Para dominar alguma coisa, o melhor modo é ensiná-la a outra pessoa. Ser eficaz é ser efetivo e eficiente ao mesmo tempo
“O que eu ouço, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu compreendo”. (Confúcio)
Quem não gostaria de absorver e reter, eficazmente, tudo aquilo que tem interesse em aprender? Deixa eu começar desembaraçando alguns termos pra depois voltar ao título. Da Wikipedia eu recolho:
Eficiência: medida segundo a qual os recursos são convertidos em resultados de forma mais econômica.
Efetividade: capacidade de produzir e manter um efeito, positivo ou negativo.
Eficácia: relação entre o efeito da ação e os objetivos pretendidos.
Em termos de aprendizado em um mundo BANI: frágil, ansioso, não-linear e incrompreensível, provocado por estarmos na Era da Informação de Deformação Antenada, na qual somos pressionados a sermos especialistas em efemeridades e não em conhecimento, vem a pergunta: “Como focar no que é útil para mim e, em fazendo isto, reter, compreender e aplicar?”.
Vejo com certo desdém perguntas do tipo “Quantos ou quais livros você já leu?”, como se pudesse medir – automaticamente – a capacidade de alguém ter absorvido, retido e utilizado esse conhecimento para algo. Imagine alguém que tenha lido 12 livros sobre inovação em um ano. Mantida esta média, que é razoável, pode-se dizer que sua leitura é efetiva, para o bem ou para o mal, pois temos livros e “livros”. Se ela consegue, de cabeça, fazer uma boa sinopse de, digamos, uns 09 livros (75%), pode-se dizer que sua ação de leitura foi eficiente. Entretanto, se essa pessoa aplica estes conceitos de forma produtiva com os conhecimentos adquiridos de apenas 03 livros (25%), pode-se dizer que ela foi eficaz diante de um mundo repleto de gurus que estão sempre indicando, ou escrevendo, efetivamente miríades de livros, apresentando a sinopse de alguns com muita eficiência e produzindo eficazmente nada com os que indica ou diz conhecer, todos os dias, em uma telinha perto de você. Infelizmente, muitas pessoas “caem” efetivamente nestas valas e se frustram tardiamente.
Quando alguém especula: “rapaz, você sabe muito sobre isso!”, e lança pra mim a pergunta lá de cima, respondo: “Li tal livro umas 04 vezes e ainda tenho algumas lacunas”. Indo atrás dessas lacunas é que refino e sedimento meu conhecimento, não pela busca de mais livros “parecidos”, inchando ainda mais a cabeça. Procuro ser eficaz, aplicando ou sintetizando o que tenho retido em uma tentativa de validar o que sei! A postura para absorver, reter e aplicar tem de ser empreendedora e não BANI. Nesta aula condensada, pretendo apresentar a vocês um método de aprendizagem eficaz que desenvolvi baseado, inconscientemente, na Taxonomia de Bloom, a qual aplico nas turmas e que também utilizo como método de aprendizado pessoal. Tenho certeza de que não é original, apenas sistematizei de um modo amigável, pelo menos para mim. Vejam-no, portanto, como um conselho que pode ajudar alguém.
Taxonomia de Bloom
“A taxonomia dos objetivos educacionais, também popularizada como taxonomia de Bloom, é uma estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais. Foi resultado do trabalho de uma comissão multidisciplinar de especialistas de várias universidades dos Estados Unidos, liderada por Benjamin S. Bloom, no ano de 1956. A classificação proposta por Bloom dividiu as possibilidades de aprendizagem em três grandes domínios: o cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual; o afetivo, abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de valores; o psicomotor, abrangendo as habilidades de execução de tarefas que envolvem o aparelho motor”. (Wikipedia).
Vamos trabalhar apenas o cognitivo. Do mesmo texto da Wikipedia, extraímos suas 06 habilidades:
Ou seja: para você dizer que realmente sabe algo, o processo começa no “conhecer” e termina no “saber avaliar”.
Usando Bloom para derrubar pseudogurus
Aproveitando que o tema versa sobre eficácia, baseado nas habilidades sugeridas por Bloom, moldei uma forma de derrubar propostas incipientes de estudantes que almejam, já nos primeiros anos de curso, criar empresas de consultoria sobre algo:
– Você conhece esse assunto, boy? Compreende bem?
– Sim, professor!
– Já aplicou estes conceitos onde? (primeira travada na fala)
– Do que aplicou, acompanhou ou viu ser aplicado, que análise você extraiu disso? (segunda travada)
– Bem, teacher, é…
– Ok! Vou admitir que você tem alguma vivência nas etapas anteriores. A implementação/simulação que fez (síntese), foi aprovada?
– Como você avalia, o que inclui auto-avaliação, o efeito da solução que você entregou? Eficaz, efetiva, eficiente, “meia-boca” etc. Precisa reavaliar quais etapas, senão todas?
Segui essa sequência até me tornar professor em eletrônica. Do projeto de circuitos até olhar para um protoboard e saber, de cara, que o circuito não funcionará, leva-se mais de uma década. Este roteiro é o mesmo para qualquer área. Por examino esse quadro: alguém que se determina a desenvolver algo novo, ou ajudar outrem nessa tarefa, só poderá fazê-lo se conhecer bem o estado atual das coisas, do contrário, pode incorrer no erro de refazer ou usar uma mesma solução de forma errada. O mesmo para situações novas: criar soluções exige apropriação das 06 habilidades de Bloom; ou depender do acaso. Assim, quando vejo gurus falarem em criatividade, inovação, startups, incubadoras, aceleradoras, busco as 06 habilidades em suas respectivas trajetórias e muito facilmente consigo achar os furos. Para que eu, como professor, não caia nesta mesma vala, desenvolvi minha própria forma de tatuar as habilidades no cérebro. Você pode pensar como um hábito.
Teoria, Análise e Síntese: meu modo de aprender eficazmente!
A maneira de como me educo está ancorada em 03 pilares: Teoria, Análise e Síntese (TAS). Meus momentos de estudo possuem sempre estes 03 ciclos, que podem ir de alguns minutos até dias. Já se tornou um hábito. Vamos lá:
Definido os tempos de cada pilar, aplico a tríade Teoria-Análise-Síntese à luz do Design Thinking – divergindo e focando –, de modo a ativar o mindset na detecção de oportunidades e criação de ideias, provendo o campo perfeito para geração de inovações. Afinal, ideias apresentam maior potencial quando estão casadas com oportunidades. A coisa ficou tão sistemática (minha esposa usa para isso o termo “maníaca”), que já está há alguns anos implantado em meu celular. Quando estou em um dos 03 modos, a casa “cai” e eu não desfoco. Por exemplo: são 16h15 de uma magnífica tarde do dia 22/12/20, e estou no modo “Synthesis”, produzindo este artigo. Antes disso, passei uns 30 minutos no modo “Analysis”, revendo meus mais de 120 artigos para não errar repetindo um tema. O modo “Theory” usei lendo a Wikipedia, buscando por aprendizagem ativa, quando esbarrei com Bloom.
Em tarefas menores, uma leitura de livro, por exemplo, repito o mesmo ciclo. Meus livros, de quaisquer áreas, são todos riscados, com pensamentos e equações (dizem que literatura comentada é mais cara); faço modelos e simulações em Excel ou Scilab até de fatos históricos. Como fractal, expando também para ações maiores. No empreendedorismo inovador, por exemplo, acumulei um bocado de teoria, analisei várias startups, incubadoras, parques tecnológicos e ajudei a sintetizar coisas deste tipo por aqui, e só agora sinto-me capaz de sintetizar minha startup, junto com a vontade de sintetizar também meu primeiro livro sobre inovação e validar autoridade. Por isto fico admirado como o Mundo está apinhado de pessoas que não bateram alguma das habilidades de Bloom, ou não desenvolveram seu próprio TAS, e se auto-habilitam a ditar verdades pelas quais não passaram. Deixo aqui, portanto, uma receita para derrubar mitos.
Finalizando…
Ser eficaz é ser efetivo e eficiente ao mesmo tempo. Se você tem um método eficaz de aprendizagem, a forma de validá-lo seria explicá-lo de modo eficaz a outra pessoa. “If you want to master something, teach it” (Se você quer dominar alguma coisa, ensine), diria Richard Feynman.
Depois de algum tempo, aprendi a fazer a pergunta lá de cima de uma forma mais contundente: “Quantos livros, ou textos, sobre determinado assunto você leu mais de uma vez?”. “Que furos encontrou em cada uma das leituras?”. Independentemente do número de vezes da leitura, se o indivíduo não encontrou furos, é apenas um seguidor; não sabe eficazmente sobre tal assunto e, portanto, não pode ser um(a) guru.
Bom natal pra vocês!
Referências:
Taxonomia de Bloom – (https://pt.wikipedia.org/wiki/Taxonomia_dos_objetivos_educacionais)
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Leia a edição anterior: Por onde começar a Inovação?
Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Gláucio Brandão
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