O retorno das aulas presenciais é uma estratégia arriscada e que alimentará o caos de contaminação que já vivemos nos dias atuais
Chega o mês de fevereiro e mais uma volta às aulas passa a ocorrer para o público de estudantes brasileiros. Dentro da faixa etária de nossa juventude, temos vacinados com duas doses e até mesmo não vacinados (a vacinação para menores de 11 anos começou recentemente). Porém, contrariamente ao que aconteceu em 2021, não se fala mais em ensino remoto e o clima das escolas é o mesmo com que foi fechado o ano, com a falsa impressão de que a covid-19 teria acabado.
No entanto, a ressaca das festas de fim de ano revelou a explosão da ômicron, revertendo radicalmente o padrão das taxas de contaminação medidos em novembro e dezembro. As UTIs que esvaziaram, voltam a ficar mais uma vez com grande taxa de ocupação… Para piorar a situação, surge a variante H3N2 do vírus influenza para confundir ainda mais o brasileiro, que não localiza testes rápidos para covid e tem de enfrentar filas gigantescas sob risco de se (re)contaminar durante os testes, dado o tumulto observado nos locais de testagem.
De forma acertada e cautelosa, as Universidades Públicas têm adiado o retorno às atividades presenciais, já que estamos em um perfil de subida da variante e dos índices de contaminação, com pico previsto para as próximas semanas. Já a rede pública e privada de escolas de ensino fundamental e ensino médio parece alheia a esta realidade. Com ônibus e salas de aula lotadas com crianças ainda não vacinadas temos um risco real de alimentar ainda mais as estatísticas que mostram a voracidade desta variante, para além da possibilidade de permitir com que o vírus se sinta à vontade para se adaptar à situação, criando novas variantes.
Embora a estratégia adotada pela humanidade tenha sido a de desprezar a covid-19 jogando-a para debaixo do tapete e rotulá-la como o futuro das “gripezinhas”, está evidente de que nunca foi e nem nunca será como os negacionistas desejam. Aliás, já foi reportado o primeiro caso de uma variante da ômicron, a BA.2 em Washington. Isso significa que o novo normal deve ser de avanços e recuos – liberações e isolamentos.
Manter as aulas como sendo 100% presenciais em meio à escalada da ômicron é uma estratégia arriscadíssima que exporá os jovens não vacinados e todos os seus familiares a um risco desnecessário e que alimentará o caos de contaminação que já vivemos nos dias atuais.
Ainda dá tempo de evitar mais este episódio em meio à pandemia.
Referência:
Variante da ômicron, a BA.2 em Washington (https://www.nbcnews.com/science/science-news/know-ba2-newest-covid-omicron-variant-rcna13784)
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia o texto anterior: Pós-graduação e CV Lattes
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Deixe um comentário