O Brasil não produz massivamente estes testes porque decidiu desmanchar toda a estrutura de ciência e tecnologia que tinha
Os testes rápidos atualmente são uma realidade, ao aproximar a ciência de fronteira da população. O exemplo mais imediato é o dos testes de antígenos para identificação de casos de covid-19, que foram liberados para venda nas farmácias brasileiras.
Por um preço que varia entre 40 e 50 reais, o teste é composto por três pequenas peças plásticas: um swab (que mais parece a um cotonete) a ser esfregado na parte interna do nariz parar captura de material para teste, uma solução em um tubo plástico que recebe o swab, dispersando o material genético nela e que é logo gotejada em um pequeno canal com uma fita que indica a presença do vírus ao alterar a cor de uma pequena região marcada na peça. Pronto. Em até 15 minutos se tem o resultado.
O leitor pode se perguntar: porque três peças plásticas custariam tão caro? E porque elas não são produzidas no Brasil? A resposta é direta: os 50 reais não são o custo das peças plásticas, mas sim o preço da tecnologia produzida que chega à prateleira da maneira mais simples e acessível (autoteste). E este dinheiro, além de pagar as peças, retorna para o financiamento de novas teses e dissertações. O Brasil não produz massivamente estes testes porque decidiu desmanchar toda a estrutura de ciência e tecnologia que tinha. Na contramão do que fizemos, a China segue firme e forte, investindo em ciência e tecnologia. Grande parte dos testes de antígeno que estão nas farmácias são, de fato, chineses. E a tendência é de que mais testes rápidos cheguem às prateleiras das farmácias. Vêm aí a varíola do macaco, as superbactérias e coisa bem piores. Todos estes testes sairão do suado dinheirinho de quem ainda pode pagar pela tese dos estudantes dos países que respeitam a ciência.
E nós? Quando o Brasil passará a produzir (em escala industrial) testes rápidos para leishmaniose, dengue, zika, chikungunya?
A resposta mais uma vez passa pela política e pelo interesse de quem elege os políticos que priorizam educação, ciência e tecnologia como a única ferramenta de libertação de um povo. Em pleno século XXI, a forma mais direta de se escravizar um povo é riscar a educação pública de suas possibilidades, garantindo uma dependência extrema com os países que produzem conhecimento. É assim que se garante que continuaremos dependendo dos outros para tudo, da roupa que vestimos ao teste de covid que fazemos. E tudo às custas de nosso tempo de vida, convertido em salário, pago para aumentar nossa distância de uma igualdade social cada vez mais remota.
Ciência para o Brasil, já.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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