Colunista faz uma analogia entre o artesão que trabalha e cria no barro e os cientistas que moldam o conhecimento científico
Das parábolas relacionadas à criação, uma das que levam maior carga de significância é a relação entre vaso e oleiro.
O oleiro é o artesão que manipula o barro transformando-o nas mais diferentes peças. E este processo é manual: com ajuda de uma mesa giratória ele molda, monta, desfaz e refaz vasos manipulando o barro. O papel do criador e da criatura não poderiam ser melhor retratados, dada a diversidade de recomeços envolvidos na arte de criar.
E em se tratando deste binômio (criar e modificar) – nenhuma criação é mais humana que a ciência. Estes vasos de conhecimento são constantemente moldados, redesenhados e esculpidos pelas mãos dos mais hábeis artesãos – os cientistas – que permanecem monitorados por seus pares, avaliando seus vasos e usos.
Imagine, por um instante, que seja negado ao oleiro o acesso ao barro. Que outro ofício ele exercerá quando faltar a sua principal matéria prima? E se algum dia voltar às suas mãos, manterá o oleiro a habilidade para construir seus vasos mais finos? A perfeição vem da prática- sabemos disso.
E a perfeição significa fazer vasos que comportem a cura do câncer, da AIDS, a redução das assimetrias, o controle do clima no planeta, a sobrevida em um planeta em destruição…
E neste ponto vale outra reflexão: com vasos tão preciosos e valiosos para um povo, porque privariam o barro das mãos dos oleiros da nação?
Certamente por acreditar que vasos importados são mais baratos que os produzidos por aqui. Que surpresa terão, no entanto, ao tirar os vasos das embalagens e ver que eles vêm vazios! Sem óleo – sem a solução para os problemas que eles deveriam enfrentar.
Quando descobrirem isto, talvez seja tarde demais. Os oleiros jovens terão fugido do país, os mais velhos estarão aposentados… E o barro segue sendo vendido a preço de banana. Afinal, o vaso do vizinho é sempre mais belo do que o nosso.
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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