Políticas de desenvolvimento territorial são essenciais e devem incluir tecnologias sociais de convivência com a seca e a prática de irrigação
As mudanças climáticas provocam alterações em todas as formas de vida do planeta e, por essa razão, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado os países a tomarem medidas urgentes para interromper e/ou atenuar os efeitos das mudanças climáticas, conforme preconizado no Objetivo 13 do Desenvolvimento Sustentável pautado na Agenda 2030 da ONU.
Os efeitos das mudanças climáticas afetam, principalmente, as zonas áridas e semiáridas do planeta limitado a produção agrícola em condições de chuvas naturais e, consequentemente, inviabilizando a segurança alimentar, especialmente dos agricultores e agricultoras familiares que dependem das precipitações pluviais regulares para garantir a produção de sequeiro.
É importante destacar que, a segurança alimentar somente é alcançada quando todas as pessoas, em todos os momentos, tiverem acesso físico e econômico a recursos suficientes, alimentos seguros e nutritivos que atendam às suas necessidades alimentares para uma vida ativa e saudável.
Deste modo, tornam-se essencial políticas de desenvolvimento territorial para a segurança alimentar em zonas áridas e semiáridas impiedosamente agravada em decorrência das mudanças climáticas. Essas políticas devem incluem tecnologias sociais de convivência com a seca, principalmente a prática de irrigação.
Entretendo, toda e qualquer água de irrigação contém sais e, dependendo das condições edafoclimáticas da região e, principalmente, das práticas de manejo da irrigação adotadas, os sais solúveis da água de irrigação acumulam-se na zona radicular do solo causando a salinização das áreas. A salinização reduz o crescimento e o rendimento das culturas e, ainda, pode destruir a estrutura do solo e causar sérios problemas degradação (solos compactos, baixa infiltração e erosão).
Em casos extremos, a salinidade solos podem destruir a fauna e a flora da região, os sais depositados na superfície solo poderão ser transportados pela ação do vento ou por escoamento superficial e salinizar aguadas e áreas próximas. Consequentemente, a vegetação local será prejudicada pelos efeitos dos sais no solo e na planta, bem como, os rebanhos e os animais silvestres pela falta de pastagem natural e abrigo.
Os impactos socioeconômicos em decorrência da salinização das áreas irrigadas são mais agravantes em áreas de produção familiar, pois a ausência de assistência técnica sobre as principais estratégias de manejo das águas salinas nas áreas cultivadas tem causado a salinização em curto prazo. Além disso, em perímetros irrigados, os agricultores familiares dispõem apenas de um lote para ganhar a sua vida com a agricultura e o comércio local que, aos tornarem-se salinizados, suas atividades são inviabilizadas completamente por causa do alto custo de recuperação destes ambientes, razão pela qual estes abandonam suas terras. Por outro lado, os produtores do agronegócio que, abandonam as suas terras devido a salinidade, conseguem comprar novas propriedades rurais com os lucros oriundos da comercialização das commodities produzidas, deixando para trás suas terras salinizadas devido aos altos custos de recuperação.
A salinidade do solo é um problema global sério que ameaça a produtividade agrícola e, cerca de 20% das terras cultivadas são salinizadas. Estimativas preveem que 50% de toda a terra arável será impactada pela salinidade até 2050, sendo este processo acelerado pelas a atividades humanas como desmatamento, o uso de água salina e o manejo inadequado da prática irrigação.
As áreas salinizadas podem ser cultivadas com rendimentos satisfatórios desde que se adote estratégias de manejo das águas e dos solos. Porém, a ausência de políticas pública técnicas e ambientais que intensifique o uso sustentável da irrigação nos perímetros irrigados tem aumentado os problemas de salinização, afetando severamente a fertilidade do solo e a produtividade das culturas.
A salinidade e as secas periódicas são as questões mais importantes para os agricultores que vivem nas zonas áridas e semiáridas. O processo de recuperação dos solos salinizados é demorado e onerosa e, por essa razão muitas terras são abandonadas anualmente devido a este problema, ameaçando a agricultura e a segurança alimentar global.
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O próximo texto será publicado em 17 de dezembro de 2020.
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Nildo da Silva Dias é Professor Associado da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
Nildo da Silva Dias
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