Colunista analisa a onda de insurreições populares que vem acontecendo em diferentes partes do mundo
Uma mulher em meio a uma nuvem de gás lacrimogênio, protegendo o rosto com uma máscara. O semblante imperturbável (quantas vezes deve ter enfrentado a fúria repressiva do poder branco e mestiço?, quantos golpes já açoitaram suas costas fortes, acostumadas a carregar crianças, trouxas e dores das encostas das montanhas às aldeias próximas ou os bairros da capital?; quantas cicatrizes sulcam sua pele de cobre curtida pelo sol do páramo andino?), o olhar sereno encarando as barricadas formadas pela polícia, em uma rua do centro histórico de Quito. Uma mulher indígena da província de Cotopaxi. Uma trabalhadora indígena anônima como as que todos os dias, nos terraços de agricultura familiar, nas estradas empoeiradas e íngremes que sobem e descem as montanhas, nas ruas do centro e dos bairros da capital e das maiores cidades são o coração pulsante do país; aquelas que plantam, cultivam, colhem e distribuem o que a cidade come; aquelas que tecem, cozinham, pastoreiam, armam e desarmam as feiras nos vilarejos, levam nas costas por quilômetros a fio, em caminhos longos e acidentados, fardos maiores do que elas. As que carregam o Equador e os Andes nos braços e, na hora da luta, estão na frente das barricadas. Uma imagem que encarna séculos de resistência: contra a dominação dos incas, a dos europeus, a do estado moderno neocolonial, a do capital transnacional e dos organismos financeiros que o representam.
O céu em chamas num fim de tarde alaranjado. Nuvens de fumaça preta engolem os prédios de uma enorme praça em cujo centro campeia uma estátua equestre. Em cima dela, jovens arrebatados agitam bandeiras ao vento. Bandeiras tricolores de branco, azul e vermelho. Menos uma. No topo da estátua, um rapaz de braços em V apontados para o céu segura uma bandeira celeste, verde e vermelha com um círculo amarelo no centro. A bandeira de todas as comunidades mapuches do Chile, dominando a praça. Uma cena que poderia ilustrar os versos de uma canção composta por Pablo Milanés em outra época, meados dos anos 70, e que auspiciaba o fim da tenebrosa era de Pinochet: Yo pisaré las calles nuevamente / de lo que fue Santiago ensangrentada / y en una hermosa plaza liberada / me detendré a llorar por los ausentes.
A primeira foto é de David Díaz Arcos, a segunda de Susana Hidalgo. Ambas se tornaram símbolos da onda de insurreições populares que, nas últimas semanas, sacudiram vários rincões de Abya Yala, a Nossa América. Revoltas populares multitudinárias no Haiti, no Equador, no Chile, grandes manifestações estudantis na Colômbia; lutas que vieram se somar à insurreição de massa do ano passado na Nicarágua. Fora do continente, protestos de proporções avassaladoras em Hong Kong, no Líbano, no Iraque, na Catalunha, na Caxemira, além das fortes mobilizações que há meses vivem a Argélia e a França.
Não se trata de “crises políticas”, nem de simples oposição a decisões econômicas de violento impacto contra os pobres e as classes médias, embora em vários países – Haiti, Equador, Chile, Líbano, Argélia, França – as revoltas tenham produzido perda de legitimidade dos governos e duríssimos enfrentamentos a certas medidas econômicas: um decreto que impunha um pacote de “ajuste estrutural” do Fundo Monetário Internacional e aumentava o preço da gasolina no Equador, prejudicando – entre várias outras atividades – a produção e distribuição agrícola das comunidades indígenas; o aumento do preço das passagens do transporte público no Chile; um taxa sobre o uso do WhatsApp para ligações no Líbano, país em que a maioria utiliza o aplicativo para realizar chamadas telefônicas devido à precariedade do serviço das operadoras. A maioria das insurreições começou como rebelião contra essas medidas antissociais, contra ações que desencadearam a raiva popular – uma dura condenação judicial de líderes independentistas catalães; uma lei do governo da China continental sobre extradições em Hong Kong; a revogação da autonomia constitucional da Caxemira e o bloqueio do acesso à comunicação no estado pelo governo indiano – ou contra governos desgastados, incapazes de atender demandas sociais mínimas de suas populações e cerceadores de liberdades (Haiti, Iraque, Argélia, Nicarágua). Mas muitas não pararam mesmo depois de que alguns governos, tendo percebido a inutilidade da repressão brutal com seus toques de recolher, “estados de emergência”, militares nas ruas e etc. para deter as revoltas, adotaram a estratégia da negociação e revogaram as medidas contestadas.
Como afirma Vladimir Safatle em um artigo publicado no El País Brasil, estamos diante de uma segunda onda global de insurreições depois da que ocorreu no início da década, entre 2011 e 2013. Como então, as rebeliões vêm eclodindo de forma espontânea e se auto-organizam sem a mediação de organizações políticas e sociais constituídas (à exceção do Equador, onde organizações históricas do movimento indígena desempenharam um papel central na luta). Como então, os estopins têm funcionado como meros catalisadores de uma insatisfação coletiva muito mais profunda. Um descontentamento que, como defende Slavoj Žižek no blog da Boitempo, já estava lá buscando motivos e formas para expressar-se. Para além das especificidades sócio históricas de cada país e de cada configuração local do bionecropoder hegemônico, para além dos múltiplos repertórios imagéticos, da heterogeneidade das narrativas produzidas pelas revoltas sobre si mesmas e sobre o que combatem, dos diferentes objetivos encontrados como denominadores comuns em cada insurgência, o que todas essas lutas escancaram é que as sociedades contemporâneas, ao longo e ao largo do planeta, estão cansadas do existente. Na maioria dos países, os insurgentes querem muito mais do que a revogação de medidas pontuais, até mesmo do que mudanças na política econômica geral dos governos: querem o fim desses governos, dos regimes institucionais e de regulação da vida nos quais operam e a redefinição dos princípios e condições de funcionamento de suas sociedades.
“Não é pelos 30 pesos, é pelos 30 anos”, dizem os manifestantes chilenos referindo-se às três décadas que passaram desde o fim da ditadura de Pinochet, período em que as promessas de justiça social foram traídas – tanto por governos de centro-esquerda como de centro-direita – através da manutenção, o fortalecimento e a expansão de um modelo econômico neoliberal que entregou quase todos os bens e serviços públicos (saúde, educação básica e superior, transporte, previdência social, água potável) ao capital privado produzindo uma escandalosa desigualdade, um custo de vida vexatório, o endividamento permanente dos trabalhadores, a exclusão dos pobres do acesso aos serviços fundamentais e a precarização destes. Mas, no Chile e em toda a Nossa América, diria que não é sequer pelos 30 anos: é pelos quinhentos. É um cansaço com a expressão contemporânea, capitalista e neoliberal, do sistema de organização da vida da versão hegemônica da modernidade colonial.
O jornalista e historiador Pablo Stefanoni afirma, em um artigo de Javier Lafuente no El País Brasil, que em algumas partes do continente o que se esgotou foi o neoliberalismo, enquanto em outras seriam projetos nacionais-populares fundados no extrativismo de estado que, apesar da redução de desigualdades através de políticas redistributivas, não tensionaram o modelo de desenvolvimento baseado no crescimento de indicadores macroeconômicos, focando apenas em democratizar o consumo. A análise é correta, mas o que o historiador não enxerga é que esses projetos nacionais-populares também promoveram modos neoliberais de governo. O neoliberalismo não é um mero sistema de ideias econômicas e de práticas políticas de desmonte do estado: essa é só uma de duas faces. O neoliberalismo é, antes de mais nada, um modo de regulação da vida, de distribuição de morte, de produção de subjetividades e de relações de poder e saber fundado na subsunção ao capital de todas as demais matrizes de dominação, que as articula e organiza em função de sua expansão. Não importa como se manifeste (quais modos de acumulação, quais instituições sociais e políticas reguladoras, quais regimes de visibilidade e de enunciação produza em um determinado tempo e lugar): onde quer que o capital absorve e articula outras normatividades para produzir, hierarquizar e organizar as relações de corpos formalmente livres, subjetivados como indivíduos isolados e autônomos, o bionecropoder neoliberal está em ação. Em certos regimes discursivos, os indivíduos assim subjetivados são apresentados como “empresários de si próprios” e únicos responsáveis por seu “sucesso” ou “fracasso”; em outros regimes discursivos, como “batalhadores” ou “guerreiros” que precisam de políticas estatais que garantam uma maior igualdade de oportunidades: em ambos os casos, são átomos em competição despossuídos de controle sobre os processos de produção de sua vida e de sua subjetividade. Na Nossa América, o neoliberalismo como modo geral de governo da vida é a cara contemporânea do projeto colonial, sob qualquer regime institucional e qualquer projeto econômico e político que foi ou esteja sendo levado a cabo. É contra ele, contra seus princípios de governabilidade, que vários povos estão insurgindo.
Após décadas de precarização da existência, de privatização do comum, de governo pelo medo e a insegurança, de atomização do sujeito e seu desgarro da coletividade e da natureza, de hierarquização e subjugação de corpos para regular a reprodução e expansão de capital (o que, no neoliberalismo, ocorre por modulações internas daqueles que o sistema apresenta como “sujeitos livres”, por meio do dispositivo discursivo da “meritocracia” que mantêm as hierarquias de classe, de raça, de gênero, de sexualidade, de saberes e todas as demais instituídas pelos regimes disciplinares, mas mostrando-as como padrões de auto-organização emersos da “livre interação” de indivíduos “autônomos”), processos levados a cabo dentro e por meio dos mais diversos sistemas de instituições e projetos sócio-econômico-políticos, consideráveis setores de várias sociedades começaram a adquirir uma nova consciência de sua exploração. Uma consciência genérica de classe, como a chama Safatle, que está se revelando capaz de pôr em comum e articular múltiplas experiências de espoliação e opressão: trabalhadores “uberizados” sem qualquer direito, aposentados jogados na miséria no final da vida, agricultores indígenas com seus meios de sustento ameaçados, estudantes sufocados pelo preço do transporte, assalariados esmagados pelos baixos salários e o alto custo da vida e dos serviços públicos (privatizados) e muitas outras. Dividir os explorados para dominá-los tem se configurado como umas das principais estratégias do bionecropoder neoliberal; a renovada consciência coletiva de uma matriz de opressão comum, que permeia as recentes revoltas populares pelo mundo afora, rompeu esse mecanismo e pode espalhar-se por contágio provocando o despertar de muitas outras sociedades.
Outra instigante novidade que, a meu ver, quase todas as insurreições das últimas semanas, sobretudo as de países latino-americanos, apontam é o atrelamento da consciência da opressão econômica à de outras opressões estruturais: a compreensão intuitiva, por muitos manifestantes, de que o poder que controla os meios de produção e regula o sistema de reprodução da vida é o mesmo que gere os meios de produção das normatividades sociais; a consciência de que é preciso democratizar não só o controle dos mecanismos e condições de produção das relações econômicas, mas das relações de gênero, étnico-raciais, sexuais, de construção e circulação de saberes, etc. O fato de pautas relacionadas à liberdade de escolha sobre o próprio corpo, ao direito de ser o que se quer ser, ao direito de autodeterminar o próprio sistema político e o próprio modo de vida – entre outras – fazerem parte dos discursos e das narrativas de vários protestos revela um entendimento das lutas pela igualdade de gênero, contra a lgbtfobia, antirracistas, independentistas, etc. como lutas estruturais, lutas pela (re)apropriação das condições de produção das subjetividades e das relações sociais, portanto, pela desconstrução do sistema e sua refundação sobre novas bases, tanto quanto as lutas de classe. Essa articulação de lutas de classe e outras lutas estruturais (o grifo é necessário, diante da obtusa arrogância daqueles que teimam em tachá-las de “identitárias”) é mais um feixe de promissoras possibilidades que as insurreições destas semanas estão soltando mundo afora, em múltiplas direções.
Ainda que apresentem uma imensa heterogeneidade de objetivos, a maioria das atuais revoltas foram capazes de delinear denominadores comuns aglutinadores das multiplicidades que as atravessam: um processo constituinte democrático, com mecanismos que garantam ampla participação popular, para reescrever a Carta Magna promulgada pela ditadura que constitucionaliza a gestão privada de bens e serviços públicos, no Chile; a renúncia de governos ilegítimos ou impopulares e a redefinição democrática das políticas econômicas, no Haiti, no Líbano e outros países; etc. Seja onde for que conseguirem chegar (os povos unidos e auto-organizados já mostraram não ter medo de encararem o poder e seus aparelhos repressivos), o que mais importa é a semente de uma nova consciência que as insurreições estão plantando mundo afora.
No Brasil, sabemos bem que os riscos de captura da potência das ruas pelos dispositivos discursivos e comunicacionais do bionecropoder dominante são reais e muito fortes. Narrativas de tipo lavajatista podem redirecionar contra a “classe política”, ao invés que contra a matriz que produz e alimenta os sistemas políticos e o sequestro deles pelos modos de regulação do capital, a revolta e o desejo de renovação das multidões, provocando nefastas derivas para a “antipolítica” (a ideia de que a política, confundida com os jogos partidários no âmbito das instituições da democracia representativa, não muda a realidade e é corrupta por natureza; o oposto da consciência da política como ação coletiva transformadora) e ao fascismo. No Brasil atual, como lembra Safatle no artigo citado do El País Brasil, o fato do próprio governo atual se colocar como uma força “anti-institucional” que estaria tentando governar “contra o estado”, isto é, contra as instituições da democracia representativa (Congresso, Supremo Tribunal Federal, partidos políticos… incluindo o próprio) que atrapalhariam seu projeto de “mudança” (uma “mudança” ultraconservadora que é mistura de delírios conspiratórios, fundamentalismo religioso e violenta disciplinaridade normativa) é um poderoso e perigoso dispositivo de contenção e canalização do descontentamento social. Descontentamento que, como em todos os países latino-americanos e do resto do mundo que estão insurgindo, é produto do regime colonial, capitalista-neoliberal, patriarcal e racista de regulação da vida de que o governo atual, apesar de sua retórica anti-institucional, é a maior encarnação no Brasil das últimas décadas.
Para evitar o risco de captura das revoltas, penso que – pelo menos para a Nossa América – o caminho seja olhar para dentro. A saída ao projeto colonial em sua versão contemporânea capitalista neoliberal não pode ser pensada a partir de categorias, perspectivas e experiências originadas dentro da mesma matriz epistêmica que produz a dominação. Se comecei estas reflexões evocando as imagens mais icônicas da onda de insurreições recentes na América Latina, nas quais – não por acaso! – se erguem entre nuvens de fumaça as inspiradoras imagens de uma indígena andina equatoriana e da bandeira dos povos mapuches, é porque penso que – como preconiza Sarah F. Santos em um artigo publicado nesta coluna – as alternativas ao neoliberalismo devam ser construídas pondo em diálogo saberes, experiências, modos de vida, práticas de produção e circulação de bens, interação com os ecossistemas, formas de subjetivação e de geração de relações sociais de todos os rincões de Abya Yala. Acredito que, em uma época de insurgências, se faça ainda mais necessário invocar as potências e sabedorias de nossos povos originários (dos Andes aos litorais, das selvas aos sertões, dos pantanais às planícies), dos povos afro-latino-americanos, das inúmeras populações tradicionais (quilombolas, ribeirinhas, ciganas, varjeiras, caiçaras, seringueiras, etc.) da Nossa América, assim como as experiências, epistemologias e práticas das populações urbanas periféricas, das múltiplas juventudes latino-americanas, da efervescente pluralidade de coletivos feministas, antirracistas, interseccionais, LGBTQIA+, de comunicação, de produção cultural etc. que, todo dia, plantam sementes de outras economias, outras ecologias, outros modos de comunicar, outras formas de deliberação coletiva, outras relações sociais possíveis.
Em terras pindorâmicas, mesmo que as potências emersas em 2013 tenham sido engolidas e cuspidas de volta pelo poder hegemônico como antipolítica, desconfiança na democracia (cujo questionamento, no início, visava seu aprofundamento radical, não sua destruição) e desejo de autoritarismo, algumas sementes que essas potências tinham plantado germinaram nos últimos anos em esparsas, mas belíssimas floradas: movimentos de ocupações de escolas, uma poderosa Primavera Feminista, um intenso florescer de novos coletivos periféricos. Motivos para insurgir há mais ainda do que em 2013 (além do esvaziamento da democracia representativa promovido pelo atual governo, as desigualdades aumentaram, assim como a precarização do emprego, o ecocídio e genocídio no campo, o extermínio nas periferias, a destruição dos serviços públicos) e, como nossos países vizinhos mostram, a explosão da raiva popular é imprevisível: um pretexto qualquer, a qualquer momento, é capaz de desencadeá-la. Se isso ocorrer, espero que nos lembremos das lições da tentativa de revolta do início da década e que aprendamos das experiências atuais dos nosso irmãos andinos e caribenhos. Gostaria de poder terminar este artigo evocando outra foto, mas ela ainda não existe. É a de uma roda, um toré, onde trabalhadores sem terra, trabalhadores sem teto, quilombolas, jovens negras e negros, indígenas das mais diversas etnias, pessoas atingidas por barragens e por mineração, secundaristas, professores do ensino médio e superior, trabalhadores da indústria, pescadores, ribeirinhos, trabalhadores precarizados dos serviços, estudantes universitários, feministas, ciganos, LGBTQIA+, aposentados e quem mais você conseguir imaginar, brasileiras e brasileiros de cada rincão desta terra, se dão as mãos circundando símbolos do poder em uma gigantesca praça… uma bela praça liberada.
Como essa imagem ainda não existe, termino evocando versos compostos por César Isella, mas que se tornaram imortais na voz que brota das entranhas profundas da Nossa América, a de Mercedes Sosa; versos que expressam como nenhum outro o atual momento histórico: Todas las voces, todas / Todas las manos, todas / Toda la sangre puede / Ser canción en el viento. / Canta conmigo, canta / Hermano(a) americano(a) / Libera tu esperanza / Con un grito en la voz.
Referências:
Artigo de Vladimir Safatle publicado no El País Brasil
Artigo de Javier Lafuente no El País Brasil
Slavoj Žižek no blog da Boitempo
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Antonino Condorelli é Professor Adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Antonino Condorelli
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