O aumento constante do número de vítimas pela Covid-19 nos mostra que nessa guerra não se pode banalizar nem desprezar o potencial do inimigo
No exato momento em que escrevo este artigo, o Brasil contabiliza 5083 óbitos por covid-19. A expectativa é de que em uma semana este número dobre. Será que os governantes ainda não perceberam o tamanho do desastre? Esperávamos bem mais que um desdém sob forma de “E daí?”. Não bastasse a lotação dos leitos de UTI, ainda temos de discutir este discurso hipócrita de reabertura do comércio!
O covid-19 mata e ainda é desconhecido pela ciência. O isolamento é a única ferramenta que dispomos para reduzir a taxa de contaminação (e tentar sobreviver) enquanto vacinas e remédios são produzidos e validados. Qualquer pressão no sentido mercadológico só aumentará o número de óbitos.
O importante para o momento é testar alternativas: o comércio já desenvolve novas estratégias de vendas on line, os artistas descobriram as lives. Na educação, algo a ser pensado concretamente é o uso de plataformas digitais para o ensino à distância. Qualquer precipitação quanto ao retorno de estudantes fará explodir os contágios. O mundo está sendo convidado a reinventar o ensino em tempos de isolamento – e nisso os pais assumem papel fundamental – em sua tarefa diária de professores primordiais de seus filhos. Com isso, o ensino à distância assume relevância fundamental ao reduzir a tensão pelo retorno às aulas, já que o tempo também joga a favor do vírus. E neste momento pouco importa se teremos recesso de meio e final de ano. A prioridade é sobreviver ao ano de 2020.
Já sabemos (tanto os adeptos da necropolítica quanto os outros) que o covid não é uma gripezinha nem um resfriadinho. Não é simples e nem acaba amanhã. O relaxamento quanto às normas de higiene e afastamento são barreiras removidas em direção ao abraço mortal com um inimigo desconhecido.
Em uma guerra não se pode banalizar nem desprezar o potencial de um inimigo. Seu potencial é demonstrado pelas baixas que ele provoca. E neste caso não são apenas números. São sonhos, vidas, esperanças desperdiçadas. Vidas brasileiras importam.
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Leia o texto anterior: Pandemia e necropolítica
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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