Sustentabilidade para a ciência Disruptiva

quinta-feira, 8 agosto 2024

"Por um modelo que seja, de fato, sustentável", é a proposta de Gláucio Brandão, na volta da coluna Empreendedorismo Inovador

Respeitável público, saudações! Como é bom estar de volta…

Depois de quase dois aninhos no modo standby, eis que minha amiga e jornalista Mônica Costa me resgata do limbo comunicativo e dá (não sei por quê?) uma nova chance de estar com vocês. Nessa nova etapa, pretendo mergulhar ainda mais na criatividade orientada aos negócios e na tentativa de modelar uma ciência que seja sustentável, a qual chamo de Ciência Empreendedora. Nessa fase, pretendo ser ainda mais contundente e mais curto, o que levará à utilização de menos texto. E pra que isso dê certo, vou abusar muito de desenhos originais e da IA generativa, bem ao estilo GBB-San, bem adequado aos tempos modernos. E como não sou de contar conversa e nem vocês de perder tempo, chega de sofisma e vamos ao que interessa: à Aula Condensada nº 202.

Por que o modelo de fazer ciência atual não é sustentável?

A resposta é simples: porque fazer qualquer coisa sem uma meta bem definida é dispendioso!

Fazer ciência envolve uma combinação de investimentos significativos: recursos financeiros, tempo e esforço. P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) infindáveis; alto custo no financiamento para equipamentos, materiais, salários de pesquisadores e infraestrutura laboratorial. Os experimentos são complexos e a manutenção dos equipamentos científicos, cara. O compartilhamento de resultados científicos por meio de publicações em revistas especializadas e apresentações em conferências também têm custos associados, sem falar na credibilidade em baixa atualmente. Deve-se, claro, seguir padrões éticos e de segurança rigorosos, o que aumentam em muito os custos, dada a burocracia inerente.

O que foi escrito acima é óbvio, mas não é a pior parte. O ruim de tudo isso, além de todo o esforço envolvido, é que o caminho utilizado pela ciência mundial, de um modo geral, tem por início um laboratório; não uma inspiração ancorada na sociedade ou no mercado. Parte-se de uma pesquisa endógena e apaixonada em direção a qualquer resultado que dê – ou se ache – plausível. Trocando em miúdos, atira-se no escuro. Não há um alvo. Acertar ou não o que quer que seja, como é feito hoje, dá no mesmo. Mas os custos são certos e sempre defensáveis.

Technology Readiness Level – TRL

Para ajudar na descrição do que eu chamo de modelo de ciência sustentável, precisamos falar de TRL ou Technology Readiness Level (Nível de prontidão tecnológica). O TRL possui nove níveis. “Pongando” no site da UNIVASF têm-se:

  • TRL 1:  Ideia da pesquisa que está sendo iniciada e esses primeiros indícios de viabilidade estão sendo traduzidos em pesquisa e desenvolvimento futuros.
  • TRL 2: Os princípios básicos foram definidos e há resultados com aplicações práticas que apontam para a confirmação da ideia inicial.
  • TRL 3: Em geral, estudos analíticos e/ou laboratoriais são necessários nesse nível para ver se uma tecnologia é viável e pronta para prosseguir para o processo de desenvolvimento. Nesse caso, muitas vezes, é construído um modelo de prova de conceito.
  • TRL 4: Coloca-se em prática a prova de conceito, que consiste em sua aplicação em ambiente similar ao real, podendo constituir testes em escala de laboratório.
  • TRL 5: A tecnologia deve passar por testes mais rigorosos do que a tecnologia que está apenas na TRL 4, ou seja, validação em ambiente relevante de componentes ou arranjos experimentais, com configurações físicas finais. Capacidade de produzir protótipo do componente do produto.
  • TRL 6: A tecnologia constitui um protótipo totalmente funcional ou modelo representacional, sendo demonstrado em ambiente operacional (ambiente relevante no caso das principais tecnologias facilitadoras).
  • TRL 7: O protótipo está demonstrado e validado em ambiente operacional (ambiente relevante no caso das principais tecnologias facilitadoras).
  • TRL 8: A tecnologia foi testada e qualificada para ambiente real, estando pronta para ser implementada em um sistema ou tecnologia já existente.
  • TRL 9: A tecnologia está comprovada em ambiente operacional (fabricação competitiva no caso das principais tecnologias facilitadoras), uma vez que já foi testada, validada e comprovada em todas as condições, com seu uso em todo seu alcance e quantidade. Produção estabelecida.

Para ir do TRL 1 ao TRL 9, levam-se anos com um grau de eficiência baixíssimo. Assim sendo, o que você propõe então, GBB-San, mestre das artes invertidas? Exatamente isto: inverter!

Um caminho sustentável

A inversão não é um caminho difícil. Acredito que muitas organizações já o percorram. Olhando para a figura, o modo de fazer ciência convencional começa no quadrinho 01 e vai até o quadrinho 09, sem rumo e com custo “infinito”.

Imagine agora o contrário: observa-se na sociedade/mercado a carência premente, aquela que tem o formato TRL nível 9. Aquilo que precisa ser feito. Busca-se então tecnologias com níveis TRL 8 ao 6. Se a solução for encontrada aí, adapta-se ou se utiliza e pronto. Caso não, pode-se descer aos níveis 5 e 4. As soluções nestes níveis não resolveram a “bronca”? É hora então de chamar os “universitários”, aquele pessoal de óculos que mora nos TRL 3, 2 e 1. Ou seja: partiu-se de fora, sociedade, para dentro. Traçou-se um plano com meta bem definida, na qual um problema com potencial inovador foi o guia.

Caminho verde: da sociedade para a prancheta

Finalizando…

Os benefícios da ciência, como avanços médicos, tecnológicos e sociais, superam custos, é claro, tornando o investimento valioso. Para isso, é imprescindível que a meta tenha sido claramente definida. A ciência tem por obrigação compreender o mundo para promover o progresso da humanidade. Entretanto, a ciência de hoje parece ser guiada por egos, não por problemas reais. Devemos percorrer o caminho verde: partindo da inovação para a ciência. Da sociedade para a prancheta, se for mesmo necessário descer tão fundo.

Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e gerente executivo da incubadora inPACTA (ECT-UFRN)

Gláucio Brandão

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