O que há de se esperar de um país que zera os investimentos em pesquisa? Ciência Nordestina

terça-feira, 14 junho 2022

Está claro que o Brasil abriu mão de sua capacidade de produzir conhecimento, assumindo definitivamente o papel de uma nação extrativista e escravocrata

O momento atual que vivemos transformou em rotina os cortes em ciência e tecnologia, ao ponto de não sabermos de onde podem mais ser cortados mais recursos.  Está claro que o Brasil abriu mão de sua capacidade de produzir conhecimento, assumindo definitivamente o papel de uma nação extrativista e escravocrata. Com os lucros da exploração das florestas, dos recursos minerais e da água, os ricos de nosso país esperam continuar sendo ricos enquanto o país entra e escancara a desgraça de estar no mapa da fome.

Por vezes a relação entre o fato imediato (fome) e o investimento (ciência) não parece ser tão clara para a população, porém um exercício simples de analogia pode facilitar o entendimento do processo.

A ciência está para as sementes enquanto que a floresta está para a riqueza de um povo. Sem as sementes, as árvores arrancadas para serem vendidas como lenha deixam de existir e o solo fértil e rico transforma-se em um descampado pobre e sem solução. Sem a renovação, a única solução é abandonar o lugar. Certamente os mais ricos terão suas mansões aguardando-os fora do país… Para eles, quando este tempo chegar, nada muda. Há, no entanto, uma quantidade de brasileiros que não podem desistir do Brasil, simplesmente porque a eles é negada esta possibilidade.  E este é o povo que hoje come pés de galinha, restos de ossos e de grãos de feijão quebrados. Amanhã, adivinhe quem puder, o que estará disponível para a comida de seus filhos.

E esta falta de esperança no prato é estendida para a única ferramenta que revoluciona a vida do pobre: a educação.

Sem educação pública, sem ciência e tecnologia está montada a tríade miserável que garante que a vida dos filhos do povo será pior do que as dos seus pais. E por incrível que pareça, esta história faz brilhar os olhos de uma parcela da classe média escravocrata brasileira que ainda reclama do pouco empenho das empregadas domésticas, ou que sentem falta do tempo em que elas dormiam no “quartinho”.

A volta da fome e a destruição da educação pública são condições necessárias para volta da escravidão do povo, da miséria e da fome.

Brasil 2022. É isso o que temos no prato para hoje.

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Leia o texto anterior: Choque de realidade

Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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