Enquanto a imunidade coletiva pela vacina não vem, continuaremos a precisar do ensino remoto
Antes de iniciar algumas reflexões sobre aulas remotas, é importante ressaltar que por mais que se vacine os professores ainda restarão os estudantes a serem vacinados. Estes interagem com os familiares e demais colegas. A imunidade coletiva é assim chamada porque deve ser coletiva. Não há como categorizar e dizer que após a vacina algum grupo de professores estará imunizado. Não é assim que funciona. A vacinação precisa atingir patamares elevados da população (acima de 60%, por exemplo) para que se comece a pensar em algum tipo de imunidade.
E embora grande parte dos pais já tenha se rendido às aulas presenciais, é importante lembrar que crianças e jovens não estão vacinados e aquela doença que afetava os idosos agora desce gradativamente a sua faixa etária. E o ensino remoto ainda se faz necessário em um país que beira os 100% de ocupação nos leitos de UTI. Enquanto a imunidade coletiva pela vacina não vem, continuaremos a precisar do ensino remoto.
Dito isto, podemos partir para uma reflexão direta sobre a influência do ensino remoto no futuro da educação.
O maior impacto que pode ser sentido se refere aos processos avaliativos e de aprendizagem. O foco na telinha do celular ou do computador vem se tornando cada vez menor e os vieses avaliativos (com as infinitas fontes de informação que a internet oferece) vem criando uma geração de estudantes que transformaram o processo de aprendizagem em uma mera consulta. E nesta busca sem filtros, vale todo tipo de fonte (seguindo desde aquelas que não se recomendam ser citadas até mesmo as fontes de fake news).
Na Universidade é comum ter aulas remotas que começam e terminam com as câmeras fechadas, com interação baixa e estudantes que estão dirigindo, trabalhando ou mesmo apenas com o celular ligado, no aguardo da “chamada”. E este cenário catastrófico pode ainda ser melhor do que o observado com as aulas assíncronas, que têm um índice de acompanhamento baixo, segundo os próprios estudantes. Evidentemente aprende quem quer.
No entanto, o maior problema desta metodologia remota ainda é a ausência de mecanismos efetivos de acompanhamento da aprendizagem e assimilação do conteúdo. Será chocante o retorno à antiga realidade (presencial), em que não há acesso às ferramentas de busca nas provas. Há uma necessidade iminente de iniciar uma transição metodológica entre os modos remoto e presencial, como uma forma de garantir que este período distante imposto pela pandemia não provoque lacunas tão profundas na formação dos estudantes que não possam ser sanadas. Este debate é necessário e urgente.
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia o texto anterior: Artigo versus patente
Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Deixe um comentário