Relação orientador – orientando Ciência Nordestina

terça-feira, 12 julho 2022

O processo de orientação é uma etapa da vida que muitas vezes se torna uma luta de amor e ódio

Nesta matéria de numero 245 da CN voltaremos a um tema muito rico e complexo: a relação orientador-orientando. Esta que, sem dúvidas, é uma das importantes atribuições do pesquisador (senão a maior) é também a mais sinuosa.  O processo de orientação envolve uma formação que conduz ao orientando uma série de características (como por exemplo falhas e vícios, mas também ética e senso crítico) e que torna esta etapa da vida uma luta de amor e ódio que leva orientadores e orientandos a serem mais parecidos (em diversos sentidos).

Falando do ponto de vista do orientador, o saber “dizer não” é importantíssimo em várias etapas do processo, entre elas, a definição do tamanho do grupo, que naturalmente esbarra no limite humano e da capacidade de gerenciar projetos.

Já tive oportunidade de trabalhar em grupos de pesquisa muito grandes, com mais de 25 pós-graduandos sob a tutela de um único supervisor. Antes de ser uma métrica de sucesso produtivista, isso causa um massacre na saúde mental e física de quem se dispõe a fazer isso. Cada pessoa tem seu ritmo, e, portanto, seus limites. Alguns conseguem orientar um aluno, enquanto que outros chegam a 10…

Todavia, quanto mais estudantes, menos tempo para dar atenção a cada um deles. Com a necessidade de publicar artigos e defender suas teses, os estudantes passam a disputar a atenção de seus orientadores entrando em seus feriados, domingos e madrugadas. Em diversos momentos entendi que meus alunos viam em mim uma máquina de escrever textos ao invés de um ser humano que dorme, tem insônia e filhos, frustações, alegrias e cansaço. E esta relação de homem – “máquina” é confirmada após a defesa, quando os egressos (sem nenhum remorso) evitam qualquer tipo de contato com o antigo orientador.

Evidente que relações se degradam, mas de que adianta uma orientação para além de um diploma e um punhado de artigos?

Nunca fui defensor da Slow Science, mas entendo ser fundamental dar um limite para tudo o que se faz. Se de repente os estudantes começam a enxergar uma máquina de escrever ao invés de um orientador, é porque talvez seja isso que ele esteja sendo para todos. A acessibilidade e a humanização dependem de tempo para conversar e fazer entender que por trás do cientista existe um ser humano com todas as suas dores. A ciência pode ser paixão, mas pode ser bem menos que um vício. Orientar requer tempo, e tempo é necessário para falar de coisas que não sejam necessariamente ciência: sobre a escola da vida, por exemplo. Está aí uma boa justificativa para pisar no freio.

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Leia o texto anterior: Desenvolvimento

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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