Ciência no debate das ideias Entrevistas

terça-feira, 4 setembro 2018
(Foto: Luana França/Nossa Ciência)

O cientista social Alípio DeSousa Filho é o mais novo colunista do portal. Ele abordará temas das Ciências Humanas voltados para o interesse público e social

Reflexão e diálogo: essa é a essência da coluna “Ciência no debate das ideias” apresentada pelo professor Alípio DeSousa Filho, do Departamento de Ciências Sociais (DCS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A novidade que chega ao Nossa Ciência dessa vez é uma coluna semanal em vídeo. Nela, o cientista social abordará temas relevantes e de interesse de todos nós, questões de nossa época, de nossa sociedade e de nosso país em particular.

A opção de DeSousa Filho pelas Ciências Sociais veio ainda jovem, motivado pela participação política e em movimentos sociais. Atualmente é professor Titular de Teoria Sociológica do DCS e professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (Ética e Filosofia Política) da UFRN. Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris-Sorbonne, autor de vários livros, artigos e ensaios, atua principalmente na área da Filosofia Política e Ética do Reconhecimento dos Direitos Humanos e estudos gays.

Nessa entrevista, ele conta como foram suas escolhas acadêmicas, como é ser cientista social e trabalhar em defesa dos direitos de gays, lésbicas e transexuais. Para ele “ser cientista social é se colocar de outra maneira no mundo, numa outra perspectiva de olhar a realidade”.

Nossa Ciência: Como foi sua escolha pelas Ciências Sociais?

Alípio DeSousa Filho: Eu ingressei jovem nas Ciências Sociais, quando iniciei meu curso de graduação na UFRN. Essa escolha teve a ver com uma história de participação política e em movimentos sociais que desde jovem eu mantenho. Portanto, a própria compreensão da sociedade que vai se construindo na participação social e política foi criando esse desejo de um conhecimento mais elaborado, um conhecimento científico, do aprofundamento em estudos, em pesquisas. Meu contato com as Ciências Sociais veio também do movimento estudantil secundarista que fazíamos. Para mim foi um começo importante.

NC: É difícil ser um cientista social no Brasil, em particular no Nordeste?

ADSF: Talvez ser cientista social seja algo difícil em qualquer parte do mundo, não só no Brasil, não apenas no Nordeste, porque ser cientista social, como ser cientista em geral é já se colocar de outra maneira no mundo, se colocar numa outra perspectiva de olhar a realidade. É uma maneira crítica, reflexiva, portanto já bastante separada da visão de todos os demais. Nem sempre, portanto, numa posição confortável na relação com os outros, a vida, o mundo. Dessa maneira, de um modo geral fazer ciência, ser cientista em qualquer que seja a área, não é algo tão simples. Se pensarmos nas dificuldades de ser cientista e cientista social num país como o Brasil alguns fatores talvez tornem essa experiência mais difícil haja vista as questões reiteradas de falta de financiamento, apoio, investimento na ciência, na educação, na pesquisa que temos na história brasileira. Uma profunda desvalorização da escola, das universidades, do professor. Talvez no momento que estamos vivendo agora, pós incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que tem nesse próprio incêndio uma suprema metáfora do descaso com as coisas que remetem e expressam a atividade científica, acadêmica e intelectual no país. Por toda parte parece que ser cientista não é fácil, nesse sentido seja no Brasil ou fora, as Ciências Sociais e Humanas, no quadro de todas as ciências, é ainda pior porque há uma desvalorização das ciências humanas também pelo que elas representam enquanto uma área do pensamento crítico, uma área de produção de pensamento, de teorias que nem sempre interessam aos sistemas de sociedade que são os nossos.

NC: O que o levou a se dedicar aos Direitos Humanos e estudos gays?

ADSF: Minha dedicação aos assuntos dos Direitos Humanos e especificamente os estudos gays tem a ver com o fato de que muito facilmente é possível reconhecer nas sociedades uma profunda desigualdade entre as pessoas, grupos, segmentos inteiros quando se trata de seus direitos. Notadamente, o segmento LGBT em nossa sociedade continua muito discriminado, experimentando a negação de reconhecimento ou a oferta de reconhecimento errôneo mesmo discriminatório que tem produzido muitos males. Tem produzido a ruína psicológica, emocional, moral e mesmo física de gays, lésbicas e transexuais de modo que se engajar em causas e na pesquisa que tem relações com o pensar a existência gay e a defesa dos direitos humanos de pessoas LGBT é algo que muito facilmente aparece para nós cientistas sociais. Pessoalmente, meu engajamento nos estudos gays tem a ver com um uma teoria do reconhecimento, como teoria política dos direitos humanos.

NC: Essa escolha lhe rendeu algum caso de preconceito e discriminação no meio acadêmico ou científico?

Ouça a resposta:

 

NC: Qual sua expectativa quanto à coluna “Ciência no debate das ideias” no Nossa Ciência?

ADSF: Minha expectativa com relação à coluna é a melhor. Espero que semanalmente eu possa levar aos que passarem a acompanhar a coluna temas relevantes, de interesse e que seja mais uma oportunidade de proporcionar reflexão e diálogo em torno de questões de nossa época, de interesse de todos nós em nossa vivência, em nossa sociedade e em nosso país em particular.

Edna Ferreira

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