Redução aos Princípios aplicada aos negócios Disruptiva

quarta-feira, 5 agosto 2020

Colunista apresenta os passos que devem ser seguidos para implementar essa forma de pensar a inovação

Há aproximadamente dois anos, trouxe para vocês a forma de pensar a inovação utilizada por Elon Musk (SpaceX) e Jeff Bezos (Amazon): a Redução aos Princípios (RaP).

Uma vez que a proposta de nossa coluna é a de apresentar aulas condensadas, vamos então experimentar seu complemento, o exercício de fixação consensado.

Musk e Bezos ancoram seu poder de inovação nos ensinamentos do filósofo grego Aristóteles: “O primeiro princípio é uma proposição básica, que não pode ser deduzida de nenhuma outra suposição”. Ou seja, estabelece-se um “tijolo fundamental” e a partir dele constrói-se coisas novas em cima de uma verdade que não pode mais ser reduzida.

Os passos seguidos pela dupla para implementarem a RaP podem ser assim sintetizados:

  • P1. Identifique e defina suas suposições atuais: ideias vigentes e/ou pré-concebidas.
  • P2. Reduza o problema a seus princípios: o que não pode ser eliminado ou refeito.
  • P3. Crie novas soluções a partir do zero: sinta-se livre para voar.

Utilizando P1, P2 e P3, mostro como foi modificado o conceito do carro e do foguete, exemplos puramente tecnológicos.

Na aula condensada de hoje, como forma de exercício de fixação, aplico a RaP aos negócios para que possam ver o alcance dessa ferramenta simples e poderosa, utilizada na quebra da inércia psicológica. Os frutos colhidos podem rejuvenescer ou serem sementes para novos negócios!

RaP aplicada ao Varejo

  • P1 (Suposição). Consumidores querem produtos BBB, bons, bonitos e baratos.
  • P2 (Princípio). Consumidores querem, na verdade, a ação produzida pelos produtos.
  • P3 (Refazendo). Desenvolva produtos que ofereçam dependência de atributos (ex.: se você levar isto eu diminuo aquilo pra você) ou unificação de tarefas (hardware + serviços acoplados). Sim, claro: mantendo o mesmo preço. 

Lembrem-se que os verdadeiros clientes são os nossos sentidos. Promover a sinestesia é a verdadeira função de um produto do varejo. Vejam esses conceitos em O Cliente Universal.

RaP aplicada à Logística

  • P1 (Suposição). Consumidores querem receber os produtos “para ontem”. 
  • P2 (Princípio). Consumidores querem receber o produto em perfeito estado e dentro do limite do prazo, mas são sensíveis a “mimos”.
  • P3 (Refazendo). Monte uma logística que utilize todos os parceiros e modais existentes.

Você pode fazer um contrato/plataforma/acordo com motoristas de app ou serviço de motoboy para que retirem o produto em algum ponto e, caso pré-sinta um atraso inevitável, acione esse mesmo modal para entregar um souvenir adquirido em um parceiro próximo a seu cliente, com pedidos de desculpas. Antecipe-se! Conhecendo a galera, vão ficar torcendo pra entrega principal sempre atrasar!

RaP aplicada a Vídeos (Filmes, Lives, Música etc.)

  • P1 (Suposição). Consumidores querem ver vídeos na “telona” comendo pipoca, dançando ou cantando.
  • P2 (Princípio). Consumidores querem ver “lançamentos” e estarem perto de outras pessoas para que possam interagir.
  • P3 (Refazendo). Utilize plataformas com serviço de horário de lançamento (ex.: YouTube), anuncie isto e crie uma rede de parceiros que possuam locais com acesso fechado e tenham alimentos, claro. Sua tarefa será a de gerenciar os convites e o horário do lançamento.

RaP aplicada a Esportes

  • P1 (Suposição). Consumidores querem ver um jogo dentro de sua torcida organizada. 
  • P2 (Princípio). Consumidores querem xingar o juiz e ver seu respectivo time vencer.
  • P3 (Refazendo). Utilize o P3 da RaP aplicada a Vídeos e crie a seguinte promoção: o torcedor do time que perder (previamente cadastrado no ingresso), terá algum tipo desconto (25% na bebida, na comida, no couvert, estacionamento  etc.) como consolo. Ninguém sairá perdendo. Nem o estabelecimento. Nem o juiz!

RaP aplicada à Educação

  • P1 (Suposição). O professor tem que ser um excelente “passador de conhecimento”.
  • P2 (Princípio). O estudante tem de aprender a ser autodidata.
  • P3 (Refazendo). Ao invés de tentar ser o “docente top das galáxias”, desenvolva técnicas de auto-aprendizagem para com os alunos. Sua tarefa será a de cobrar metas.

Temos que que passar aos pupilos que não podemos desejar seu sucesso mais do que ele próprio. As técnicas conduzidas em aula têm de ter este objetivo, não o de tentar introjetar a “fórceps” determinado conteúdo. Só produzirá trauma, desânimo e o consequente desinteresse. Existem milhares de cursos online gratuitos ou a preços acessíveis, cujo conteúdo é dado pelos próprios criadores. Não há como, por exemplo, eu ministrar uma aula sobre um determinado livro de modo mais profundo do que o próprio autor. Como docente, deveria apontar pontos críticos, de discussão  e de absorção sobre aquele conteúdo!

RaP aplicada à Ampliação do Negócio

  • P1 (Suposição). Um negócio maior gera mais lucro.
  • P2 (Princípio). Um área maior tem maior visibilidade.
  • P3 (Refazendo). Ao invés de aumentar a área contínua de seu negócio, aumente a área descontínua, dando a ideia de ubiquidade.

Ao desmembrar seu grande negócio em vários negócios menores, você cria o efeito startup: pequenas empresas coopetindo (competindo e cooperando) em busca de melhorias e competências próprias (de repente empresa A de seu holding demonstra uma competência maior do que a empresa B, e vice-versa), ao mesmo tempo que aumentam a visibilidade no Mercado e a disponibilidade física, o que reduz o curso de logística, pois uma poderá operar como CD (centro de distribuição) para outra. A saída aqui é dividir para conquistar.

Finalizando…

Pensar na linha RaP, Redução aos Princípios, é agir de forma estratégica. É garantir uma utilidade de longo prazo, permitindo que você invista energia de forma planejada. É mirar em soluções atemporais, trabalhadas no melhor estilo “cocriação”: você, parceiros, fornecedores, clientes.

A RaP, apesar de simples, requer introspecção e maturidade para redescobrir o mundo à sua volta. Qual o princípio REAL que rege o seu negócio? Onde está o “tijolo fundamental”?

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Você já ouviu falar em H.A.?

Gláucio Brandão é Pesquisador em Extensão Inovadora do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Nossa Ciência firmou parceria com a Saiba Mais – Agência de reportagem e jornalismo independente do Rio Grande do Norte. Saiba Mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital