O universo elétrico – parte 2 Coluna do Jucá

quinta-feira, 8 agosto 2019

Nesse segundo texto sobre eletricidade e eletromagnetismo, o colunista reflete sobre a exposição humana sem precedentes à radiação eletromagnética

Um editorial recente publicado na revista The Lancet Planetary Health adverte-nos quanto à necessidade de dimensionar esse impacto, em especial, no que diz respeito à proliferação global de campos eletromagnéticos artificiais. A exposição crescente à radiação eletromagnética − em especial à radiofrequência, gerada em grande parte pelas tecnologias de comunicação e monitoramento wireless – tem sido apontada por ter efeitos adversos sérios sobre a saúde. Entre os efeitos biológicos estão as alterações no metabolismo cerebral e o estresse oxidativo, com danos ao DNA.

O texto alerta ainda que devido ao aumento exponencial no uso desses dispositivos de comunicação pessoal wireless, os níveis de exposição à radiação eletromagnética de radiofrequência aumentaram de níveis naturais extremamente baixos para cerca de 10¹⁸ vezes. É o aumento mais rápido na exposição ambiental antropogênica desde meados do século XX. Esses níveis ainda tendem a aumentar consideravelmente com a popularização e difusão de tecnologias como a Internet das Coisas e a 5G, que prometem adicionar milhões de transmissores de radiofrequência ao nosso redor.

Exposição diária máxima típica à radiação eletromagnética de radiofreqüência de densidades de fluxo de potência natural e artificial em comparação com as diretrizes de segurança da Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não-Ionizante. The Lancet Planetary Health 2018 2, e512-e514DOI: (10.1016/S2542-5196(18)30221-3)

Parafraseando Rachel Carson, a exposição humana sem precedentes à radiação eletromagnética ocorre, nas últimas duas décadas, desde a concepção até a morte. O texto lembra que a flora e a fauna também não estão imunes aos efeitos dessa radiação e cita como exemplo a redução global de abelhas e outros insetos, que plausivelmente também estaria ligada ao aumento radiação eletromagnética de radiofrequência no meio ambiente. Isso porque as abelhas estão entre as espécies que usam a magnetorecepção para navegação, que é sensível a campos eletromagnéticos antropogênicos.

Por fim, o texto adverte que tem sido amplamente defendido que radiação eletromagnética por radiofreqüência, sendo uma radiação não ionizante, não possuiria fótons com energia suficientes para causar danos ao DNA. O autor informa que isso tem sido provado como um equívoco do ponto de vista experimental, já que a radiofrequência causa danos ao DNA por meio do estresse oxidativo.

Novos tijolos têm sido adicionados e outros, por sua vez, retirados desse edifício inacabado da ciência. A impressionante história desse universo elétrico parece, incrivelmente, inacabada. Será que Faraday concordaria com tudo isso?

Referências:

David Bodanis. Universo Elétrico: a impressionante história da eletricidade. Ed. Record. Pág. 291.

Planetary electromagnetic pollution: it is time to assess its impact. – The Lancet, Vol 2 December 2018.

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Leia o texto anterior: O universo elétrico – parte 1

Thiago Jucá é biólogo, doutor em Bioquímica de Plantas e empregado da Petrobrás.

Thiago Jucá

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