A coluna Ciência Nordestina aborda o tema patente em três eixos: o conceito, o inventor e mercado
Conversaremos nesta e nas próximas duas semanas sobre um tema de extrema relevância para o país: patentes.
Dada a complexidade do assunto, que depende da visão e posição do observador, dividiremos o tema em três partes: o conceito, o inventor e o mercado.
Para contextualizar a primeira parte, partiremos de uma premissa óbvia: não há dinheiro disponível para manutenção da ciência no Brasil. Esta situação leva a uma condição de penúria para os pequenos grupos de pesquisa até chegar aos consolidados.
As invenções (processos e produtos) podem ser as válvulas de escape para essa triste realidade. E não apenas na crise, os royalties de patentes podem suprir a carência e trazer desenvolvimento para o país. Só que para isso é fundamental manter um ciclo em funcionamento: a produção de conhecimento.
As maiores e melhores invenções vêm de grupos de pesquisa que produzem muito conhecimento, pois o desenvolvimento de um processo ou produto é decorrência de investimentos. Eles não surgem da noite para o dia.
A pesquisa aplicada é amparada pela pesquisa básica e juntas suportam o desenvolvimento de novas ideias. Ou seja, na academia, o bom inventor precisa ser o cientista ativo que forma mestres e doutores, que tem boa regularidade de produção científica. Esta é a figura do contínuo produtor de conhecimento.
E o ponto crucial neste processo se refere à distinção entre o conhecimento que é público daquele que não é. Há uma máxima acadêmica que diz: artigo é artigo, patente é patente. A ânsia produtivista por muitas vezes nos leva a acreditar que o ápice do sucesso acadêmico é a publicação. Isto nos leva a publicar tudo o que produzimos. E ao publicarmos (tornamos público), entregamos o fruto de anos de dedicação e investimento público a todos. E com o advento das revistas open access (revista de acesso aberto) até somos levados a pagar para tornar aberto o conteúdo de nossos trabalhos. Neste momento, é importante identificar o que é publicável do que não é. A produção científica dos laboratórios brasileiros é uma fonte de riqueza de nossa nação. E riqueza não se entrega… Muito menos se paga para ser de domínio público. Nossas riquezas precisam ser zeladas, protegidas. E estas riquezas são as soluções de grandes problemas da humanidade que temos condições de resolver.
Para chegar até lá é fundamental ter metodologia e integração de projetos de pesquisa. Estabelecer métodos para atingir a solução de um problema “macro” a partir de subprojetos complementares é uma iniciativa louvável. E isso cria a unidade necessária para que em grupos de pesquisa aconteça a desejada interação e proatividade.
O compartilhamento destas metas “macro” precisa estar claro para todos. Não adianta ser um sonho exclusivo do orientador, afinal a construção coletiva é muito mais eficiente quando todos sonham juntos. E com isso passa a existir o entendimento do porquê das atividades.
As pessoas devem estar juntas para resolver problemas como a crise hídrica, a vacina para a AIDS, a qualidade da água, a educação e etc.
E com isso nossos estudantes passam a entender que o produto da pesquisa não pode e não deve ser apenas uma linha no curriculum Lattes.
Eles passarão a entender que em essência esta é a patente, o fruto de um esforço coletivo, uma ideia protegida que garante o fechamento de um ciclo, promessa maior de retorno do financiamento público ao povo.
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Leia o texto anterior: Pint of Science
Helinando Oliveira
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