Recém-ingressos, o que vocês vão ser quando crescer? Coluna do Jucá

quinta-feira, 18 janeiro 2018

A expectativa de milhões de pessoas acerca de um bom resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é enorme, haja vista as perspectivas de ingressar no Ensino Superior, em especial, nas instituições públicas

O Ministério da Educação antecipou a divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2017 para hoje, dia 18 de janeiro. A expectativa de milhões de pessoas acerca de um bom resultado nesse exame é enorme, haja vista as perspectivas de ingressar no Ensino Superior, em especial, nas instituições públicas. Muitos almejam carreiras tradicionais, concorridas e de “sucesso”, mesmo tendo a convicção de que essa não seja a melhor escolha. Outros, simplesmente desejam ingressar nos cursos que julgam satisfazer suas vontades pessoais e não profissionais. Por sua vez, a escolha de uma parcela é pautada nos cursos que satisfaçam ambos os aspectos (pessoal e profissional), independentemente do grau de dificuldade no ingresso. Alguns querem apenas engatar os estudos numa faculdade qualquer, não importando o curso. E muitos, ingressam em cursos sem saberem se, de fato, fizeram a escolha certa. Só o saberão no decorrer do curso ou depois de concluí-lo.

É interessante notar que, aqueles que logram sucesso no ENEM e, por ocasião das suas escolhas, preenchem as vagas destinadas aos cursos de Ciências Naturais são, normalmente, os que desde cedo vislumbram a possibilidade de se tornarem cientistas/pesquisadores/professores. Ou então, veem com deslumbramento, ou se não tanto, ao menos com muita curiosidade, a área de estudo a qual escolheram.

Edward O. Wilson, um dos mais celebrados biólogos da atualidade, publicou um livro intitulado Cartas a um jovem cientista no qual divide com os jovens pesquisadores e/ou aspirantes, 21 cartas sobre o amor pela ciência e o prazer da descoberta ao longo de sua vida, a qual tem quase cinco décadas como professor da Universidade de Harvard. Nesse livro, os recém-ingressos podem maravilhar-se com um guia prático e filosófico, além de uma trajetória instigante para todos aqueles que sonham em tornar a resolução dos enigmas da natureza em uma profissão.

Mas como em toda carreira, os percalços são diversos e muitas vezes difíceis de lidar, o que não poderia ser diferente nessa área. Os recém-ingressos se deparam com um universo cheio de aspectos totalmente novos, mas ao mesmo tempo tão peculiares da vida acadêmica (grade curricular, bolsas, autonomia, disputas, indecisões, carreira, salário, pós-graduação, produção acadêmica, mercado de trabalho, orientadores etc). E pior, para esses profissionais, como biólogos, químicos e físicos, a conclusão da formação em nível de graduação não representa a completude, mas apenas uma parcela desta, uma vez que a outra é preenchida pela pós-graduação.

Gostaria de recomendar aos recém-ingressos, o livro Cartas a um jovem cientista, o qual retrata os encantos pela ciência e suas diversas nuances. Recomendo também, a leitura da monografia intitulada A arte mimetiza a vida: percursos, pareceres e perspectivas na formação do “ser-biólogo” da Bióloga Thyara Costa. Tive a oportunidade – ocasional, é verdade – mas muito enriquecedora, reflexiva e emocionante de assistir a essa defesa de monografia de conclusão do curso de Ciências Biológicas (modalidade Bacharelado) da Universidade Federal do Ceará. Através da mesma, pude constatar que devemos ter um olhar mais atencioso para com os nossos futuros cientistas/pesquisadores/professores e não fazê-lo apenas, quando os mesmos estão concluindo seus cursos. Certamente, assim como essa monografia, muitas outras devem exprimir também sentimentos, conflitos e percepções acerca do estudo das ciências naturais. Encontrar-se dentro de um curso pode parecer algo trivial, mas não é bem assim, principalmente quando se considera que na juventude, a imaturidade, a dúvida, a inquietação e a ansiedade acompanham as escolhas.

Os mais diversos problemas enfrentados pelos estudantes de pós-graduação, na verdade, iniciam-se na graduação. Nesse nível de estudo, os problemas são apenas perpetuados e tornam-se ainda mais complexos. Estes, por fim, convergem-se para um sentimento de desmotivação. Algo desolador, haja vista os anos de muito trabalho e estudo! Então, por que não tentar resolvê-los e tratá-los logo no início, com os recém-ingressos, ao invés de postergá-los?

Obviamente, não existe apenas percalços na graduação e na pós, há de se considerar os inúmeros casos de “sucesso” e “aparente calmaria” experimentados por muitos que um dia foram recém-ingressos! Percalços, todos enfrentam. Quantos às maneiras de superá-los, podemos citar: inteligência emocional, determinação, estratégias adaptativas, adequação ao sistema e por aí vai. Mas isso renderia outro texto e várias outras reflexões!

Esse assunto me faz lembrar um trecho da letra da música do cantor e compositor baiano, Raul Seixas, chamada “Quando você crescer”. O trecho diz o seguinte: “O que você quer ser quando você crescer?//Alguma coisa importante//Um cara muito brilhante//Quando você crescer//Não adianta, perguntas não valem nada//É sempre a mesma jogada […]”. Certamente a pergunta do primeiro verso já foi feita por muitos desses futuros recém-ingressos, antes do resultado do ENEM, porém a partir de hoje, muitos começarão a respondê-la e a fazer suas escolhas. Aos que decidirem pelas ciências naturais, ficam as dicas de leitura. E que não esqueçamos e propaguemos, desde já: ciência não é despesa é investimento. Sejam bem vindos!

Referências 

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Leia: A ciência em 2017 e as lições para o ano novo, do mesmo autor.

Thiago Jucá

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