Pedro Barros escolheu o jornalismo como caminho para suas jornadas com a ciência. Ele compartilha conosco dicas, reflexões e tendências nesse tipo de comunicação
Se você ouve “eu vou fazer do jornalismo a minha forma de pesquisa”, sem dúvidas sabe que está falando com um jornalista. Se ouve, “eu vou fazer da ciência a minha forma de pesquisa”, sabe que está falando com um cientista. Mas se você ouvir “eu vou fazer da investigação a minha forma de pesquisa”, você saberia com quem está falando?
Apostamos que seria com alguém como Pedro Barros, jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que atua com divulgação científica desde 2011, ano em que entrou na faculdade. A primeira frase do parágrafo anterior realmente foi dita por ele, na condição de palestrante em uma capacitação em jornalismo de CT&I. Mas a última, fabricamos, só para demonstrar melhor o perfil de quem tem a comunicação e a ciência intrinsecamente imbricadas em sua motivações:
“Quando eu fui prestar vestibular, tinha lá, Biologia, Matemática, Química, Física, Meteorologia. Mas eu não podia fazer isso tudo. E porque o jornalista é um pesquisador também, decidi fazer do jornalismo a minha forma de pesquisa”, conta Pedro.
Desde então, ainda se graduando, ele estruturou a primeira assessoria de comunicação do Museu de História Natural da Ufal, que se mantém até hoje; atuou cobrindo diversas áreas científicas como bolsista na assessoria central da mesma universidade; estruturou o projeto de uma revista científica com um jeito tipicamente alagoano e foi voluntário na comunicação da Cruz Vermelha local. Graduou-se no último setembro e, em meio a isso, ainda encontrou um tempinho para ser astrônomo amador junto ao Clube de Astronomia de Maceió (CLAM), onde também atua como diagramador/designer.
#caseinpoint
Geralmente, o que move um divulgador é gostar tanto de ciência que além de estar perto, ele ainda quer contar para todo mundo. Mas tudo começa com a proximidade, e isso nos leva a outro ponto-chave do perfil em questão desde o primeiro parágrafo, aquele tipo de jornalista em quem também habita um cientista:
“A curiosidade. Isso é um ponto essencial do jornalismo científico. Tanto o repórter ser curioso quanto instigar a curiosidade dos leitores. Jornalismo não é apenas escrever bem e falar bem. Isso é essencial, mas o Jornalismo se fundamenta nos fatos, então o jornalista tem que ter curiosidade como uma ferramenta de investigar a realidade”, declara Pedro.
E foi este o mote/motivação que o levou ao protótipo da Curiar. A Revista do curioso alagoano. Em típico alagoanês, “o que é tu tá curiando aí, menino?”, é a frase clássica de mães/pais e vôs/vós para bronquearem alguma bisbilhotice infantil.
A ideia surgiu a Pedro enquanto atuava na assessoria de comunicação da Ufal, onde os textos respondiam a certos limites característicos da comunicação institucional, e precisavam ser publicados num site que não oferecia tantos recursos de imagética, interação e multimídia.
Conviver com essa fixidez gerou algumas inquietações, que, depois de enfrentadas com pesquisa de tendências e cases de sucesso nas revistas e sites de popularização da ciência que ele admirava, foram devidamente postas em prática na edição piloto da Curiar. Mas não sem “antropofagia” e direcionamento próprio. As reflexões sobre a investigação e produto resultante, Pedro Barros divide conosco:
Escrita X Multimídia
Ele começa explicando que um texto muito bom pode se perder numa mídia pouco atrativa. “Para mostrar que aquele mesmo conteúdo pode ser apresentado de uma forma bem diferente, eu criei a Curiar. Peguei uma reportagem e transformei em revista. Claro que eu fiz algumas adaptações no texto, tirei um pouco o viés de assessoria, deixei mais legível. Mas o texto é basicamente o mesmo”.
Trazendo para casa
Aproveitando sua matéria sobre o primeiro trabalho de conclusão de curso na área de robótica feito na UFAL, “fiz o trocadilho entre o robô explorador do planeta Marte, o rover curiosity, com “curiar”. Fiz uma associação, enquanto o formato de revista permitiu que eu pudesse explorar mais recursos. Por exemplo, com a imagem do rover, eu quis criar um box para explicar “o que é isso” e traçar relações entre o que um alagoano está fazendo num laboratório da UFAL e o que os cientistas da Nasa estão fazendo lá em Marte. O que tem a ver uma coisa com a outra? Um outro ponto que eu acho essencial no jornalismo cientifico é saber fazer comparações, pois isso é essencial na figura do mediador que vai traduzir o mesmo conteúdo, a mesma informação, para uma linguagem diferente”.
Recursos
Em suma, o que Pedro Barros sugere para o jornalismo científico de Alagoas – e de quem mais estiver interessado – é ir além do texto, enriquecendo a informação midiática com imagens, boxes, infográficos, comparações, similitudes entre o universal científico ou a pesquisa de ponta e o que está acontecendo localmente:
“Nós precisamos ir além da apuração e explorar os novos recursos que a tecnologia está tornando acessíveis, muitas vezes de forma barata, porque a informação científica é complexa e às vezes difícil de ser passada em linguagem textual. De uma apuração ou entrevista, podemos extrair um monte de informação, que pode ser exposta de diversas maneiras: texto, imagens infográficos, para passarmos essa informação de uma maneira mais acessível, mais clara e também mais atrativa”.
Cooperação + Multimídia
“Se fala que o Jornalismo está em crise, mas vejam que há novas portas, inclusive multidisciplinares. O jornalista agora precisa trabalhar também junto de designers, programadores. Já existem portais de jornalismo que produzem infográficos interativos. É o básico para sair do tradicional”.
Gestão de Conteúdo
“Às vezes, as assessorias e veículos locais estão tão preocupados em produzir, mas não em gerir o conteúdo, por exemplo, torná-lo pesquisável”, reflete ele, que também cita as ciências da informação e a biblioteconomia como ferramentas de seu interesse, abordando coisas práticas como indexação e tags, por exemplo:
Imediatismo Jornalístico X Cumulativo Científico
“Já pararam pra pensar que a notícia que você está fazendo pode servir como uma fonte de pesquisa para um estudante de Ensino Médio hoje ou, daqui a 50 anos, para um historiador? Uma notícia sobre uma doença ou uma inovação tecnológica servem de pesquisa, na era do Google. Temos que ter essa responsabilidade”, aponta, fazendo alusão a uma sociedade que ainda confia na verdade factual da imprensa, e, ousamos acrescentar, ainda mais quando esta toma de empréstimo a presumível autoridade do discurso científico.
Por esse tipo de reflexão sobre coisas básicas, porém tão ao ponto e signifitivas no contexto atual, o Nossa Ciência recomenda que, se você tem interesse nas tendências do jornalismo científico, não deixe de curiar, aqui e ali, o trabalho de Pedro Barros.
A coluna Trilhando a Ciência é atualizada às quartas-feiras. Leia, opine, compartilhe, curta. Use a hashtag #TrilhandoaCiencia Estamos no Facebook (nossaciencia), Instagram (nossaciencia), Twitter (nossaciencia)