Duas versões igualmente maléficas à sociedade e que se espalham sub-repticiamente entre muitos públicos em tempos de fake news
Em tempos de fake news, a ciência passa a enfrentar (com muita intensidade) duas algozes inimigas: a anticiência e a pseudociência. Embora ambas tenham origem no mar de ignorância que parece inundar o planeta, há distinções sutis entre elas. A anticiência chega a ser jocosa, por lidar com o desconhecimento humano ao ponto de negar coisas óbvias. Dizer que a terra é plana ou decidir não vacinar os filhos… Acreditar que o homem nunca pisou na lua mas mesmo assim acessar o GPS do celular. Não acreditar na ciência e por isso decidir não tomar antibiótico quando se está doente… São sinais sintomáticos de uma ignorância inexplicável.
No entanto, a irmã gêmea da anticiência (a pseudociência) é muito mais perigosa que ela. Enquanto que a negação pura da ciência é uma constatação óbvia de desconhecimento da evolução humana, o ato de ludibriar é ainda mais maléfico. O problema maior é que a pseudociência usa os jargões da ciência (e também a sua credibilidade) para vender placebos. E o pouco conhecimento das pessoas facilita todo este processo.
Para convencer sobre as propriedades mágicas de um produto, vale todo o arsenal de argumentação pseudocientífica: “Isso foi descoberto dos laboratórios dos Estados Unidos”… Ou uma versão mais profissional: “Isso foi divulgado recentemente em revistas de bom fator de impacto”… Ou até mesmo o argumento padrão: “Einstein e a física quântica garantem”…
E assim, voltam a ser editados todos os “produtos” à base de água magnetizada, pequenas caixas com leds e fontes de ruído que prometem curar todas as dores e problemas.
Desenvolver uma visão crítica do que é oferecido pode e deve ser a solução para esta escalada desenfreada do desconhecido em nossa direção. Abrir um artigo e entendê-lo é algo que deveria ser corriqueiro à grande parte da população.
No entanto, nem nossos estudantes de pós-graduação estão acostumados a acessar os periódicos e ler as novas “manchetes científicas” do dia – todos os dias. Só a imersão em ciência e uma cultura de experimentação na escola (desde a infância) é que permitem com que toda uma população compreenda a diferença de um resultado científico e um produto “pseudocientífico”.
Por via das dúvidas, desconfie de toda e qualquer cura quântica. Como dizem as bulas: “em caso de dúvidas, consulte um médico” Para estes tratamentos, não seria exagero dizer: “em caso de mirabolismos quânticos e curas mágicas, consulte um físico”.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
Excelente esclarecimento, Prof. Helinando!
O pior de tudo é saber que a maior concentração de pseudo e os anti-cientistas se encontra nas universidades, propagando essas “doenças”.
Abs