estamos começando a rearticular de novo as forças políticas das fundações dentro do nosso grupo nordeste. Um passo importante em relação a presença maior dos governos estaduais no campo da ciência, tecnologia e inovação foi em torno da elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Regional que é liderado ela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Nesse plano nacional uma das diretrizes é dedicada à ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido, agora esse ano, os governadores já incorporaram o discurso que ciência, tecnologia e inovação se junta a segurança pública, desenvolvimento econômico, saúde, educação. Se junta, porque antes nem estava no discurso dos governadores. Hoje os governadores passaram a adotar essas áreas em seus discursos porque o plano está muito bem elaborado. A FAPs participaram também na elaboração desse plano e eles [governadores] tem observado as mobilizações nacionais em torno da defesa das universidades, estão vendo os cortes no sistema nacional de ciência e tecnologia. Acredito que eles estejam mais sensíveis a essa causa, acho que agora mais que nunca, temos os governadores, digamos assim, mais ativos para defender a causa da ciência brasileira.
NC: Os estados do nordeste compartilham algumas semelhanças como condições climáticas, biomas, costumes… Há um trabalho conjunto de ciência no nordeste?
FG: É possível que tenha muito interação, existem muitas redes funcionando. É evidente que é muito amplo e é agora que precisamos das fundações.
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