Os celulares ajudam a construir nosso perfil de consumidor. Através deles oferecemos, sem perceber e, gratuitamente, dados de movimentação financeira, localização e interesses
Desde pequeno eu ouvia as mais diversas conversas apocalípticas sobre um tal implante de chip que revelaria o início do fim. Diziam os mais velhos que todos seríamos chipados e registrados tal qual robôs monitorados por uma rede controlada pela besta fera.
E esta celeuma surge de tempos em tempos em alguns países que tentam regulamentar o implante de chips em sua população.
Todavia, uma questão básica merece nossa consideração: não estaríamos já todos nós, sem exceção, chipados?
A população mundial atingiu 7,6 bilhões de pessoas em 2017, enquanto que em 2015 já haviam mais de 7 bilhões de aparelhos celulares. Ou seja, se o poder hegemônico mundial tivesse interesse, cada pessoa no planeta transportaria um chip em seu bolso. Uma distribuição gratuita de telefones celulares para os ainda não-chipados promoveria uma verdadeira corrida às lojas. Ou seja, é algo extremamente simples ter toda a população mundial monitorada.
Todavia, no momento, o interesse é monitorar compradores. Não há interesse em monitorar quem não possa gastar. E como somos dependentes do aparelho celular, constantemente informamos aos nossos controladores dados importantíssimos como a movimentação financeira, localização, interesse e todos os demais dados que se fizerem necessários.
E dessa forma somos colocados em uma grande matriz que busca aprimorar seus dados sobre nosso perfil enquanto consumidores a partir de um processo de livre espionagem comercial. Saber que as mensagens são previamente selecionadas para o nosso perfil revela o quanto de manipulação se tem nesta bolha virtual em que estamos inseridos.
E assim seguimos informando onde estamos, o que compramos, com quem andamos, quanto tempo dormimos e o que postamos.
Para controlar o que falamos basta instalar grampos nas ilhas do Atlântico Sul. E assim passamos a ser monitorados na plenitude de nossos atos.
Ao menos temos o conforto de não ter o chip implantado em nossa pele. Ele está no bolso!
E para afastarmo-nos dele podemos iniciar todo um processo de desintoxicação. Primeiramente podemos deixá-lo fora do quarto ao dormir. Afinal, não é nada agradável ter tanta luz em nossos olhos no momento em que precisamos de descanso. Feriados das redes sociais também ajudam. Não há problema em acumular 17000 mensagens no aparelho. A vida acontece no mundo real, e muitas vezes deixamos passar momentos irrecuperáveis por estarmos presos a uma rede que tem interesse apenas em fazer de cada um de nós um protótipo de consumidor.
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Helinando Oliveira
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