Documentários retratam a personalidades, paixões e hobbies de físic@s do CERN, nos anos que antecederam a descoberta do Bóson de Higgs
Feriados para muitas pessoas são sinônimos de binge-watching, ou seja, ver todos os episódios de seu seriado preferido. Mas, fazendo jus ao tema de trilhar a ciência, o que temos para indicar são dois documentários sobre uma área de pesquisa que conseguiu capturar a curiosidade da cultura pop contemporânea: a Física de partículas.
Ambos se passam em grande parte no CERN, ou na vida de pessoas que trabalham por lá: no grande acelerador de partículas conhecido por LHC (grande colisor de hádrons), local dos experimentos que levaram à descoberta do Bóson de Higgs em julho de 2012 e, na semana passada (21/12/2016), pela primeira vez na história da humanidade, à observação de como a anti-matéria interage com a luz.
Tanto Colliding Particles quanto Particle Fever garantem uma proximidade fascinante com as pessoas e suas motivações de pesquisa. A diferença é que, enquanto o primeiro poderia ser descrito como vlogging extremamente profissional – onde o conteúdo é apresentado nos termos dos próprios cientistas – o segundo tem uma pegada mais cinematográfica e autoral, onde quem lhe conduz por aquele universo é a linha narrativa unificada do narrador/diretor.
Colliding Particles poderia ser descrita como uma minissérie de não ficção em12 capítulos, onde cada um tem um foco específico. O interessante, no entanto, é que a partir de determinando ponto os episódios iam saindo de acordo com o orçamento disponível, de forma que em algum ponto entre o 10º e 11º… o Bóson de Higgs foi descoberto. É uma delícia para quem criou uma conexão pessoal com três físicos britânicos e sua jornada, ao longo dos 10 episódios anteriores.
Neste meio tempo, como moldura para a conversa sobre o Higgs, vemos o tímido Gavin Salam mudando para um novo apartamento em Paris, já que ele precisa de espaço para um bebê, seu primeiro filho. Adam Davidson, o “orientando” da história, em determinado episódio aparece simultaneamente nervoso e radiante: o dia da defesa de seu PhD. Jon Butterworth, decididamente, é o sujeito que concebeu e dá o tom da série, com a naturalidade de qualquer profissional da mídia, tão bom comunicador quanto é cientista. Na Inglaterra, ele é um divulgador científico importante, devido a sua coluna no The Guardian, “Life and Physiscs”.
E é justamente isso que você encontra em Colliding Particles: Vida e Física. Vidas dedicadas à Física, um bocado de calor humano, além de uma cinematografia adorável, criativa e trilha sonora para fazer jus ao trabalho visual. Obra do diretor freelancer Mike Paterson.
Menos lírico e mais didático, Particle Fever ganhou alguns prêmios em festivais de cinema americanos. Similarmente, também foi sido produzido por um físico do CERN com um perfil bem midiático, o americano David Kaplan, e também termina com as esperadas provas experimentais do Higgs sempre apresentadas para o resto do mundo. Tem menos espaço para “poesia” cimática, porém um pouco mais de discussão e contexto.
Os seis cientistas protagonistas são personalidades das mais marcantes, a exemplo de Fabiola Gionotti (foto), que um ano depois seria eleita a nova diretora-geral do CERN e Nima Arkami-Hamed, que alia uma vibe de universitário ao fato de que ocupa o escritório que pertencia a Einstein em Princeton, o que nos dá ideia o suficiente de seu status no mundo da Física Teórica.
O interlúdio sobre pianos e café é imperdível.
Os 12 episódios de Colling Particles estão disponíveis no site collidingparticles.com e no Vimeo. O site apresenta material escrito, em inglês, para professores interessados em usar os vídeos na sala de aula, para cada um dos episódios. Particle Fever está disponível no Youtube e, com legendas em inglês e português, na NetFlix.
A coluna Trilhando a Ciência é atualizada às quartas-feiras. Leia, opine, compartilhe, curta. Use a hashtag #TrilhandoaCiencia Estamos no Facebook (nossaciencia), Instagram (nossaciencia), Twitter (nossaciencia)