Tomadas de decisão: caóticas, mas nunca aleatórias! Disruptiva

quarta-feira, 1 dezembro 2021

Entender bem como isso se dá e como nosso cérebro funciona, pode ajudar a aprimorar decisões nos negócios

Muita gente confunde estes dois conceitos. Na verdade, é o mesmo que misturar algo sensivelmente instável com uma ação arbitrária, daí as más decisões. Por incrível que pareça, o caos é determinístico, enquanto que decisões arbitrárias, muitas vezes com origem em crenças limitantes, podem levar a resultados aleatórios e inconsequentes. Entender bem como isso se dá e como nosso cérebro funciona, pode ajudar a aprimorar decisões nos negócios.

Conceito de Caos

“Pequenas diferenças nas condições iniciais, tais como as causadas por erros de arredondamento em computação numérica, produzem resultados amplamente divergentes para tais sistemas dinâmicos, tornando a previsão a longo prazo impossível, em geral. Isso acontece apesar de estes sistemas serem deterministas, o que significa que seu comportamento futuro é determinado por suas condições iniciais, sem elementos aleatórios envolvidos. Em outras palavras, a natureza determinista desses sistemas não os torna previsíveis. Este comportamento é conhecido como caos determinístico, ou simplesmente caos”. (Wikipedia)

Reduzindo em uma frase, até os sistemas determinísticos são sensíveis e podem não respeitar uma relação simples de causa-efeito.

Como funciona nosso cérebro

Segundo o Nobel de Medicina e Fisiologia de 1981, Roger Sperry, “os lados do cérebro estariam divididos entre as funções lógica e criativa, sendo o esquerdo responsável pela tomada de decisões ‘racionais’ e o direito pelas escolhas ‘emocionais’”, resultado que fora obtido do estudo de pessoas que sofreram cisão do carpo caloso (estrutura que une os dois hemisférios do cérebro). Embora seja uma hipótese muito controversa, o psicólogo Daniel Goleman ainda acrescentou um novo sabor a esse tema, ao popularizar a divisão de nosso “cabeção” entre QI e QE (quocientes intelectual e emocional, respectivamente), o que, em minha opinião, são apenas variantes do proposto por Sperry. Sobre tudo isto, lembre que os 86 bilhões de neurônios que formam nossa massa cinzenta também trabalham em dois estágios: disparam ou não. O que estas sentenças têm em comum? Embora não seja da área, posso dizer que se tratam de abordagens que atribuem ao nosso cérebro um perfil binário, e isso impacta diretamente em uma de nossas principais ações empreendedoras: a tomada de decisão. Intrinsecamente, não temos como fugir de uma briga interna entre “o que fazer” (emocional) e “do como fazer” (lógico), quando um fato deflagrador nos tira da inércia. O tempo (atraso ou falta), o tipo de escolha (lógica ou emocional) e o caráter irremediavelmente binário de nossos cérebros, pode transformar a primeira decisão na variável sensível da qual todas as outras terão por base, levando a resultados deterministicamente imprevisíveis. Paradoxal, não é mesmo? Usamos essa frase muitas vezes, só que de forma coloquial: “Eu bem que avisei!”. Pra simplificar esse palavrório todo, fiz um “desenhinho”.

Não temos como escapar: nosso cérebro, fonte das decisões, é sensivelmente binário.

Reduzindo a subjetividade

Por causa dos bilhões de neurônios, nosso cérebro é sensivelmente binário, fato que dita o teor de nossas decisões e que as faz parecerem analógicas. O Mercado – quase que por definição – é caótico, mas não aleatório (salvo por alguns vírus). Assim, em vez de termos de nos preparar para desculpas adiante, precisamos ter uma estratégia para tomadas de decisão, de modo a determinar os melhores momentos para se utilizar um ou o outro lado. Refletindo as consequências dicotômicas sugeridas pela neurociência (direita, esquerda, intelectual, emocional, lógica, criativa) em duas categorias: objetiva e subjetiva, e admitindo que quanto mais se elimina de subjetivo melhores se tornam nossas decisões, para os casos de “Primeira decisão”, aquela da qual dependerão todas as outras (vide figura), bolei o script:

  • É possível experimentar ou observar algum experimento (benchmarking)? Se sim, então faça.
  • Se não é possível experimentar, simule.
  • Não pode simular, mas tem alguns dados ou informações, use a ferramenta ERA.

Experimentar, simular ou obter dados é praticamente impossível, pois trata-se de uma nova situação. Sendo você o líder do grupo, terá de baixar a guarda e utilizar outra abordagem, mais intimista e menos intimidadora, para reduzir ao máximo a subjetividade. Sugiro então na forma escrita, utilizando, por exemplo, o Brainwritingstorming, de modo que seus colaboradores possam se expressar sem reservas. Escolhido o método, o que deverá estar contido nas folhas do pessoal? O velho 5W2H:

  • Why: por que precisa ser realizado?
  • What: o que deve ser feito?
  • Who: quem deve fazer?
  • Where: onde será implementado?
  • When: quando deverá ser feito?
  • How: como será conduzido?
  • How much: qual o custo disto?

Ao final, você deve apanhar todos os pareceres (de preferência sem identificações), agradecer aos presentes e se recolher para compilar tudo, de modo a obter o extrato. Ao comparar as sugestões escritas, você observará consensos (indicam objetividade) e discrepâncias (indicam subjetividade). Escolha um caminho e vá em frente. Uma decisão extraída daí, com o respaldo de muitos cérebros, poderá ter um efeito caótico, mas não aleatório, descuidado, inconsequente. Seja meticuloso: “Meça duas vezes. Corte uma vez só”. (Harrison Ford).

Finalizando…

A mensagem que gostaria de deixar, além de esclarecer a diferença entre os conceitos, é a de que podemos tomar medidas de teor caótico, mas nunca aleatório! Decisões muito pessoais podem ter resultados inconsequentes – para o seu bolso ou de outros – e, portanto, devem ser evitadas. Ser líder também é saber optar por opiniões alheias. Pegando a frase do próprio Roger W. Sperry, “O prazer que meu cérebro direito está sentindo é maior do que a capacidade do meu cérebro esquerdo de explicá-lo”, pode parecer poética, desde que o custo da explicação não utilize o cartão de crédito alheio. A parte emocional é a que sofre, mas é a parte lógica quem paga as contas.

Referências:

Roger Sperry (https://netscandigital.com/blog/os-dois-lados-do-cerebro/)

Daniel Goleman (https://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Goleman)

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Leia a edição anterior: Hipótese da máxima inclusão social

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Gláucio Brandão

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