TI é o novo Esperanto Disruptiva

quarta-feira, 28 agosto 2019

Mudar a abordagem acadêmica vigente é a forma de nos preparar para o futuro-quase-presente e a TI é a linguagem artificial natural do mundo moderno

Data: 20 de Agosto. Horizonte: tarde magnífica, com vento a 20 nós soprando em azimute Leste – Oeste. Uma bela vista do Alto da Candelária. Local: Escritório da Montenegro Corp. Presentes:  Alexandre “Café” Dantas, o casal Erika “Finance” & João “Excel” Montenegro, e o nosso herói, Gláucio-San. Sobre o que conversavam: o código universal, aquele que unirá todo um povo e transformará a Terra, finalmente, em uma única nação: a Sociedade Indústria! 

Parece ou não parece enredo de desenho do Batman? Massa, né não?

DC Comics à parte, falávamos sobre Tecnologia da Informação, Business Intelligence, Watson e comentávamos sobre A inexorável inteligência artificial , último artigo da “Wikipedia” Potiguar, o incomparável portal sabor jerimum Nossa Ciência.

Nesse embalo, já que estávamos traçando um plano para agitar o ecossistema empreendedor-inovador do RN, começamos a analisar os porquês do atual cenário de vagas de ofício exíguas ou do número de desempregados, um montante de 14% para a população geral, 28% para nossos mestres e 35% de doutores desencaixados. Ao mesmo tempo, vemos estatísticas como as do nosso vizinho Pernambuco, com 1.000 vagas em aberto para área de TI, Tecnologia da Informação e derivados, e inúmeras previsões cataclísmicas sobre apagão tecnológico, uma vez que o Brasil vem diminuindo as exportações e aumentando as importações, no que se refere à manufaturados, já que não somos, digamos assim, “inovativamente” competitivos. Nesta mesma vibe, analistas da BRASSCOM e Softex contam na Exame de fevereiro de 2019 que nosso déficit de mão de obra para 2020 poderá chegar a 750.000 na área de tecnologia, caso o país não reforce programas para reverter esse quadro.

E aí vem a grande questão: alguém já observou o porquê de se ter um horizonte tão propício para as áreas da tecnologia e não se conseguir convencer esse povo todo a adotar essa linguagem como obrigatória a qualquer área do conhecimento? 

A própria questão traz a resposta: nosso cansativo método de ensino não entendeu que a TI é uma linguagem artificial natural do mundo moderno. Esse oxímoro ficou massa! Ou seja: a TI é o Novo Esperanto, como bradou Alexandre “Café” Dantas na reunião tema deste artigo.    

O Esperanto

Filando da Wikipedia:

“O Esperanto é a língua artificial mais falada no mundo. Ao contrário da maioria das outras línguas planejadas, o esperanto já saiu dos níveis de projeto (publicação de instruções) e semilíngua (uso em algumas poucas esferas da vida social). Seu iniciador, o médico judeu Ludwik Lejzer Zamenhof, publicou a versão inicial do idioma em 1887 com a intenção de criar uma língua de mais fácil aprendizagem e que servisse como língua franca internacional para toda a população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes)”. 

Bom, o texto completo da Wikipedia diz que o esperanto já é a língua artificial mais falada no mundo, com estimados 10 milhões de falantes, entre fluentes e não fluentes.

E aí vem a TI. Não queremos requisitar que seja a mais falada, mas podemos requisitar ser a mais escrita. Eis o “x” da questão. Não precisamos falar, apenas escrever. É muito mais fácil.

Dependência

Admitamos que não nos preparemos para o longínquo 2020. O que vai acontecer? Uma vez que não somos inovativamente competitivos, necessitaremos cada vez mais de codificadores, pessoas que entendam a linguagem dos profissionais de cada área temática, o que exige um esforço monstruoso, e consigam converter suas ideias em um código aceitável pelas máquinas modernas. Ou seja, dois trabalhos que poderiam ser condensados em um único: sou o perito no tema e sei codificá-lo! 

Outra forma de ver esse obstáculo é a seguinte: a onda “home-office” está crescendo exponencialmente. No limite, cada um trabalhará para si próprio. Neste horizonte – que acho deve chegar em menos de 10 anos – quem não souber codificar ficará na dependência extrema de quem consegue fazê-lo. Resultado: custo elevado para dispor do trabalho do programador ou auto-exclusão da sociedade, já que, em minha filosofia empreendedora, em um futuro não muito distante, sociedade e mercado se confundirão, pois aquele que não tiver acesso mínimo ao consumo de produtos/serviços será um pária. 

Como nos preparar para o futuro-quase-presente então? Mudando a abordagem acadêmica vigente!

Códigos e Temas

O que temos de mudar no ensino então?

Antes, a TI era vista como um fim ensimesmado. Hoje, sabemos que ela tornou-se um meio de comunicação entre as partes e o todo. A reviravolta no ensino acontecerá quando percebermos que a forma de educar a nova geração vem da utilização de um tema como mote associado obrigatoriamente ao aprendizado de uma linguagem de programação.

Você que ser biólogo, então terá de aprender a utilizar uma linguagem de programação para passar a outros seus pensamentos biológicos em forma de código ou simulações. Quer ser advogado? Nada melhor do que redigir peças lógicas, ancoradas em algoritmos precisos que não deixem espaços para subjetividade. Está no jornalismo? Crie algoritmos de busca, baseados em blockchain (a tecnologia das criptomoedas) para verificar se aquilo é ou não é uma fake-news ou fake-old-news. Quer enveredar pela medicina, simule as cirurgias antecipadamente de modo a fazer uma incursão o mais próximo possível da realidade. É um corretor de imóveis? Que tal utilizar analytics  para ver o que pode ser oferecido a um cliente do ponto de vista de logística, segurança (utilizando dados de crimes) etc., e subir ou baixar o preço em tempo real de um imóvel, baseado no que está acontecendo naquele instante.

Não importa a profissão: a inclusão do cidadão do futuro estará diretamente associado à sua profundidade de conhecimento de TI na respectiva área de atuação. Prevejo que as profissões do futuro terão vocativos parecidos. Coisa do tipo: TI-Arquiteto; TI-Médico; TI-Advogado; TI-Reciclador; TI-Assistente Social, TI-Jornalista etc.

A Convergência está chegando

Estamos chegando ao ponto em que a forma de execução “braçal” de tudo se dará por máquinas. As máquinas serão como extensão de nossos braços, pernas, sentidos etc. Tudo está convergindo para um único executor, o robô, seja ele mecatrônico ou virtual. A diferença que nos cabe estará do outro lado deste ponto em comum, que é a nossa capacidade criativa. Temos então de permanecer donos dos detalhes inerentes às diversas áreas do conhecimento. O distanciamento entre nós e as máquinas dar-se-á pela codificação. Aprenda a utilizar a TI ou seja um eterno escravo dela.

Quem viver, e não aprender a codificar, verá!

Referências:

Exame de fevereiro de 2019

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: A inexorável inteligência artificial

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

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