Atualmente, o plástico é tido como o maior poluente dos oceanos. O problema acerca desse polímero é enorme haja vista seu uso disseminado e indiscriminado no mundo
Faltam poucos dias para iniciar a festa mais popular do Brasil, o carnaval. Até Charles Darwin, o grande naturalista inglês, e um dos gigantes da História da Ciência noticiou o carnaval brasileiro. Era início de março de 1932 quando Darwin escreveu uma carta endereçada ao seu pai relatando as belezas da cidade da Bahia, a qual é famosa hoje, entre outras coisas, pelo carnaval. Dizia: (…) “Ninguém seria capaz de imaginar nada tão belo quanto a antiga cidade da Bahia; ela fica docemente aconchegada em um bosque exuberante de lindas árvores. E, situando-se sobre uma colina íngreme, descortina as águas calmas da grande baía de Todos os Santos. (…) Em suma, e o que mais se poderá dizer? Ela é uma das paisagens mais lindas dos Brasis (…)”. Fora a beleza exuberante da “cidade do carnaval”, Darwin deparou-se com outra situação inusitada, ele foi alvo dos “limões de cheiro”, umas bolas de cera recheadas de água, as quais eram arremessadas nas pessoas. Os arremessos desses “limões” eram considerados uma brincadeira tradicional no período carnavalesco da época.
Quase dois séculos depois, as manifestações festivas que marcam esse período carnavalesco mudaram um pouco. Semana passada uma matéria publicada pela BBC Brasil chamou a atenção a respeito da relação entre o glíter, tradicionalmente usado na época do carnaval já há algum tempo, e os oceanos. De acordo com a matéria, as pequenas partículas de natureza plástica e não biodegradável (pelo menos a maioria das marcas comerciais não é) são usadas para adornar o corpo. Porém, após lavar o corpo repleto por esse material, essas pequenas peças brilhantes de plástico escorrem pelo ralo e, como são pequenas demais para serem retidas em filtros durante os processos de tratamentos de esgoto, acabam tendo como destino os mares e rios. Isso sem contar nas milhares de toneladas desse material que se acumulam na ruas e que são carreados diretamente para os oceanos antes de serem recolhidos pelos serviços públicos de limpeza.
Atualmente, o plástico é tido como o maior poluente dos oceanos, o que o torna uma séria ameaça para os organismos aquáticos. O problema referente a esse poluente é enorme haja vista seu uso disseminado e indiscriminado no mundo. Outra questão refere-se à natureza complexa desse material, o qual além de ser formado por tamanhos variados, como é o caso do microplásticos, possui graus variados de biodegradabilidade. Esses materiais podem incorporar-se na cadeia alimentar logo no seu início, seja na fauna ou flora marinha. Os efeitos ainda pouco conhecidos sobre a vida marinha, certamente não são exclusivos dos organismos da base da cadeia, mas sim de todos aqueles que a compõem, o que inclui a espécie Homo sapiens.
Um estudo publicado essa semana na revista Trends in Ecolgy & Evolution (microplásticos: um grande problema para os organismos da megafauna que praticam a alimentação por filtração) aponta nitidamente os perigos aos quais as maiores criaturas marinhas estão vulneráveis: os pequenos fragmentos de plástico que se acumulam nos oceanos do mundo. Esse estudo mostrou que as baleias e os tubarões-baleia – o maior peixe do mundo – estão ingerindo microplásticos em quantidades alarmantes.
Já outro estudo, publicado em janeiro na revista Science avaliou os efeitos dos resíduos de plástico em 159 recifes de corais na região da Ásia-Pacífico. De acordo com esse estudo, o contato dos recifes com resíduos plásticos favorece a colonização microbiana daqueles por agentes patogênicos, o que aumenta a probabilidade de doenças de 4 % para 89%. Esses dados também são alarmantes, haja vista que esses surtos de doenças – outrora associados exclusivamente ao clima – ameaçam ainda mais um dos ecossistemas mais biodiversos do planeta. Segundo os autores, a gestão desses resíduos é uma condição imprescindível para evitar o colapso desses ecossistemas tão complexos e produtivos, os quais afetam diretamente a subsistência de, pelo menos, 275 milhões de pessoas que dependem diretamente dos recifes de corais (comida, proteção, importância cultural, turismo etc).
É preciso e possível valorizar a nossa maior festa popular, a qual é festejada por vários “Brasis”, contudo sem alienação. E, o problema, não é sermos considerados o país do carnaval (we are the world of carnival), isso é, na verdade, fantástico, faz parte da nossa identidade cultural ou, como alguns preferem da nossa brasilidade! O problema é não sermos também, o país da educação, da saúde, da justiça, da sustentabilidade, da tecnologia, da cidadania e, quem sabe, do futebol. Porém, para aqueles que usurparam o poder – o que inclui um grande acordo nacional com o ‘pequeno’ com tudo – todas as questões supracitadas pouco importam, o que vale mesmo é beneficiar uma pequena elite, a elite do atraso. Viva o carnaval!
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Leia: O envelhecimento em duas espécies diferentes, do mesmo autor.
Thiago Jucá
Thiago cara voce se tornou um cientista renomado aqui no Brasil espero ter algum contato
Aqui quem fala é o Marcelo Régis teu colega dos tempos de igreja e professor de Fisica do Ifce
valeu um forte abraço