Existe um segundo que de tão especial dividiu toda a história da ciência, o segundo original que disparou um processo sem precedentes para a existência do universo
Um segundo é tão rápido que até falarmos dele, ele já passou. Existe, no entanto, um segundo que de tão especial dividiu toda a história da ciência. Este foi o segundo original (t=0). De forma peculiar, tentamos nos aproximar dele pela esquerda (t=0-) e pela direita (t=0+). No entanto, não é permitido à ciência chegar perto dele por um dos lados, pois nada pode ser provado quando tentamos chegar até lá seguindo pelo vazio que o antecedeu. Isso permite com que façamos uma proposição: imaginemos que antes deste tempo, se seguirmos pela esquerda, exista um observador. Este observador foi aquele que disparou um processo sem precedentes na história do Universo. Quando o tempo t foi exatamente igual a zero, este mesmo observador, com um conjunto de equações debaixo do braço disparou um evento extraordinário, uma explosão de proporções inimagináveis. Para os religiosos, ele fez assim:
“No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.”
Gênesis 1:1-3
Para os cientistas, este observador pode ter gritado “Fiat Lux” ao que se seguiu o Big Bang. No entanto, teriam sido necessários centenas de milhares de anos para que os fótons pudessem viajar livremente. No começo, a densidade de partículas era tão alta que o livre caminho médio entre colisões era muito pequeno. Eles só foram liberados de verdade quando a temperatura do universo baixou o suficiente para que os primeiros átomos fossem criados. Sem empecilhos (elétrons) pelo caminho, a luz inundou a imensidão.
Ambas as interpretações (Big Bang e a Gênesis) podem estar corretas, uns na sua exatidão e outros na sua linguagem figurativa. Afinal, nem só de exatidão se faz o Universo…
Esta explosão aconteceu entre 10 a 20 bilhões de anos atrás. Os quarks, elétrons, neutrinos e suas partículas moviam-se à velocidade próxima da luz. Estava assim criado o espaço-tempo. Em frações de segundo o universo já expandira exponencialmente. Provavelmente a matéria não estava uniformemente distribuída no momento desta grande expansão, fazendo com que em algum momento a gravidade vencesse o crescimento desordenado e as galáxias fossem formadas.
E elas continuam a se expandir até hoje. Quantos mais distantes, mais rápidas estão, conforme observou o telescópio Hubble. E para aqueles que tentam destronar o Observador fundamental, a observação parece ser a confirmação absoluta de que tudo teve um só começo. Lá, naquele tempo t=0, 16 bilhões de anos atrás.
E dentro desta infinitude que viaja rumo ao infinito, estamos todos dentro de um pálido ponto azul.
Da imagem mostrada, um cientista de materiais diria que esta é uma microscopia eletrônica de uma fibra eletrofiada com a presença de uma única nanopartícula de prata. Ledo engano!
Há 28 anos atrás, quando a sonda Voyager estava a 6 bilhões de quilômetros de nós, Carl Sagan pediu à Nasa que voltasse as lentes da sonda para trás e nos fotografasse. Este seria o registro de nosso lugar no Universo.
E a interpretação de Carl Sagan para esta imagem icônica é brilhante:
“A essa distância, a Terra pode não parecer muito interessante. Mas para nós é diferente. Considere novamente esse ponto. É aqui. É o nosso lar. Somos nós. Nele estão todos aqueles que você ama, todos aqueles que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram, todos que já viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, todos os heróis e covardes, cada criador e destruidor de civilizações, cada rei e plebeu, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e cada pai, cada criança esperançosa, cada inventor e cada explorador, cada professor de moralidade, cada político corrupto, cada “superstar”, cada “líder supremo”, cada santo e cada pecador na história da nossa espécie viveu ali — nesse grão de poeira suspenso num raio de sol.”
Sim, o infinito reside no infinitesimal.
A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br). Use a hashtag CiênciaNordestina.
Leia aqui o texto anterior: Mecânica Quântica e Tecnologia
Deixe um comentário