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(Helinando Oliveira)
A licença poética é aquele famoso desvio na regra (um erro conssentido) em prol da expressão criativa e artística. Dela decorrem os neologismos, sendo permitidas até violações mais severas de regras gramaticais. E cada área cria para si os seus jargões – como sou fã do futebol tenho de ouvir diariamente falarem de “minutagem” ao se referir ao tempo de um jogador em campo. Ora, minutagem não existe, assim não há voltagem, amperagem e por aí vai. É neste ponto que a licença poética se mistura ao desconhecimento de causa.
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Não confio em um eletricista que troca corrente por amperagem ou tensão por voltagem. São termos técnicos, para eles não existem apelidos ou sinônimos. E assim funciona a ciência, sem licença poética de natureza alguma. Qualquer neologismo que venha a ser confundido com licença poética aplicado à ciência é uma versão da pseudociência tentando usar os créditos do conhecimento científico para se vender algo a alguém menos avisado.
No passado, o encantamento serviu ao magnetismo (com os assentos magnéticos para carros) enquanto que hoje a vez é da cura quântica. Dica: nunca confie em alguém que use o argumento de que “a quântica explica”. A mecânica quântica serve para muitos fins, menos o de explicar coisas. Ela nos conduz a questionamentos diversos sobre um mundo em que não temos o mínimo de conhecimento e vivência. Como ela poderia explicar algo?
Vivemos em um era de muita informação disponível a um clique. Não há sentido em se confundir conceitos distorcidos quando toda a informação pode ser checada em segundos. Perguntei, por desencargo de consciência, a uma IA o que ela sabia de cura quântica. Eis o que ela me disse:
“A eficácia da cura quântica é um tema bastante controverso e, até o momento, não há evidências científicas sólidas que apoiem suas alegações. Muitos especialistas e organizações de saúde consideram a cura quântica como pseudociência, já que suas práticas e princípios não são respaldados por estudos clínicos rigorosos ou pela medicina convencional.
Embora algumas pessoas relatem experiências positivas com técnicas associadas à cura quântica, como meditação ou outras práticas de bem-estar, essas experiências podem ser influenciadas por fatores psicológicos ou emocionais, como o efeito placebo.”
Aliviado com a resposta da IA, chego à conclusão de que embora a pseudociência tenha avançado, há muito mais informação disponível para apoiar a população na internet.
Portanto, sempre que surgir uma notícia muito impactante, faça uma consulta no computador ou celular antes de propagá-la. A ciência evolui pela persistência de um pessoal que está na busca pela verdade das coisas. E a verdade é absoluta até que alguém prove o contrário, seguindo adiante no processo de entender mais sobre a vida, o universo e tudo mais o que nos interessar.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras
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