O poder da narrativa Ciência Nordestina

terça-feira, 17 junho 2025
Como admitir que em pleno século XXI que crianças morram de fome na faixa de Gaza? (Imagem: mural de Banksy)

Manipulação midiática em conflitos bélicos: como a narrativa dominante molda a opinião pública e perpetua desigualdades

(Helinando Oliveira)

Ao ler a manchete do jornal sobre o ataque “preventivo” de Israel, que deu início ao grande conflito bélico recente vem à mente de imediato o conteúdo do livro Mídia: Propaganda política e manipulação, de Noam Chomsky, que descreve perfeitamente o poder da mídia em tempos de guerra e de organização da opinião pública. É pela escrita dos que vencem que é contada a história ao tempo em que são apagados episódios de dor e luta. Ficam os exemplos do conceito da descoberta para o Brasil e a escassez de conteúdos sobre a batalha de Canudos.

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E neste ponto, a narrativa favorece a construção de costumes e “novos normais”, que mostram muito em comum desde o marxismo-leninismo até a teoria liberal democrática. A concepção de massas de apoio e de uma elite intelectual que implementa suas ideologias é moldada pela mídia e periodicamente afirmada por pesquisas de intenção de voto mesmo fora dos períodos eleitorais.

E este processo é antigo. Já em 1916, a comissão Creel nos Estados Unidos conseguiu reverter por propaganda política uma tendência pacifista da população em uma histeria belicosa em pouco mais de seis meses, viabilizando a entrada do país na grande guerra.

Com o tempo, a capilaridade desta narrativa ideológica migrou das igrejas e mídia convencional (jornais , radio e TV) para as mídias digitais. Com um sistema inteligente de identificação de bolhas ideológicas,  as redes sobrecarregam os grupos com conteúdos, alimentando-os com aquilo que eles mais desejam ouvir.

E segue a consolidação do fundamentalismo que crê em tudo o que é apresentado em sua bolha de conteúdos, sejam eles fake news mais ou menos grosseiras. A diversificação de estratégias de propagação de narrativas vem permitindo com que a opinião pública seja muito mais manipulável do que era por exemplo na segunda guerra mundial.

Como admitir que em pleno século XXI que crianças morram de fome na faixa de Gaza? Como calar diante da fome e miséria que explode no mundo às custas da manutenção de uma elite consumista? Porque continuar um modo de produção que vai extinguir a espécie humana?

Como bem definido por Leonardo Boff: “… Aí se mostra o que também podemos ser: não só sapiens, portadores de amor, empatia, respeito e devoção, mas também demens, odientos, agressivos, cruéis e sem piedade. Este nosso lado sombrio parece dominar a cena social de nosso tempo e também de nosso país.”

Precisamos usar os espaços de divulgação para remar contra a narrativa desta “elite intelectual” que decidiu exterminar a espécie humana, mostrando, por outro lado que o planeta (e todas as suas riquezas) são de todos.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência

A coluna Ciência Nordestina é atualizada às terças-feiras

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