Os dilemas de uma época – Parte 1 Coluna do Jucá

quinta-feira, 25 abril 2019

As discussões acerca dos patrocínios das empresas petrolíferas, dos sentimentos nacionalistas, dos desastres ecológicos e das mudanças climáticas em curso

Fundada em 1989, a instituição de caridade educacional Edimburgo Science inspira pessoas de todas as idades e origens a descobrirem o mundo que as cerca. A instituição é mundialmente conhecida por organizar anualmente o Festival de Ciências de Edimburgo, uma espécie de celebração pública da ciência e das tecnologias desenvolvidas no mundo. A edição desse ano ocorreu entre os dias 6 e 21 de abril.

O jornal inglês The Guardian noticiou no começo desse mês, pouco antes do início do evento, que a Edinburgh Science enfrentava protestos de ativistas do clima por ter recebido patrocínio de empresas petrolíferas (Shell, Total, Exxon e Schottisch Oil Club) para organizar o festival em anos anteriores. Por conta disso, a instituição decidiu banir o patrocínio oriundo dessas empresas. O referido banimento gerou muita polêmica e polarizou as discussões em torno do evento, que se encerrou essa semana.

O Festival de Ciência de Edimburgo encerrou nessa semana mais uma edição (Fonte: Google)

Em nota, a instituição disse que se sentia cada vez mais comprometida diante desse imbróglio, uma vez que aceitar patrocínio de empresas de combustíveis fósseis e programar eventos que analisam as principais causas da mudança climática cria uma situação conflitante. E complementou: “Enquanto vemos mudanças acontecendo no setor de petróleo e gás e percebemos que as demandas são complexas, somos da opinião de que o setor não está se movendo rápido o suficiente para atender às metas do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e que há um conflito entre seu comportamento e a ciência subjacente”.

Vale lembrar que o IPCC alertou que ações drásticas e imediatas deveriam ser tomadas com o intuito de reduzir o consumo de combustíveis fósseis, de maneira a evitar que o aquecimento global não eleve a temperatura do planeta mais do que 1,5°C − limite acima do qual as consequências serão catastróficas, segundo os especialistas do IPCC.

A partir desse banimento surgem alguns questionamentos: os referidos patrocínios seriam uma espécie de passaporte educacional, científico e tecnológico para levar a cabo uma transição energética entre as atuais e futuras gerações? Ou seriam, na verdade, uma forma barata e eficaz de melhorar a imagem dessas empresas diante do público em relação às questões climáticas do Planeta? Ou, ainda, uma forma de consolidação de uma espécie de consenso científico sobre as mudanças climáticas em curso? Eu endereço essas questões para os caros leitores.

Referências

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Leia o texto anterior: A desinformação científica como arma política

Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.

Thiago Jucá

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