Quer que eu desenhe? Empreendedorismo Inovador

quarta-feira, 5 junho 2019

Do ponto de vista empreendedor desenhos ou esquemas gráficos podem fazer que uma ideia seja melhor entendida, afinal nosso cérebro gosta mais de imagens

Impressionante como estas duas coisas estão intimamente associadas: o problema (oportunidade no jargão empreendedor) e os desenhos (ferramentas, nas mãos de um empreendedor comunicativo)!

Do ponto de vista empreendedor, sempre que quero me fazer entender ou quero entender alguém, peço para que o faça de forma gráfica. Agindo assim há tempos, comecei a perceber que quando não consigo rabiscar algo é sinal de que não estou 100% a par daquilo que desejo entender e, consequentemente, transmitir. Percebi também o contrário: se consigo desenhar, me aproprio intimamente do fato e posso transmiti-lo com maior precisão, fazendo-me entender.

E por que os desenhos funcionam? Em seu livro How to Create a Mind, Ray Kurzweil mostra que o cérebro é péssimo em lógica e excelente em padrões. Duvida? Olhe para figura com a frase “O GATO”, na versão em inglês.

Desconsiderando a dificuldade da língua, tenho certeza que você leu “THE CAT”, correto? Retire então T, E, C, T e veja o que sobra (coloquei a figura um pouco mais adiante para não ficar tão fácil). Sobrou um H ou um A?

Então, depois de desvendado o truque, agora temos que optar entre “THE CHT” e “TAE CAT”, pois o símbolo é o mesmo, só que rebatido! Ou seja: o padrão gráfico falou mais alto do que a lógica! Viu como você também é viciado em padrões, em imagens?

Outra explicação: da área total do cérebro responsável pelos nossos sentidos, cerca de 60% de seu processamento é ocupado pelo visão. Ou seja: gostamos mais das imagens, pois existe uma hardware todo preparado pra isso, o que faz com que entendamos melhor e mais rápido aquilo que é visto. Não é à toa que os sistemas digitais possuem uma unidade gráfica dedicada!

E agora?

Explorando a questão gráfica, os gurus das ferramentas negociais ajudaram a reduzir os planos de negócio compendiais a uma página, o famoso CANVAS, e o gerenciamento de projetos a uma planilha de excel, o Project Model Canvas – sempre um canvas – fazendo com que as startups brotassem “feito capim” de Contamana a Seixas e do Oiapoque ao Chuí! Quem tiver curiosidade, pode ver que com estes pontos se “desenha” o Brasil!

Assim, nestas mal desenhadas linhas, vou tentar explicar como trabalho meu mindset e, quem sabe, entregar o segredo do sucesso, e do fracasso, de meus planos.

Construindo palestras

Em 2016, ministrei, de norte a sul do país, cerca de 56 palestras. Nunca gostei de repeti-las, pois assim forço a expansão de meu senso criativo… Eu acho!

Bom, e como consegui fazer isso, já que não sou Steve Stein (mistura de Jobs com Albert)? No máximo sou um Frank! Resposta: desenhando! Sim, desenhando!

Vou explicar: desenho o começo da estória, o meio e o fim, tendo cuidado para que o desenho faça sentido, claro, e tentando recolher mentalmente a impressão da audiência em cada trecho da jornada gráfica, como num jogo de percurso, aquele de avançar as casinhas! O ato de descrever o meu desenho gera, quase que naturalmente, a palestra. Outra vantagem: na ocorrência de sinistro, como já aconteceu, estou com o desenho na cabeça, ficando, portanto, independente da COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte). Pronto: essa é a versão zero.

“A Tilápia da Inovação”. Tem até um palavrão cheio de “erres” riscado. Esta obra prima faria Da Vinci pedir as contas…

Para a palestra seguinte, aproveito alguns elementos do blueprint (esquema) anterior, mudo a ordem, acrescento outros desenhos e, rapidamente, tenho outra palestra. Em uma palestra mais à frente, penso em meu público e, conforme a faixa de oxigenação mental, apimento, adocico, amplio ou reduzo determinadas partes do meu esquema gráfico.

Como exemplo, veja um esquema de multi-palestra ministrada por mim nos idos de 2016, “A Tilápia da Inovação”. Extraí ela de uma outra palestra, “O Empreendedorismo Inovador” (parte externa da figura), ministrada uma semana antes. Aproveitei esta mesma palestra e a transformei no artigo A tilápia da inovação. A galera dev chamaria essa manobra de reuso de código. Eu chamo de reuso de rabisco. Funciona. Assim fica fácil desenhar, ou melhor, construir palestras. Segredo revelado! Massa, né não?

O que isto faz com o cérebro… Pelo menos para o meu!

Quando “derramo” imagens em um tela, papel, quadro etc., desafogo o cérebro para que outras imagens, outras ideias etc., surjam, pois um novo espaço foi aberto no “côco” cinzento. Aí acontece o que o físico Linus Pauling respondeu a um estudante que o interpelara, sobre a forma de ter boas ideias. A resposta do sábio homem, ganhador de dois Prêmios Nobel foi a seguinte: “A melhor forma de ter uma boa ideia é ter muitas ideias”. Sigo isso fielmente!

Este artigo sendo escrito (desenhado), minha indispensável base analógica de raciocínio visual A3 e o combustível negro do empreendedor (dentro da xícara): não tem como não sair coisa daí!

O IncaaS sendo desenvolvido na sala Richard Feynman (inPACTA): apesar dos garranchos, todo mundo entendeu quando eu desenhei! A felicidade da galera ao entender os desenhos. Acho que estão rindo porque entender a letra seria muito pior!

Outra coisa que acontece quando faço um desenho é que, “estranha-mente”, pareço estar olhando para mim mesmo, para dentro de minha cabeça, abrindo, portanto, uma forma de me auto-criticar e melhorar a apresentação, artigo, modelo de negócio e por aí vai, pois consigo desvincular-me de mim mesmo e, fazendo isso, “meter o pau” no que foi produzido. Sinistro! E quando você tem ajuda de outros “desenhadores”, a coisa fica ainda melhor, foi assim para conceber a IncaaS e para fazer tantos outros movimentos do xadrez!

E se juntar com um algoritmo, você tem um plano para conquistar o mundo!

Assim, da próxima vez que for debater um ponto, mostrar a uma audiência uma ideia de negócio, solução etc., considere não apenas levar o desenho com você, mas treinar antes e tentar desenhar com a audiência na hora. Garanto que os resultados serão gratificantes!

Viver é desenhar sem CTRL Z. Desenhe bem sua vida e cuide bem de seus rabiscos!

A coluna Empreendedorismo Inovador é atualizada às quartas-feiras. Gostou da coluna? Do assunto? Quer sugerir algum tema? Queremos saber sua opinião. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag #EmpreendedorismoInovador.

Leia a edição anterior: Acorde Neo… Saia da Matriz! Não há mais empregos

Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Gláucio Brandão

4 respostas para “Quer que eu desenhe?”

  1. Márcia Costa Pereira disse:

    No Brasil é preciso explicar, desenhar, depois explicar o desenho e desenhar a explicação.

  2. Gláucio disse:

    Kkkkkkkkkkkk!

    Eu queria ter voltado no tempo pra poder ter escrito isso no artigo!

    Valeu, Márcia!

  3. Gláucio disse:

    Salve Rogério!
    Grande elogio.
    Thanks Friend!

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