Nos quatro cantos do planeta, a rotina dos laboratórios de pesquisa foi drasticamente afetada
Para quem estava acostumado à rotina dos laboratórios de pesquisa, que funcionam bem mais que oito horas por dia e que são verdadeiras fábricas de produção de conhecimento, a pandemia foi uma grande ducha de água fria por todo o planeta. De Boston a Juazeiro, de Cusco à Tóquio (entre outras fronteiras) toda a rotina foi drasticamente afetada. Nas áreas experimentais, muitos trabalhos foram descontinuados pela impossibilidade óbvia de estar em contato com a velha e boa bancada de trabalho. Com uma quarentena que já ultrapassou a marca dos 90 dias, foi necessário adaptar a forma de produzir conhecimento para um novo normal que está na saída deste longo túnel de isolamento social.
A forma de produzir ciência neste período de incerteza precisará ser muito efetiva e integrada. Isso significa que a busca por respostas a problemas urgentes à manutenção da vida na terra passará a figurar no centro das ações dos pesquisadores e também no financiamento às suas pesquisas, a partir do claro entendimento de que as colaborações internacionais são extremamente necessárias pra produzir resultados mais sólidos e capilarizados em uma menor escala de tempo possível.
Se o isolamento social serviu para que todos se situassem melhor no estado da arte de seus trabalhos, lessem muito mais artigos, escrevessem muitos artigos de revisão e planejassem a volta, ela também fez com que a rede de contatos pudesse ser expandida pelas lives, troca de experiências, avaliação de artigos, organização de eventos on-line, entre outros.
Se antes era necessário cruzar o oceano para assistir a uma boa conferência com especialistas de sua área, agora tudo está mais acessível e na distância de um clique. Os olhos de todos os cientistas deixaram de mirar os experimentos e experimentos para olhar para as telas de computadores e telefones celulares. Até quando eles aguentarão isso? Não sei. Mas como somos experientes em transformar limões em limonadas, deste processo aproveitaremos a ampliação na rede de colaborações para fazer com que a volta não seja apenas uma retomada. A volta dos pesquisadores aos laboratórios precisa ser o início de uma nova era do processo colaborativo mais focado em problemas transversais e capitais para a espécie humana. Se a pandemia nos ensinou que o planeta é uma pequena aldeia que compartilha vírus (em uma velocidade incrível), precisamos mostrar a ele que podemos fazer o mesmo com a ciência.
Para além de coragem, este novo normal exige ousadia. A pesquisa reinventada e integrada por problemas que só podem ser resolvidos pela união de várias (e diversas) sabedorias.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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