Para Helinando Oliveira o Estado deve promover ações que permitam o acesso a proteção contra os raios UV pela população pobre
Quem conhece o sertão nordestino pode afirmar que em qualquer época do ano haverá uma chance enorme de encontrar muita luz do sol em um céu totalmente aberto. Este é o paraíso para a geração de energia por usinas fotovoltaicas e pode ser o inferno para quem vive exposto à tamanha radiação ultravioleta. Os índices de câncer de pele entre trabalhadores rurais do semiárido nordestino têm atingido índices alarmantes e o aquecimento global dá sinais claros de que a situação só piorará.
Para proteger nosso povo não há outra solução que não seja a proteção direta e indireta contra a radiação. E neste processo, inevitavelmente, entram os protetores solares. Os raios solares chegam à epiderme (UVB) penetram até a derme (UVA) provocando sérios danos a partir da incidência contínua.
Os filtros solares (de ação química e física) bloqueiam a passagem desta radiação. Em particular, as nanopartículas de dióxido de titânio (que dão o aspecto esbranquiçado ao produto) atuam como uma enorme barreira de espelhos que refletem a luz impedindo que ocorra sua penetração para barreiras mais profundas de nossa pele.
Os filtros químicos, por sua vez, promovem mudanças conformacionais nas moléculas que recebem luz absorvendo assim parte de sua energia, que logo passaria a interagir com nossa pele. A conscientização de todo o povo para o uso contínuo do protetor solar e de roupas adequadas (proteção de braços e cabeça) deve ser uma ação constante contra os efeitos nocivos do sol nosso de cada dia.
Há de se ressaltar, no entanto, um aspecto importante: o custo dos protetores solares. Precisamos lembrar aqui que nosso país retornou ao mapa da pobreza e que muitos brasileiros estão neste momento com a barriga vazia. Crianças frequentam as escolas pela merenda – refeição única de seus dias.
Pedir que estas pessoas paguem por seus protetores solares é inaceitável. É, portanto, dever do Estado fomentar ações de pesquisa que permitam com que farmácias escola por todo o país disponibilizem protetores solares a custo zero para a população de baixa renda. Da mesma forma que os kits de camisinha são distribuídos no carnaval, se faz necessário prover nosso povo de proteção contra os raios UV.
E isso, evidentemente, vai na contramão dos interesses da indústria de cosméticos. Basta visitar uma farmácia e verificar que os preços dos protetores solares são dirigidos à classe média. Ou seja, embora o câncer de pele afete a todos, os custos dos produtos de prevenção tendem a transformá-la em uma doença negligenciada para os pobres. Sendo assim, é fundamental o apoio do governo na reparação desta assimetria. A vida de brasileiros pobres e ricos deve ter a mesma relevância para o país.
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Helinando Oliveira