Chimpanzés compartilham similaridades com seres humanos e diferenças com orangotangos. Victor Farinella explica quais são
Nossa ligação com nossos irmãos evolucionários é óbvia, compartilhamos várias características físicas e boa parte do nosso DNA.
Mas onde está a conexão entre os primatas e o álcool?
Veremos como o estudo da bioquímica pode desvendar a origem de “hábitos” como o consumo de bebidas alcoólicas e seu papel na evolução da humanidade.
Um estudo paleogenético descobriu a correlação entre nossos ancestrais e o álcool, mais especificamente o etanol.
Paleogenética?
Sim! É uma área promissora de estudo que “ressucita” enzimas de organismos já extintos.
O estudo em questão foi feito por meio de uma análise estatística que desvenda a sequência de aminoácidos da enzimas ADH4 ancestrais, que são responsáveis pelo metabolismo de alcoóis em geral. Nove enzimas foram sintetizadas e a habilidade destas em “digerir” o etanol foi testada.
Um fato interessante descoberto pelo estudo foi quando nossos ancestrais passaram a digerir melhor o etanol e o motivo disso.
A evolução biológica não é um acontecimento linear como costumamos representar, a ilustração dos ancestrais caminhando até se tornar um Homo Sapiens não é real. Nossa evolução é muito mais diversa e complexa, compartilhamos ancestrais com boa parte dos primatas existentes. Foi em uma dessas diferenciações entre nosso ancestral e o ancestral dos orangotangos que a enzima responsável pela digestão do etanol se modificou.
Sendo assim, nós, os gorilas e os chimpanzés somos capazes de digerir o etanol, os orangotangos não!
Afinal, por que isso acontece?
Uma das hipóteses para essa diferenciação se baseia nas mudanças climáticas ocorridas no passado. A diferenciação na atividade enzimática ocorreu em um período de mudanças climáticas extremas denominado “ótimo climático do mioceno” há mais de 15 milhões de anos. Neste período, houve uma diminuição considerável no número de árvores e um aumento nas vegetações rasteiras, diminuindo a quantidade de frutos frescos.
Como estratégia para se adaptar ao novo ambiente, nossos ancestrais desceram das árvores e passaram a se alimentar também de frutos parcialmente “podres”, que são ricos em etanol, já que este é um dos produtos da fermentação alcoólica.
Isso pode nos ter conferido uma vantagem adaptativa em relação aos mamíferos que não podem digerir o etanol, já que assim temos mais uma fonte de energia, além dos açúcares. E quando falamos em evolução, quanto mais variada sua dieta maior a facilidade de obter alimento.
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