O paradoxo do especialista Disruptiva

quinta-feira, 10 abril 2025

Um novo olhar sobre saber, ignorância e o poder de criar.

(Gláucio Brandão)

Numa Aula Condensada (AC) bem antiga, apresentei o conceito Círculo do Saber Universal. De uma forma coloquial (Atenção: se você é sensível, pule esta parte!), o conceito diz o seguinte: “O Círculo do Saber Universal (CSU) é uma forma brutalmente clara de escancarar a ignorância humana frente ao todo. Matematicamente falando, a equação S + ~S = 1, brilhante por sinal (hehehe), expõe que o que sabemos (S) é quase nada comparado ao que não sabemos (~S), que tende ao infinito. É um convite direto à humildade epistêmica e uma porrada no ego de quem acha que domina algo (…). Todo o saber em uma única expressão!”. (GBB-San – Janeiro de 2021).

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Basicamente, reinterpretei algoritmicamente o “Só sei que nada sei” do filósofo grego Sócrates. E por que vós, iluminado GBB-San, traz este tema à baila? Pois bem, (i) olhando para educação secular – no sentido de ser um modelo centenário –, (ii) utilizando o que “11 entre 10” especialistas vaticinam que Daqui para frente, toda empresa será uma escola e (iii) observando a velocidade com que a tecnologia modifica as informações que achávamos perenes, não dá mais para perseguir essa formação de especialista que a academia (pública e privada) insiste em manter. Estamos forjando mentes cristalizadas numa época em que absorver, compreender, desenvolver e entregar coisas que nos mantenham felizes e sustentáveis exige flexibilidade mental.

Aonde nos leva a especialização

Não é preciso ser versado em nenhuma escola “psico” para compreender que treinar o cérebro para ser especialista hoje em dia nos levará:

  1. Ao foco excessivo, fazendo com que se veja o mundo através das lentes de seu próprio conhecimento profundo, levando ao descarte de abordagens novas ou diferentes.
  2. À confirmação de padrões, quando buscaremos resolver problemas com as mesmas soluções que deram certo no passado, mesmo havendo uma constante mudança de contexto mudou.
  3. À resistência a ideias externas a nós mesmos, ou soluções vindas de outras áreas ou de “não-especialistas” (amadores, por exemplo), as quais serão vistas com ceticismo ou até rejeitadas. Exemplos de solucionadores sem “anel no dedo” que tentam convencer da eficácia de suas propostas e são rejeitados pela academia não faltam. Na verdade, muitos CEOs de big techs mundo afora, inclusive, abandonaram suas respectivas universidades por sentirem-se tolhidos em seus ambientes. Vai entender!
  4. À reduzida abertura ao erro, pois o dito especialista tem uma reputação a zelar, fazendo com que evite arriscar ou experimentar, o que é essencial para inovação.

O paradoxo do especialista

E a letra “C”? Vamos a uma figurinha pra coisa ficar mais didática.

Esse jogo de palavras provavelmente existe, pois é uma construção gramaticalmente lógica. Refiro-me ao fato de que quanto mais uma pessoa se torna especialista em um determinado campo, mais limitada ela pode ficar em sua capacidade de pensar fora da caixa ou considerar soluções não convencionais. Em suma, o especialista, no limite, tenderá a ser um ente hábil em um campo ínfimo. É isso que dá o nome ao paradoxo: estudar focando um único campo terá a capacidade de eliminar nosso poder de criar.

Círculo do Saber e do Criar Universal

Da mesma forma, considere C como a capacidade de criar e ~C seu oposto. No CSU, quanto mais você acha que sabe, menos você cria. E quanto mais você admite que não sabe, mais você é obrigado a criar para sobreviver. Temos que promover nas escolas a ruptura das zonas de conforto cognitivas, a faixa verde da figura, geradas pela paixão por padrões; pelo amor à especialização.

A próxima disrupção

É necessário ensinar à nova geração que não se deve partir do pressuposto de que aprender sobre apenas uma área nos ajudará a ser sustentáveis. Devemos sempre questionar o “S”, já que o maior campo para a inovação está justamente no “~S”. As ideias radicais geralmente nascem da colisão de conhecimentos diversos e da quebra de padrões estabelecidos. Portanto, para sermos criativos “C”, é preciso matar o “especialista satisfeito” dentro de nós para que o “explorador curioso” floresça.

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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autor do livro Triztorming

A coluna Disruptiva é atualizada às quintas-feiras

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