A palestrante convidada para o Nossa Ciência em Debate afirma que o cidadão precisa compreender os impactos do contingenciamento e lutar para que eles cessem
A professora Ângela Paiva Cruz, ex-reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é a palestrante convidada para a primeira edição da série de encontros Nossa Ciência em Debate. Ela falará sobre “Os rumos da ciência na era do contingenciamento” neste evento de abertura no dia 8 de julho, em Natal (RN), data em que se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico.
Licenciada e Bacharel em Matemática pela UFRN, Ângela Paiva tem mestrado em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado em Educação pela UFRN. É professora titular do Departamento de Filosofia da UFRN e atualmente atua como assessora do gabinete do reitor da UFRN, professor Daniel Diniz.
Além de reitora da UFRN nos períodos de 2011 a 2015 e de 2015 a 2019, ela foi eleita para a Presidência do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB) para o período de outubro de 2014 a outubro de 2016 e atuou como presidente da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) pelo período de agosto de 2016 a agosto de 2017.
Nessa entrevista ao portal Nossa Ciência, a professora Ângela Paiva fala sobre o cenário atual da ciência brasileira, os rumos possíveis da pesquisa e dos pesquisadores no Brasil e o que falta para a sociedade enxergar ciência como investimento e não como gasto.
Nossa Ciência: Qual a importância de se colocar em debate a ciência brasileira e a questão do contingenciamento?
Ângela Paiva: Esse debate é muito importante tendo em vista ser urgente esclarecer os cidadãos que a solução de problemas sociais e tecnológicos do país, que estão no seu dia a dia, depende em grande medida dos avanços da ciência e das tecnologias. Dessa forma, cada cidadão tem a responsabilidade e a necessidade de compreender os impactos do contingenciamento de orçamento para C&T e de lutar para que eles cessem. Eis ai a importância do debate.
NC: A lei nº 10.221; de 2001, criou o Dia Nacional da Ciência e a Lei nº 11.807, de 2008, estabeleceu O Dia do Pesquisador Científico, ambos no dia 8 de julho. A sra. acha que essas leis e a criação dessa data comemorativa contribuem para incentivar a atividade científica no país?
AP: Acredito que a criação deste dia para enaltecer a Ciência e o pesquisador permite visibilidade, incentiva e amplia o respeito a essa atividade não tão conhecida e reconhecida por parte significativa da sociedade brasileira.
NC: Diante de sua experiência como reitora, à frente da UFRN, uma das maiores universidades do Nordeste como avalia o cenário atual da ciência brasileira?
AP: O cenário preocupante, marcado na última década pelo crescimento da produção científica e pelo encolhimento nos últimos anos do financiamento necessário para a continuidade das pesquisas e de produção e aplicabilidade de seus resultados. Só em 2019 o contingenciamento do orçamento do MCTIC supera os 42%. Ou seja, quase metade do orçamento está represado e a consequência será a paralisação e também o retrocesso no processo de construção do conhecimento e de formação de recursos humanos, necessários ao desenvolvimento econômico e social do país. Estamos vivendo um retrocesso e o cenário pode se agravar mais ainda.
NC: As universidades públicas são responsáveis por cerca de 95% da ciência que é produzida no país, mas isso não as livrou dos cortes de recursos do governo federal. Isso pode estimular a saída de pesquisadores do Brasil?
AP: É absolutamente certo que o Brasil perderá talentos na área científica. Há convites e oportunidades sendo desenhadas em outras instituições estrangeiras que dão segurança para a continuidade e financiamento das pesquisas. Isso aconteceu em outros momentos de crise e acontece agora também. O problema é muito mais grave porque aqueles que não podem sair do país, estarão sendo obrigados a diminuir o número de pessoas nas orientações de metrados e doutorados e de estágios pós – doutorais nas instituições brasileiras.
NC: Ao contrário de muitos países que enfrentaram crises investindo em ciência, tecnologia e inovação, no Brasil educação e sistema de CT&I são os primeiros alvos dos cortes. A que a sra. atribui essas ações?
AP: Atribuo à falta de visão estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país por parte dos governos e daqueles que elaboram e aprovam planos e agendas nacionais.
NC: Quais são os rumos possíveis para se continuar a fazer ciência no Brasil?
AP: No ritmo de contingenciamento e na perspectiva bastante difícil de recuperação da economia em curto prazo, não sabemos ainda quais os rumos, os caminhos, os projetos que poderão ser mantidos ou iniciados. As universidades federais já vinham sofrendo restrições orçamentárias e realizando cortes em muitas atividades e projetos de ensino, pesquisa e extensão. Com os contingenciamentos atuais e a falta de projetos para a educação, a ciência e a tecnologia no país, vivemos um momento de profunda dificuldade, sem uma visão clara do que pode ser salvo e mantido nos projetos de pesquisa científica no Brasil.
NC: O que falta para a sociedade enxergar ciência como investimento e não como gasto?
AP: Aqui também há uma dependência dessa visão estratégica para o desenvolvimento acima referida. Mas para se ter um governo com essa perspectiva cada cidadão precisa entender o quanto a sua saúde, o seu emprego, sua qualidade de vida dependem do que os cientistas estudam e avançam nas pesquisas e na inovação. Importante, portanto, sempre se pensar na divulgação dos resultados e impactos das pesquisas para a sociedade, de maneira contínua e em linguagem clara e objetiva para que as pessoas possam defender o desenvolvimento científico como aspecto vital para a conquistas e avanços nos seus direitos constitucionais.
NC: Qual sua expectativa com relação a palestra organizada pelo portal Nossa Ciência, para o dia 8 de julho?
AP: Tenho uma boa expectativa deste encontro com os pesquisadores no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Será uma oportunidade para parabenizá-los pelo compromisso com a sociedade de construir conhecimento e formar recursos humanos para a pesquisa e inovação, que irão garantir desenvolvimento e soberania para o país.
Vagas limitadas. Inscreva-se já.
Nossa Ciência em Debate
Palestra: “Os rumos da ciência na era do contingenciamento”
Data: dia 8 de julho de 2019
Horário: 8 horas
Local: Una Casa – Ponta Negra
Edna Ferreira