A maioria das estrelas aparece com um ponto de luz, imutável e parado no céu. Nada mais enganoso...
As coisas nem sempre são o que parecem. Quase nunca são. Nem mesmo as estrelas do céu fogem a essa regra. A maioria aparece com um ponto de luz que nunca sai do lugar, a menos do movimento da própria Terra, que as faz nascer e se pôr no horizonte. Nada parece mais imutável que as estrelas. Nem mesmo as montanhas são tão tranquilas… Nada mais enganoso.
Quando estudamos as estrelas aprendemos que algumas variam de brilho em apenas alguns dias ou semanas. Outras derrubam a imagem de um ponto de luz solitário e se revelam sistemas estelares complexos.
Vejamos o caso de Capella, a estrela mais brilhante de Auriga, o Cocheiro. Essa constelação é representada por um homem que tem na mão direita um chicote, enquanto a mão esquerda sustenta uma pequena cabra em suas costas: a Capella (cujo nome significa cabrita).
Cabrita
Na mitologia greco-romana, Capella é Amalteia, uma ninfa filha do rei de Creta que cuidou de Júpiter quando ele ainda era bebê e se refugiava da voracidade de seu pai, Saturno, que queria devorá-lo. Segundo outra versão, Capella é a própria cabra que amamentou Júpiter.
A estrela Capella fica a cerca de 42 anos luz do Sol (o ano-luz é uma medida de distância e vale aproximadamente 9,5 trilhões de quilômetros), sendo 150 vezes mais brilhante e 16 vezes maior que o astro-rei do Sistema Solar. Capella é a sexta estrela mais brilhante de todo o firmamento.
Contudo, o ponto de luz de Capella parece querer dizer que vemos apenas uma estrela, o que não é verdade. Capella é somente uma componente de um sistema formado por duas estrelas gigantes e amarelas, que giram uma em torno da outra a uma distância relativamente muito pequena. Por conta disso, apenas os melhores telescópios são capazes de nos contar que Capella, na verdade, são duas estrelas em vez de apenas uma.
Separadas por meros 113 milhões de km (menos do que a distância da Terra ao Sol), elas giram uma em volta da outra percorrendo uma órbita quase circular – que por sua vez é o centro de gravidade de outra estrela, uma tênue anã vermelha bastante distante do sistema principal, mas que também é acompanhada por uma segunda anã vermelha!
Fácil e difícil
Resumindo: Capella é um sistema estelar múltiplo: duas grandes estrelas girando próximas de um centro comum de gravidade e, mais distante, outras duas estrelas bem menores, mas também com um centro de gravidade comum, em órbita das estrelas maiores.
São como dois casais, dois adultos e duas crianças bailando num salão. As crianças de mãos dadas dando voltas em torno dos adultos, que também giram de mãos dadas. Mas nada disso é visível a olho nu (ou com telescópios modestos).
Mas essa simplificação não diz tudo. Vamos contar a verdade: se imaginarmos um modelo em escala reduzida desse sistema, Capella A e Capella B seriam como duas bolas de 33 cm e 18 cm de diâmetro a 3 metros uma da outra. As estrelas menores teriam apenas 1,8 cm de diâmetro cada, mas estariam afastadas entre si 125 metros, e distantes nada menos que 33 quilômetros do par A e B!
Agora sim, explicamos tudo. Nada mal para um astro que parece apenas mais um ponto de luz no céu. É que mesmo lá em cima, as coisas nem sempre são o que parecem. São ainda mais belas.
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Leia o texto anterior: A oposição de Júpiter
José Roberto de Vasconcelos Costa
Vi em um artigo seu, que entre Capela A e Capela B existe um “espaço habitável”. De onde você tirou essa informação.
– A tribuna de Santos de 06.08.2007 – Caderno de Ciências