A caatinga como um grandioso laboratório a céu aberto precisa ser preservada e entendida como fonte de solução biotecnológica para todo o planeta
A caatinga é única, um bioma exclusivamente brasileiro que precisa ser olhado por vários ângulos e em diversos momentos. A escassez de água por grande parte do ano confere um aspecto singular à mata branca (significado de caatinga em tupi-guarani) que é formada por uma vegetação de árvores baixas com troncos retorcidos e espinhos, que tornam o gibão uma segunda pele para o vaqueiro nordestino.
Com uma vegetação que perde praticamente todas as folhas para sobreviver à seca, a caatinga ensina ao seu povo o real significado da palavra resiliência, ao armazenar água para suportar a longa estiagem. E assim ela permanece até o primeiro sinal do período de chuvas, quando explodem as folhas em sinal de vitalidade, transformando completamente a imagem da mata como que em uma incrível explosão de vida. E é da beleza da florada da caatinga que surge a esperança no sertão nordestino. E neste bioma tão único, muito da riqueza biotecnológica ainda está por ser explorada sob forma de extratos, óleos essenciais e metabólitos secundários que estão à disposição de uma ciência que chegou recentemente ao sertão.
E esta associação de ciência e caatinga agrega extremo valor à sociedade, dada a diversidade de soluções que este bioma reserva em termos de agentes antibacterianos, fármacos e compostos ainda inexplorados.
Aquele sertão tão sofrido e retratado na década de 80 do século passado pelo chão rachado, com o êxodo do nordestino para o sudeste do país, de fome e de falta de esperança passa agora a exercer outro papel: este agora precisa ser o lugar da ciência e do retorno. Dos troncos retorcidos (que serviam para produção de carvão) agora saem conceitos e inovação. A caatinga como um grandioso laboratório a céu aberto precisa ser preservada e entendida como fonte de solução biotecnológica para todo o planeta. É chegada a hora de fazer retornar o sertanejo, fazer seus filhos mestres e doutores no conhecimento, dar dignidade e esperança para todo um povo. E isso vem apenas das gotas sagradas de uma chuva chamada educação.
Sim, é verdade que vivemos tempos de tristeza e dor, fome e falta de compaixão, ódio e anticiência. A caatinga nos ensinou, no entanto, a resistir. Somos estes galhos retorcidos e espinhosos prontos para explodir em viço na primeira chuva.
Vem chuva, vem…
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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).
Helinando Oliveira
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