Reagentes e rejeitos Ciência Nordestina

terça-feira, 18 fevereiro 2025

Pesquisadores já adotam práticas para a ciência com pegada ambiental ou ciência verde

(Helinando Oliveira)

Nos laboratórios dos centros de pesquisa de todo o planeta, pesquisadores podem visualizar prateleiras abarrotadas de reagentes analíticos de altíssima pureza, dado que há a necessidade de condições mínimas de reprodutibilidade para os experimentos, além da necessidade de entendimento dos possíveis processos de interação entre os componentes de uma reação química.

Para além do conhecimento gerado com a pesquisa, que é o objetivo central de todo o processo, a produção de conhecimento termina por seguir a mesma escala linear que estamos acostumados em nossas casas: pela porta da frente entram os insumos e pela porta dos fundos saem litros de rejeitos e contaminantes. O custo para o planeta é o de fornecer matéria-prima e receber lixo em troca.

Circular, sustentável e inteligente

E esta balança já mostra sinais de desequilíbrio que a própria ciência não pode negar… Com muito mais rejeitos do que insumos, chegou a hora de reverter o ciclo e transformar os rejeitos em insumos, praticando aquilo que a natureza nos ensina desde sempre: a lógica circular, sustentável e inteligente, solução única para o equilíbrio no planeta.

Os resultados mais representativos na ciência desta nova realidade são a quantidade crescente de pesquisas com carvão ativado mesoporoso aplicados na confecção de eletrodos para baterias e adsorventes para remediação ambiental. Com isso, resíduos que foram jogados na natureza voltam a ser insumos que chegam aos laboratórios para aplicações ambientais e de remoção de contaminantes como mercúrio e corantes.

Antibiótico vencido

Outro exemplo são os pontos quânticos de carbono, que pesquisadores produzem pela conversão de restos de frutas e até antibióticos vencidos em espécies fluorescentes. Estes sistemas nanoestruturados utilizam-se em marcadores biológicos e no combate a espécies bacterianas. Só para realizarmos melhor o que foi dito: o antibiótico vencido e que seria jogado fora (sobrando no solo ou nos rios) volta para a linha de produção para ser convertido em carbon dot e continuar sua luta contra as bactérias com uma nova roupagem.

Alguns pesquisadores ainda torcem o nariz para esta ciência com pegada ambiental, também conhecida como ciência verde. Porém, dentro da realidade de um planeta entrando em processo de extinção em massa, este é o mínimo que a ciência pode fazer em prol de uma consciência circular imediata. Que sejamos o pássaro que enche o bico de água e tenta apagar o incêndio na floresta.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência.

A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras

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